Capítulo 3 - "Por que você é tão você?"

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* Crack - Crack *

O som de pedrinhas sendo jogadas contra o gramado esverdeado adentro da floresta de Moors era evidente, pedrinhas essas chutadas por um corvo ranzinza e resmungão.
Xingava baixinho, ainda irritado por pouco depois de Malévola e ele terem saído do ninho, ela o dispensou indiferente após ambos tocarem o chão. De brinde ainda o deixou na forma de homem.
A razão de ter sido dispensado? Bem simples. Aquele maldito frango - como apelidou Borra em sua cabeça - havia chamado Malévola justamente no momento que Diaval e sua ama tomariam o desjejum juntos.

O encarou com desdém, como havia feito nas poucas vezes que seus olhos se encontraram. E sinceramente, Diaval não fazia questão alguma de observar Borra. Mas quando percebia que este às vezes encarava demais sua senhora, o dava nos nervos. Se irritava mais ainda quando Malévola o dispensava para ficar à sós com Borra.
Por outro lado, sentia-se mal por querer a fada somente para si. Ela tinha outras tarefas agora, tarefas esta que com certeza não envolviam dar atenção somente à ele.

Ele suspirou ao perceber que agora, como reencarnação de Fênix, muitos de sua espécie cobiçariam Malévola. Ainda era muito recente e ele não estava preparado para dividir ela com alguém que não fosse Aurora. Mas uma hora teria que o fazer, ele sabia disso, Malévola tinha um coração amargurado mas ela não ficaria sozinha para sempre. Ela teria um futuro com uma família mais estruturada, e não seria com ele.

- Tsc. Que droga. Por que você tinha que ser tão... Você? - Resmungou o moreno, repetidas vezes, suspirando. As árvores de Moors ouviam seus pensamentos e seu coração. Era realmente doloroso não poder consolá-lo.

Diaval seguiu um caminho sem rumo. O ocorrido fora pela manhã, e agora, já estava escurecendo. Ele passou a tarde vagando pela floresta, comendo pequenas frutas, até dormindo sob árvores. Indignado, pois até então, Malévola não havia o convocado.
Ele sentia a brisa se intensificar a agitar seus cabelos negros e bagunçados, o que significava que haveria uma abertura maior entre as árvores em breve. Poderia ser um campo, ou talvez ele estivesse próximo das cavernas.

Mas o que seus olhos encontraram fez seu coração errar as batidas. - Se é que ele ainda teve uma, depois disso.

Os últimos raios solares refletiam sob as penas negras, molhadas, cintilantes. Seu corpo inteiro gelou ou deparar-se com uma Malévola banhando-se em uma cachoeira tingida de bioluminescência.
A água que recaía sob sua pele pálida parecia desenhada de galáxias, enquanto escorriam por suas curvas alvas, desvendando seu corpo.

Diaval antes de perceber, já havia se escondido em uma das árvores. Suando frio. Ele estaria encrencado de mil formas caso a fada colocasse os olhos âmbar sobre ele.
Mas a visão era bela demais para que Diaval não encarasse. Mesmo que levasse um dos mais severos castigos em seguida. Ele queria, muito, muito mesmo desviar o olhar em respeito à sua senhora, mas pelo visto além de poderosas as Fênix podiam hipnotizar alguns seres. - Ou, somente Malévola e seus encantos.

A mulher estava de costas, e suas asas longas agitavam-se suavemente com arrepios causados pelo choque de seu corpo molhado com a brisa gélida. Diaval não podia olhar nada mais que suas costas, pois a água cobria até os quadris de Malévola. Ela parecia calma enquanto deslizava os dedos pelos fios castanhos e desalinhados, enquanto pequenas gotas errantes de água ousavam decair sob as curvas delineadas da cintura da mulher.

O homem-corvo sentia o ar se esvair de seus pulmões cada vez mais a cada gesto gracioso de Malévola. Sua elegância o tirava o foco, a forma como ela se movia parecia seu maior devaneio, a mais doce fragrância, o mais sutil toque.

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