Apenas algumas horas de caminhada e os dois já estavam na entrada da floresta.
- Então, porque decidiu fugir do exército aquela noite, há 10 anos? - Perguntou Aidan enquanto os dois caminhavam.
- Não concordava com aquele rei de merda, é uma pena que ele não esteja morto. E você, porque ficou?
- Não tinha mais para onde ir, apenas fiquei.
- Me fodi depois que fugi, passei fome nos becos da cidade, mas ganhei a vida como ladrão e fazendo alguns bicos por aí.
- Bicos? Virou assassino de aluguel?
- Exatamente, minhas habilidades só servem para isso.
- Tenho que concordar.
Os dois foram surpreendidos por uma horda de lobos que aparentemente fazia tempo que não se alimentavam, a batalha não demorou muito, Aidan nem se esforçou, apenas girou a espada algumas vezes e todos eles caíram mortos, despedaçados pela espada do brutamontes.
- Aonde aprendeu a lutar desse jeito? - Perguntou Markus guardando as adagas.
- Aprendi sozinho.
- Não é atoa que se tornou general naquela merda.
Os dois prosseguiram o caminho até chegar no lago no centro da floresta.
- É aqui? - Perguntou Aidan.
- Sim.
- Como atraímos ela?
- Boa pergunta, mas se bem me lembro, ouvi dizer que há uma caverna embaixo do lago, onde a serpente repousa.
- Então me deseje boa sorte - Aidan retirou sua camisa e qualquer objeto que fizesse peso, deixando apenas sua espada.
Aidan mergulhou no lago, a água negra e fria faria qualquer um pensar duas vezes antes de entrar, mas Aidan era destemido, um friozinho apenas não seria o suficiente para fazer ele voltar atrás de sua palavra. A água era densa, difícil de enxergar, a cada vez que ia mais fundo a pressão restringia seus movimentos, tornando mais difícil o seu progresso. Com a pouca visão que tinha, identificou uma estreita entrada, decidiu entrar ali. Aidan tinha que passar por ali, forçou sua entrada e sofreu alguns cortes com as pequenas pedras pontiagudas. Nadou mais alguns metros até emergir em uma caverna. Sentiu uma respiração pesada em sua frente, o lugar estava escuro e decidiu permanecer parado até seu olhar se acostumar com a escuridão. Aos poucos começou a enxergar, e se deparou com a enorme serpente repousando em seu covil, bem em sua frente. Aidan ficou parado analisando o ambiente, e não estava nada favorável a ele, saiu da água lentamente sem fazer muito barulho, nunca havia lutado com uma serpente marinha antes, seu objetivo era encontrar uma fraqueza, um passo em falso e sua vida não estaria mais no plano material.
Aidan empunhou sua espada, tentando fazer o mínimo de barulho possível. A agarrou com as duas mãos e mirou na cabeça da serpente. Um golpe firme, forte e certeiro, isso seria o suficiente, um erro, e pagaria com a vida. Aidan ergueu sua espada e desferiu o corte que deveria ser fatal. Deveria. A espada sequer arranhou a pele da besta. A serpente despertou com um grito agonizante e identificando o inimigo. Aidan só pensou em encontrar um ponto fraco enquanto desviava das mordidas fatais da serpente. Percebeu que perfurar a pele seria inútil. A criatura avançou com suas presas, Aidan tentou desferir um golpe na boca, mas sem sucesso, acertou um olho da serpente, um bom golpe. O monstro ficou furioso, seu inimigo já o irritava. Aidan se preparou mais mais uma investida do monstro, agora mais brutal. Tentou desferir outro golpe, mas a espada quebrou ao meio ao bater no crânio da serpente, a espada que o acompanhou em tantas batalhas, sua companheira de anos, agora dividida em dois. Aidan sentiu um calafrio percorrendo seu corpo, desprovido de uma arma digna de um guerreiro como ele. Mas assim o destino seguiu, e era com meia espada que Aidan precisava acabar com a luta. A criatura avançou, tentando agarrar Aidan com suas presas mortais, o brutamontes tentava desferir golpes na boca da serpente, o único lugar vulnerável daquele monstro envolvido em um