Capítulo 1

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Me ajeito na poltrona em que estava deitada fazendo o livro cair do meu colo.

-Você é bem estranha, além disso baba mais que o naldo -o diabrete, quer dizer o Pedro fala me fazendo voltar de vez para a realidade

-O que está fazendo no meu quarto Pedro?

-Minha mãe mandou eu vir te acordar, ela falou assim rumrum -ele faz um barulho com a garganta se preparando para a imitação- “Pedro, vai lá em cima chamar aquela garotinha inútil e preguiçosa, ela acha o que? que está de férias em algum hotel 5 estrelas? Pois ele devia era se ajoelhar aos meus pés e agradecer por eu ter permitido uma imunda que nem ela permanecer no mesmo teto que eu e minha família” – fala tudo usando uma voz fina e enjoada, exatamente a voz da Cruella, ou também conhecida por Marina.

-Eu já vou seu pirralho, agora sai do meu quarto -faço que vou correr atrás dele o fazendo sair correndo e gritando, menino doido, olho para a estantezinha que tem do lado da minha cama e onde fica o despertador- DROGA!

Já são 8:15, acordei muito tarde, deve ser por isso que a outra está carcarejando tanto, tenho que parar de ficar até tarde lendo, até pesadelo eu tive, mas pelo que estava lendo faria mais sentido se fosse um leão e não um lobo, ah tanto faz. Tenho que me arrumar logo, antes que a Cruella venha em carne e osso, mais osso que carne. Ela parece a Petunia Dursley, e o Ricardo marido dela é a cara e a barriga do Vernon Dursley. Pensando bem a minha vida é bem parecida com a do Harry Potter, tirando que eu não durmo embaixo da escada e a Marina e o Ricardo não são meus tios. Ah e claro eu ainda não recebi a minha carta de Hogwarts, ainda.

Tomo um banho rápido porque já estou mais que atrasada e escovo os dentes, faço minhas higienes e me troco, coloquei uma calça jeans folgada e uma blusa de algodão preta porque hoje eu estou básica. Pego meu celular em cima da cama e saio encontrando a escada que dá acesso a sótão que é onde eu durmo e aproveito para trancar a porta do quarto, nunca se sabe. Desço as escadas já ouvindo a voz irritantemente fina da Bianca falando ao celular.

-Ai nossa, essa festa vai ser inesquecível, e todo mundo vai estar lá -nessa hora ela me olha pela primeira vez e sorri cínica- quer dizer, QUASE todo mundo, até porque tem pessoas que só servem para lavar pratos, hahahaha...

Eu a deixo para trás rindo com sei lá quem, reviro os olhos, é sério que ela tentou me ofender só porque sei e lavo pratos, querida se uma pessoa não lava prato, para mim, isso é um desvio de caráter, ela por exemplo. Ando em direção a cozinha sentindo o meu estomago roncando de fome, nem lembro a última vez que eu comi.

-Bom dia dona Elena -saúdo a única pessoa boa e sã naquele hospício que eu, infelizmente, moro.

-Bom dia aninha -ela me responde com um sorriso acolhedor, como sempre- perdeu a hora foi minha filha?

-É dono Elena eu sei, acho que foi porque fui dormir um pouco tarde ontem a noite, estava sem sono e fiquei lendo um livro ai...

-Ai perdeu o horário hoje – ela fala interrompendo minha explicação- mas menina você tem que ficar mais atenta, você sabe como a dona Marina é

-Uma mal-amada -a interrompo também- olha dona Elena, com todo respeito, mas aquela lá está precisando é namorar, mais acho que nem o porco do Ricardo aguenta mais a megera...

-Menina você perdeu a cabeça de vez foi? -ela fala com voz de repreensão- se a dona Marina escuta uma coisa dessas, você vai perder é a língua.

-Ahhh dona Elena eu cansei de tentar ser cordial com essa mulher, antes eu tinha que me esforçar porque precisava de um lugar pra morar, mas agora eu tenho dezoito anos e se Deus quiser em breve estarei muito longe daqui -falo pensando na minha inscrição para faculdade que fiz a duas semanas, e se eu passar, não, eu tenho que passar porque essa é minha única chance de ser livre- e depois ela nunca vem aqui na cozinha, só fica gritando eu ou a senhora para preparar suas refeições.

-Mesmo assim é melhor não procurar confusão, já está acabando mesmo, então por que não passar esse tempo final aqui em paz? -ela fala séria e depois dá aquele sorriso acolhedor que só ela tem.

-Ta bom, mas só porque te amo -falo fazendo seu sorriso aumentar de tamanho, mas logo depois ele se desfaz dando lugar a um olhar triste -o que foi dona Elena porque a senhora está triste?

-Ah não é nada menina, é só que eu não sei o que vou fazer sem você, vou sentir sua falta só isso -ela fala limpando uma lagrima que desce pela sua bochecha.

-Não fala assim dona Elena, senão eu choro, e eu não quero assustar a senhora com a minha cara feia de choro -ela da uma risadinha me deixando feliz- eu também vou morrer de saudade da senhora.

-Imagina -ela balança uma mão no ar, como se não fosse nada- quando estiver na faculdade com seus amigos, nem vai se lembrar de mim -ela diz fazendo drama.

-Para com isso, a senhora sabe que se eu pudesse levava a senhora comigo -falo com sinceridade, porque eu queria poder tirá-la daqui também.

Antes dela responder o naldo entra rebolando aquele traseiro gordo dele, ele se senta perto dos meus pés e me olha, logo depois solta um latido, que mais parece um ronco, até pra latir esse cachorro tem preguiça.

-O que que foi em seu gordo, se comer mais vai sair rolando -falo com ele que só faz virar a cabeça pro lado e me encarar como quem diz “e você acha que eu puxei a quem?”.

-Ele deve estar apertado -dona Elena fala chamando minha atenção.

-Como assim ninguém levou ele para fazer as necessidades? -ela balança a cabeça negando- mas será que todo mundo nessa família é tão inútil?

-Olha como você fala da minha família sua orfãzinha de esgoto -a miss sequelada da Bianca fala entrando na cozinha.

-Prefiro ser órfã do que ser filha Cruella, você sabe que ela é você daqui a uns anos, ou seja, meus pêsames fofinha -falo a deixando vermelha de raiva.

Nem espero ela responder e saiu pegando o naldo no colo, tadinho da minha rolhinha de poço, a mamãe vai cuidar de você meu bebê. Saiu pela porta dos fundos e solto o naldo para fazer suas necessidades, enquanto isso vou até a caixa do correio para ver se tem algo para mim. E quando abro encontro umas faturas, contas de cartão de crédito, blá blá blá.

-Opa! Pera isso o que eu estou pensando? -falo vendo uma carta com o nome da universidade de Stanford- AI. MEU. DEUS. Eu não acredito chegou, finalmente -AAAAAAAAAA grito mentalmente porque não quero chamar a atenção dos vizinhos fofoqueiros, mas que não deu muito certo porque pela dancinha louca que estou fazendo eles já devem estar chamando a polícia.

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