A coruja-correio

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Por Gisinha Winchester.

Raccoon City, Estados Unidos, 11 anos antes.

Era uma bela manhã de domingo. Uma bela e preguiçosa manhã de domingo. As pessoas estavam aproveitando essa manhã linda, ensolarada e perfeita para várias coisas, desde passear com o cachorro, por o lixo pra fora, até lavar a roupa, mas também liam o jornal semanal, bastante entretidos. As crianças aproveitavam o dia para brincar no único parque arborizado da cidade, com árvores frondosas e cheias dos mais deliciosos frutos, os brinquedos novos em folha extremamente convidativos, fazendo com que perdessem a hora do almoço, o começo quente de tarde não espantando aquelas pequenas e doces criaturas que tiravam agora o máximo proveito para preencher o máximo do seu tempo com todas as brincadeiras e gaiatices que não poderiam fazer durante a semana, quando deviam se dividir entre a escola e as demais responsabilidades em casa.

Enquanto isso ocorria, uma bela e gorda coruja das torres entrou sem cerimônia em uma das muitas casas da cidade, uma pequena mansão em estilo vitoriano, onde uma senhora de cabelos castanhos e olhos verdes suaves como o amanhecer começou a gritar, atraindo a atenção do marido, um homem corpulento de grandes e redondos olhos azuis, a aparência atarracada assustadora logo dissipada pelo olhar confuso do homem, que na vizinhança era conhecido como a tranquilidade em pessoa. Ele ainda encarava sem entender o que ocorria, quando a mulher, ainda gritando histérica, apontou para o animal, uma pequena carta no bico, muito comportada no parapeito da janela. O animal olhou entediado para o casal a sua frente (isso era mesmo possível?), enquanto esperava que alguém se dignasse a pegar a carta endereçada a alguém da casa.

Entre paciente e irritado por tamanho exagero, o pobre homem dirigiu-se até a gorda coruja, pegando a carta, rasgando o envelope calmamente enquanto lia o destinatário, o rosto ficando lívido ao fazer isso. Essa reação fez a mulher parar de gritar, descendo da cadeira onde estava empoleirada, provavelmente esperando que seu marido fosse um cavalheiro e pegasse a vassoura para espantar a ave.

O marido mostrou o envelope rasgado à esposa, que leu o destinatário, o rosto ficando vermelho feito tomate, enquanto ele lia a carta, que descobriram ser endereçada à única menina da casa, sua garotinha, que havia acabado de completar 11 anos de idade. Enquanto a coruja esperava, piando de impaciência – sim, o animal acabara de demonstrar impaciência! – o casal discutia, desesperado a situação. Longe de ficarem tranquilos, seus piores temores haviam se confirmado. Descobriram o paradeiro da menina. E agora?

- O que vamos fazer, Eddie? – a mulher perguntou, branca de susto.

O marido coçou a cabeça, sem saber o que fazer.

- Não sei, querida, temos que conversar... – ele hesitou ao ver a coruja, batendo as asas, já irritada. – essa coisa vai ficar aí, será?

- Ela não irá embora até alguém responder. – ela bufou. Para piorar a situação ainda mais, duas crianças, uma delas a garota em questão, uma menina de longos cabelos ruivos e pele de porcelana, uma cópia infante da mãe, entrou correndo em casa, as sardas salpicando o rostinho redondo, acompanhada do irmão, um rapazinho de 16 anos, que tentava de tudo para segurar o entusiasmo da irmã.

- Você prometeu! – a menina dizia, emburrada.

- Espera aí...! – o irmão tentava em vão acalmar a garota.

Os pais olhavam confusos para os dois filhos.

- O que está acontecendo? – o pai tentava apaziguar a discussão.

A garotinha cruzava os braços, zangada.

- O Chris prometeu me levar para o cinema para assistir Mortal Kombat, ele prometeu!

- Mas não hoje! – o garoto tentava se desvencilhar da menina como podia. – Pai!

O pai das crianças se pôs entre ambos, tentando apartar uma briga que com certeza estouraria.

- Por favor, agora não, crianças. – e olhando de volta para a esposa, conduziu-os para as escadas. – Agora vão pra cima, está bem?

Os dois irmãos subiram, contrafeitos, arrastando os pés. Sozinhos de novo na cozinha, iluminada pelo sol intenso do meio-dia, os armários de madeira contrastando com o mármore das bancada e da grande ilha onde os alimentos estavam espalhados, o almoço em andamento, o homem agora olhava chocado a esposa colocar uma folha de caderno modesta dobrada em quatro dentro de um envelope, onde escrevia o endereço da escola. Assim que terminou de selar a carta, usando a própria saliva (Eca!), a mesma era depositada no bico da coruja, que imediatamente levantou voo, deixando ambos marido e esposa sozinhos, e agora mais desamparados que nunca. A mulher simplesmente desabou na cadeira mais próxima quando viu o marido encará-la, estupefato.

- Tudo bem, eles vão perceber que cometeram um engano...

Ele franziu a testa, irritado.

- Você acha mesmo que aqueles esquisitos realmente se enganam?

A pobre coitada agora olhava para uma foto na porta da geladeira, sua garotinha aprendendo a andar de bicicleta, os olhinhos verdes apertados, as sardas ainda mais evidentes, ela devia ter uns oito anos, na época. A mãe suspirou, angustiada.

- Sim, farão isso se souberem que foi uma mãe preocupada que disse isso.

Os dois ficaram conversando por vários minutos até, que voltando lentamente ao normal, os pais chamaram seus filhos para almoçar, a rotina da família aos poucos recuperando parte da tranquilidade daquela manhã.

Enquanto isso, a mesma menina, que agora descansava da farta refeição em casa, estava quieta no quarto, o pequeno shitsu da família sendo agitado no ar, latidos eufóricos, a menina também dando várias risadas junto com o cão.

Só uma única curiosidade: a menina não usava as mãos... Mas mesmo assim, o cão levitava. E tudo isso sendo observado por um adolescente pálido feito fantasma.

Harry Potter e a feiticeira de ouroOnde histórias criam vida. Descubra agora