couro impenetrável. A serpente se distraiu por um momento, desferiu outro golpe na órbita ocular dilacerada, mas uma investida do monstro fez Aidan cair de costas no chão, sua espada escorregou da mão com conta de todo o sangue, caindo na água. Se recuperou rápido e ficou de pé, se desviou de outra investida da criatura, que devolveu um soco no outro olho intacto, fazendo-a ficar atortoada por alguns segundos, aquela era a chance. Aidan avançou, usando sua força, abriu a boca da criatura se deparando com inúmeros dentes pontiagudos. Sem sua espada, o guerreiro arrancou um dos dentes maiores da serpente que tinha o tamanho do seu antebraço, aquilo teria de servir. Aproveitando esse momento, Aidan cravou o dente no maxilar da serpente, o que perfurou seu cérebro. Antes de morrer, a criatura se debateu por alguns instantes, até permanecer imóvel. Aidan se sentou no chão de pedra, aliviado que conseguiu vencer a luta mesmo em desvantagem. Depois de alguns minutos de descanso, começou a se perguntar como sairia dali carregando o corpo da serpente. Ele mergulhou e procurou outra saída, aquela outra passagem estreita não serviria, teria de haver outra que a serpente usasse quando viva. Passou-se alguns minutos, e já sem esperanças, Aidan encontrou uma passagem maior. O guerreiro voltou e com sua força, pôs o cadáver do monstro em suas costas, não era tão pesado como imaginou, mas poderia ser um problema nadar até a superfície com a densidade da água. Mergulhou novamente e foi até a passagem. O túnel era grande, Aidan sentiu certa dificuldade em nadar, mas com sucesso emergiu, porém quase sem fôlego. Carregando a serpente, Aidan saiu da água e percebeu que saiu do outro lado do lago quando avistou Markus. Aidan andou até ele dando a volta no lago.
- Já estava perdendo as esperanças de que sairia vivo.
- Seu desejo quase se tornou realidade.
- Vejo que isso custou sua espada.
- E quase custou minha vida.
- Vamos voltar, só que primeiro temos que retirar a pele e os dentes dessa coisa.
- Boa ideia, se chegarmos com esse monstro nas costas vamos chamar muita atenção.
Markus deu uma adaga para Aidan, os dois retiraram toda a pele e dentes da criatura e colocaram em uma bolsa, logo voltaram a cidade, indo direto ao ferreiro.
- Vocês voltaram, achei que morreriam tentando enfrentar a serpente.
- Quase isso - Disse Markus colocando a bolsa com todo o material no balcão - Aí está.
- Ótimo, amanhã de manhã ficará pronto.
- Se eu puder ajudar em algo - Aidan se prontificou.
- Se assim desejar.
Markus saiu e foi dar uma volta pela cidade, Aidan e o ferreiro ficaram horas e horas forjando a armadura, Aidan se impressionou com as habilidades que o ferreiro possuía, mesmo sem a visão. A noite passou e os equipamentos ficaram prontos pela manhã. A espada em um tom negro, a empunhadura era grande, apta para ser usada com as duas mãos. A lâmina tinha por volta de um metro, era larga e fina, excelente para decapitar os inimigos. A armadura também negra, Aidan a testou de diversas formas, era impenetrável. O brutamontes a vestiu, aparentava ser uma vestimenta de couro normal, porém flexível, Aidan tinha uma boa movimentação com ela. Enfim, era o que o ex-general desejava, estava extremamente ansioso para usá-la contra os orcs que derrubaram seu amado reino. O transe de Aidan foi quebrado pela porta se abrindo.
- Terminaram o trabalho? - Disse Markus entrando e fechando a porta.
- Sim, pronto para ir a capital - Aidan respondeu guardando a espada numa bainha também produzida pelo ferreiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Arauto Do Caos
FantasiAcompanhamos a trajetória de Aidan, um general que durante uma guerra, desertou, para ele a vitória estava distante e para se salvar, fugiu até o fogo da guerra não lhe alcançar mais. Mas o destino cruzou seu caminho com Ayla, uma sacerdotisa mister...