SIX

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Entrelaço minhas mãos em meu colo. Eu não sei o que vai ser de mim e como isso vai funcionar. A cada explicação de Oliver, me sinto ainda mais confusa, como um loop pelas mesmas perguntas. Mesmo não o observando diretamente, os olhos de Ícaro inflamam como chamas em minha direção. Há um toque de sensualidade e mistério, há um quê de desejo e sensação, como se observasse o vale de seu onírico e o mar da sensatez.

—Serão três semanas de treinamento intenso até a primeira apresentação. Eu sei que o tempo está curto e bem próximo, mas, acredito que o potencial de vocês não é medido por segundos e nem dias, mas sim pela capacidade artística presente em vocês. –Oliver diz e senta na cadeira gélida. —Eu já preparei uma coreografia para a primeira etapa, não vai ser fácil, mas, vocês vão conseguir.

—E como eu irei aprender os princípios do balé? –Questiono a dúvida que mais paira em minha mente.

—Como eu já disse, Ícaro irá te ensinar cada fundamento. Serão longas e intermináveis semanas de treino. E além das aulas de balé, a coreografia não vai ser uma tarefa fácil. Deverão confiar um no outro, como se fossem um casal. –Ele diz, e apoia o cotovelo em seu joelho. Seus olhos brilham de encanto e empolgação. —Dançar em dueto não vai ser simples. A base de tudo isso é a confiança e o empenho. Se conseguirem conciliar tudo isso que eu acabei de explicar, a chance de ganhar será praticamente triplicada.

Assinto e massageio a pele sensível de meus tornozelos. Eu ainda nem terminei de me recuperar de uma lesão, e já vou ter que me acostumar com todas as regras estritas do balé. Realmente não vai ser uma tarefa fácil.

—Oliver, eu sei que você acredita muito no nosso potencial. Mas, como irei ensinar balé avançado à ela em apenas três semanas? É praticamente impossível. –Ícaro diz e se levanta. O collant traça os músculos de seu peitoral. —E além disso, não temos compatibilidade corpórea.

—O que significa isso? –Pergunto.

—Jade, apesar de você ter um corpo bonito e ser muito atraente. –Sua voz soa ainda mais rouca, há um calor excitante em suas íris negras. — Não tem como dançarmos balé juntos, sua altura é quase a metade da minha! –Diz e aponta para a minha estatura.

Levanto e caminho em sua direção. Não acredito que ele está desprezando os meus um metro e cinquenta e oito de altura. Eu sei que não sou alta o suficiente, mas isso jamais irá medir a minha capacidade de realizar o que quero. Se meu objetivo agora é dançar balé, é isso que farei, nada irá me impedir.

—Não exagere, Ícaro. Eu sei que minha altura não é a adequada para o padrão de vocês, bailarinos. Mas, o que realmente importa é a beleza da dança, e não o manual rígido que vocês seguem. Minha altura não vai alterar nada na coreografia. –Digo e o fito com intensidade. Ele é muito alto, mas mesmo assim, não me sinto intimidada.

Ícaro franze às suas sobrancelhas, seus lábios se entreabrem e sua face se torna ainda mais deslumbrante aos meus olhos.

—Eu não quis dizer isso. Estava tentando apenas ressaltar uma diferença acentuada entre nós dois. –Diz. Há um toque de ironia em suas íris. Seus olhos me analisam de cima a baixo.

—Uma coisa que é totalmente insignificante. –Ressalto e mantenho o olhar. Não pisco, cruzo os braços e estico o meu pescoço.

—Não é totalmente insignificante. É uma característica que pode nos atrapalhar ao executar certos passos. –Ícaro diz e cruza os braços, ressaltando o contorno de seus antebraços e a beleza de suas mãos grandes.

Aproximo os meus passos de sua estatura. Olho raivosamente para o seu rosto perfeito, e para o desenho acentuado de seu maxilar. Ele é o próprio mistério, mas não é capaz de fazer com que eu ceda. Parece que somos antônimos que correspondem em uma outra realidade.

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