Por Gisinha Lima
Las Vegas, Nevada, dois dias antes.
Um Toyota azul circulava pela cidade, o trânsito caótico deixando pouca margem para manobras. Enquanto o homem no volante, que não devia ter mais que uns vinte e cinco anos, procurava uma vaga para estacionar, a irmã no banco do carona, os olhos verde-claro, fixos nas ruas, o sol escaldante das dez da manhã obrigando-os a se apertarem, protegendo as retinas da claridade, observava tudo, entre nervosa e agitada. Os dois tinham compromissos, adiados devido à palidez repentina da jovem que desmaiara do nada, o rosto mortiço apavorando o irmão e a namorada, que prontamente ligou para a emergência. Os dois agora voltavam pra casa, ainda sem entender o que havia acontecido. Os exames clínicos não acusaram nada e a saúde da jovem era impecavelmente bem cuidada.
Ao estacionar, o rapaz apenas virou-se, a expressão séria, encarando a jovem. Ela ficou apavorada, o clique do cinto de segurança sendo ignorado ao ver o irmão encarando-a daquele jeito.
- Sei que nunca mais conversamos... então... – ele começou, tentando parecer tranquilo, falhando miseravelmente ao ver a moça apavorada. – Você está grávida?
A jovem o encarou, piscando confusa por alguns instantes, até que uma risada vinda das profundezas assustou o rapaz.
- Tá brincando, né? – ela ainda ria. – Sabe que o médico teria dito isso, não é, Chris?
Chris Redfield vacilou ao ver a irmã rir.
- Nem sempre dá pra confiar em médicos, você sabe.
A jovem suspirou, os ombros murchando.
- Eu sei. – ela disse, tristonha. – Bem que eu queria... quer dizer... desde a Ilha Rockfort eu quis isso...
- Sente saudade, não é?
As lágrimas rolavam grossas no rosto da jovem.
- Eu o amava tanto... – a moça soluçava no banco do carona. – eu fui tão burra...
- Vocês tinham que sobreviver, não tinham tempo pra isso... – foi quando o rapaz estacou, pálido. – Espera aí! Vocês...?
- Não achou mesmo que só estávamos sobrevivendo, não é?
Chris olhava entristecido para a irmã chorosa, que agora saía do carro se arrastando até o prédio de apartamentos onde moravam, o elevador finalmente chegando ao quarto andar, um corredor sóbrio e elegante, com cinco portas marrons, a porta no fim desse se abrindo para uma jovem demasiado pálida que agora entrava no próprio quarto, as lágrimas molhando completamente o travesseiro, enquanto o irmão estava pateticamente parado em frente à porta do quarto da jovem, ainda decidindo se batia ou não, preferindo deixar a moça sozinha. Quando estivesse pronta, falaria com ele.
Enquanto isso, no quarto, a jovem dormia profundamente, o choro levando-a a exaustão, um fio dourado lentamente se espalhava no travesseiro, o brilho se espalhando por todo o recinto...
******
O sol escaldante fazia o quarto do hotel-cassino onde os três amigos se hospedaram parecer uma fornalha em plena atividade. Hermione ainda se abanava com um leque japonês, os ombros e a camiseta azul que usava ensopadas de suor, quando Harry e um Rony queimado de sol adentravam o quarto, as sardas do rapaz ainda mais aparentes que nunca.
Desabando em uma poltrona próxima, Harry ignorou o desconforto da amiga, erguendo um Motorola pequeno, abrindo o flip e mostrando uma foto meio tremida para a garota. O rapaz não cabia em si de contente, até as reclamações de Rony não o incomodavam perto de tamanho entusiasmo.
- Consegui, - ele sorria, os olhos quase sumindo nos óculos, remendados mais vezes com fita adesiva que se podia contar. – Descobri onde ela mora!
A garota mal conseguia disfarçar o azedume.
- Três vivas para Harry! – ela rosnou, aborrecida. – Parabéns, qual o próximo passo agora? Bater na porta dela e pedir gentilmente que nos deixe entrar?! E depois? Acha que ela vai nos ajudar, Harry? Ninguém no seu juízo perfeito ajudaria!
- Aí é que tá. – depois de cinco garrafas de água mineral de 500 ml, Rony conseguiu descansar o suficiente para voltar a falar. – Ela não deve estar no juízo perfeito, acabou de acordar, lembra?
Hermione voltou a encarar o amigo, agora confuso. Se lembrava bem da história que Dumbledore contou, agora que as cartas da mãe e algumas lembranças infantis voltaram à tona, mas ainda assim estava inseguro. Hermione podia ter razão. Que argumentos convenceriam uma jovem cuja luta não lhe dizia respeito a ajudar? E se ela aceitasse, ele não deveria deixa-la ciente dos riscos?
O rapaz levantou da poltrona, um profundo suspiro.
- Eu preciso fazer isso, Hermione, a busca pelas horcruxes...
- Harry, eu sei. – ela também suspirou, agora cabisbaixa. – Só fico preocupada de dar tudo errado de novo. Você lembra? O Ministério? Godric's Hollow? E se isso também for um beco sem saída? Você está confiando em fábulas que ouviu quando bebê e que nem lembrava até agora. A gente pode se dar mal de novo, Harry.
Harry encarou os amigos por um segundo. Eles tinham razão, mas quando foi que qualquer dos planos deles deu certo até ali? Isso podia ser muito desesperado, mas tinha que tentar.
- Eu vou, e como disse em Salt Lake, se não quiserem vir, vou entender.
Apesar de suado e extremamente cansado, Rony se levantou da cama onde estava sentado.
- Vamos com você. – os olhos de Hermione se arregalaram. – Nem vem, Mione, sabe que ele vai fazer isso, quer a gente ajude ou não.
A garota abriu a boca, mas optou por ficar em silêncio outra vez, pegando a bolsinha que usara durante a jornada deles, agora na mesinha de cabeceira, ao lado de um abajur simples.
- Está bem, vamos com você. – a garota amarrou a cara para o amigo. – Mas se algo der errado, a culpa é toda sua.
Rony deu uma risadinha.
- Olha pelo lado bom, você não vai receber um berrador depois.
A garota ficou furiosa ao ver os dois rirem.
- Cala a boca, Ronald, isso não tem graça! – ela ficou ainda mais aborrecida. – Parem de rir vocês dois!
Os dois ainda riam muito quando o trio deixou o hotel-cassino, pegando um táxi que os levou até um bairro decadente no centro de Las Vegas.
*******
Chris Redfield levou uma bandeja com um prato de bolo de laranja e café com leite, esperando que a irmã estivesse acordada e de bom humor. Depois da conversa daquela manhã, a jovem ficou realmente mal, apesar de rir da possibilidade de o irmão vir a ser tio precocemente. A fim de evitar surpresas, o rapaz colocou a bandeja no chão ao lado da porta e a abriu de mansinho, espiando dentro do quarto, esperando ver a irmã acordada, quando algo quase feriu seus olhos. Os cabelos da irmã, ruivos até algumas horas atrás, agora estavam espalhados pelo travesseiros, longos e completamente dourados, realçando ainda mais suas sardas.
O rapaz agora caiu no chão, estupefato, um grito rasgando a tarde quente e seca da cidade do pecado.
Fim
Não permita a morte de duendes, fadas e unicórnios. Incentive o trabalho do escritor!
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Harry Potter e a feiticeira de ouro
Fiksi PenggemarUma lenda há muito contada durante a infância de Harry agora pode ser sua única esperança na árdua batalha que viria contra Aquele-que-não-deve-ser-nomeado