Capítulo 2

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Corro de volta para casa encontrando o naldo no meio do caminho. E então subo direto para meu quarto/sótão com a carta em uma mão e o meu cachorro na outra. Destranco a porta e entro trancado logo em seguida, paro para respirar porque esqueci que era sedentária e subi a escada correndo.

-Cama Ana Julia, respira, inspira... ai gente eu vou ter um treco -paro para respirar de novo encarando a carta, eu poderia esperar um pouco, sabe, pra fazer uma suspense, mas sou ansiosa de mais para isso.

Rasgo o envelope da carta com as mãos tremendo, a abro e não perco tempo lendo, e já saio procurando a palavrinha magica (obrigada? Não), aprovada, APROVADA!

-AI. MEU. DEUS. Eu consegui, eu estou livre! -começo a chorar de alegria, gratidão e nervosismo.

Eu esperei tanto por isso, passei uma vida inteira sendo humilhada e desprezada por todos nessa família, com exceção da dona Elena é claro, mas agora eu não preciso mais aturar isso. Essa carta significa que finalmente eu vou poder viver a minha vida sem ter que fazer de tudo o que aquela megera da Marina quer, e nem poder me defender de seus maus tratos ou de suas surras. Agora eu posso reconstruir a minha vida e construir o meu futuro em uma das melhores universidades do mundo. Só Deus sabe o quando batalhei por isso, trabalho desde os meus 13 anos para juntar dinheiro, além de ser a empregada particular da Marina, só que para isso eu não ganho nada. Também estudei que nem uma condenada, mas se esse era o preço da minha liberdade, valeu a pena!

Vou até o meu armário e troco de roupa, coloco um short jeans claro, um cropped preto de manga curta e uma jaqueta jeans. Pego meu celular, umas moedas e a minha chave, e desço para ir a lan house que tem na outra rua. Mas como felicidade de pobre dura pouco, acabo encontrando a última pessoa que gostaria de ver hoje, Marina.

-Onde você pensa que vai sua ridícula? -ela fala como sempre carinhosa.

-Vou sair.

-E você acha o que? Que é a dona da casa? Que você pode acordar a hora que você que quiser e sair quando bem entender? -ela pergunta, mas mesmo eu sabendo que é retorica respondo.

-Na verdade se eu fosse a dona da casa, eu já teria tirado o lixo pra fora faz tempo -respondo debochada, e ela me olha sem entender, anta, aff nem vale a pena ser debochada se a pessoa é burra de mais pra entender.

-Olha aqui garota vo... – a interrompo antes que ela comece a ladainha dela, de que vai me mandar para um orfanato, e que ninguém vai me querer e eu vou morar na rua, blá blá blá.

Já sei, vai ameaçar me expulsar de casa de novo -digo sem interesse- pois poupe o seu e o meu tempo, porque eu estou indo embora -ela me encara com um olhar descrente- é isso mesmo acabei de receber a minha carta de aceitação da faculdade e estou indo comprar minha passagem de avião para a Califórnia, e nunca mais ter que olhar para sua cara. -termino tudo deixando-a com um olhar agora perplexo.

-Mentira, você é burra de mais para ser aceita em uma universidade, ainda mais no exterior. -ela fala com uma certeza que quase dou risada.

-Querida eu acho que você está me confundindo com a sua filhinha, aquela ali até os quatorze escrevia mãe com ‘i’ e pai com ‘e’ -falo debochada, a deixando ainda mais irritada.

-Mesmo assim, -ih não negou, porque é verdade, a Bianca é a garota mais burra que eu conheço- você não tem dinheiro para pagar uma passagem para os Estados Unidos.

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