LIAR

Capítulo 07 - Paranoid

Capitulo 07 – Liar
Por: Starblues

“Tenho suas mãos no fundo da minha alma.
E quanto mais eu te mostro, mais eu tenho medo.
Que você vai acordar.
E perceber que não sou aquele que você pensou que eu era.”
–  Paranoid /LAUV

   
     — Any, vai chamar seu pai para jantar. – ouvi minha mãe gritar do andar debaixo. Estava no meu quarto brincando com o senhor e a senhora cabeça de batata, ambos estavam sendo meus únicos amigos desde que havíamos nos mudado para Idaho.
  
    — Já vou, mamãe. – gritei em empolgação. Eu amava a hora do jantar com o papai, ele era simplesmente o melhor piadista de todos e me fazia rir tanto que mamãe sempre acabava reclamando da minha risada escandalosa. Segundo ela, eu me esquecia de comer e ficava perplexa em tudo que papai dizia.

     Andei até o quarto dos meus pais cantarolando uma música que havia escutado num comercial qualquer, ela havia grudado na minha cabeça e eu simplesmente não conseguia deixar de cantar ou pensar nela. Era uma melodia bem grudenta.
   
     — Papai, a mamãe tá chamando pra jantar. - avisei já abrindo a porta.

     Ele estava deitado – talvez estivesse dormindo, era o que eu acreditava. Com cuidado subi na cama para tentar acorda-lo com cócegas como sempre fazia, mas quando não senti reação alguma de sua parte percebi que havia algo errado acontecendo ali, algo muito errado.

           — Pai, não tem graça essa brincadeira. – aquilo já estava começando a me deixar preocupada. Ele não se moveu nem quando eu fiz cócegas com muita rapidez, continuava parado no mesmo lugar.

        — MÃE, ACONTECEU ALGO COM O PAPAI. – aquela altura eu já estava com lágrimas nos olhos e meu corpo inteiro tremia.
 
    Não demorou muito para que minha mãe chegasse ao quarto, assim como eu, ela foi até papai, mas ao contrário da minha, a reação dela foi instantânea. Nunca havia visto alguém em total desespero como vi naquele dia, e só havia aquilo nos olhos dela.

    — Mãe, o que está acontecendo? – olhava atônita para a cena a minha frente sem acreditar no que estava se passando.  — Mãe, por que o papai não quer acordar?

      Minha mente tentava assimilar tudo na procura de alguma resposta plausível, mas tudo parecia turvo e confuso na minha cabeça, a gritaria da minha mãe aos poucos foi se silenciando, meus olhos estavam fixos nos compridos derramados no chão e mais que tudo, em meu pai ali deitado sem fazer qualquer movimento. Parado como quando brincávamos de estátua no jardim, mas ao contrário de quando éramos crianças, ele não se mexia dando gargalhas, ele apenas estava parado como se de fato houvesse se transformando em uma. Foi naquele momento que me dei conta de que papai nunca mais iria contar piadas no jantar novamente.

     Acordei suada e com os fios grudando na minha testa. A sensação de perda sempre me invadia por completo quando eu tinha aquele pesadelo. Era tão real; os meus pensamentos, a confusão e o sentimento de perda. Eu me lembrava bem dele. Era como se toda vez que eu sonhasse com aquele dia eu o estivesse revivendo e eu odiava me lembrar. Tateei por entre minhas cobertas na procura do meu celular e não me surpreendendo em nada ao ver que ainda era cedo demais para estar acordada, sem muito o que fazer abri o Instagram rapidamente para dar uma breve conferida no feed.

    A primeira foto que surge é uma de Sina e eu como melhor amiga fui prontamente para enaltecer, entretanto, assim que abro os comentários alguns em particular chamam minha atenção. Havia muitos comentários na foto, Sina era muito seguida em seu Instagram apesar de não uma influencer propriamente dita, mas muita gente gostava das fotos dela e da sua maneira divertida nos storys fazendo receitas, ela não tinha vergonha de aparecer e eu a admirava muito naquele aspecto, já eu, para postar uma simples foto era um processo bem complicado. Atentei-me aos comentários feitos por homens, todos eles haviam sido respondidos de forma grosseira por um usuário que eu conhecia bem. Richard. Ele também comentou: “inacreditável” acompanhado de emojis de raiva num comentário próprio.