Bom, mas quem sou eu pra dizer? Eu nunca soube andar de bicicleta.
Só que eu era muito boa em dar estrelinha. Um dia desses a minha irmã me pediu pra ensinar ela a dar uma estrelinha (por motivos que eu ignoro), e eu me senti bastante insegura. Será que eu ainda sei dar estrelinha?, pensei, e bateu aquele medinho de se jogar de cabeça no chão, os pés no ar, e simplesmente aterrizar com graça do outro lado.
Mas, bem, eu queria impressionar a minha irmã. E eu sou muito orgulhosa.
Então lá fui eu, depois de dez anos de abstinência, dar a minha primeira estrelinha outra vez. Talvez não tenha sido tão cheia de graça como antigamente, mas deu certo. Saiu, de alguma forma.
E aí eu saí dando várias outras.
Mas escrever é algo muito menos instintivo, ainda que não pareça. Pensa-se que quem escreve bem continuará a sempre escrever bem. Não acho que seja o caso.
Eu passei por momentos difíceis nos últimos meses. Me afastei de muitos dos meus amigos, dos meus deveres, dos meus interesses, da internet e, infelizmente, da escrita.
E sempre que eu passo muito tempo sem escrever uma trava de segurança parece se ativar no meu cérebro. É como se um sinal de aviso me dissesse que, sem a prática, sem a confiança que só é conquistada com a prática, eu simplesmente não sou mais tão boa o suficiente. Que é preciso recomeçar a exercitar a escrita, talvez não do zero, mas que é impossível simplesmente retomar de onde a gente parou.
É frustrante, não vou negar. Porque por mais que eu queira, a travinha maldita está ali pra me impedir e, claro, nada vai parecer bom o suficiente comparado às coisas que eu escrevi antes. Textos que, às vezes, nem eu mesma acredito que escrevi.
Me sinto impotente, mas acho que é assim mesmo. Acho que não tem cura. Escrever não é como dar estrelinhas ou andar de bicicleta, mas mais comparável à prática de algum exercício físico. Ou algum esporte, talvez.
Mas sei lá, chega de tentar comparar.
Texto publicado em 08/03/2019
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Quimera Literária
RandomEm teoria, uma mistureba de ficção e realidade, anedotas, reflexões, devaneios e desabafos com zero compromisso com a coerência. Na prática, um arquivo para reunir meus textos espalhados pela internet.