Revelações-5

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   Após ouvir essa história eu fiz uma interrogação com um olhar para aquela estranha mulher, e ela apontou para Kassandra e para a porta da taverna com um aceno de cabeça. Eu me levantei e comecei a levar uma sonolenta Kassandra de volta para casa. Chegando lá, a deixei em seu quarto.

- Boa noite Kass, que os deuses abençoem seus sonhos -falei, enquanto deitava-a na cama. Seus cabelos dourados emoldurando seu rosto, já dormindo.

Saí de e me voltei em direção à taverna seguindo em direção ao fraco fio de fumaça que saia da lareira da mesma. Parei no meio do caminho, um calafrio percorrendo meu corpo. Me virei para o lado deparando-me com um par de olhos roxos brilhando na escuridão entre duas casas. Comecei a recuar assustado para longe dali, mas o brilho então desapareceu e a estranha mulher saiu das sombras:

- Eu posso te ajudar a controlar a besta, se me ouvir...-suas palavras saíram na mesma voz tranquila de quando contou as histórias, mas seu tom sério dizia que ela não estava inventando coisas.

- O que quer dizer com isso? O que sabe sobre mim? -indaguei.

- Venha comigo que eu te explico quando estivermos em um local mais discreto, pode ser? -dessa vez mais impaciente. Encarei-a por um instante tentando escolher entre respostas ou segurança...

- Okay, mas você vai na frente, não confio em você com esses olhos brilhantes atrás de mim. -Decidi segui-la e descobrir o que foi aquela história, como ela sabe sobre lobisomens e porque ela acha que sou um.

- Bom, você é mais sensato do que eu esperava, isso é realmente bom. Pode salvar sua vida algum dia. Agora vamos, filhote de lobo -um sorriso de zombaria lhe escapou enquanto liderava o caminho. Isso que me deixou um tanto irritado, mas fui atrás dela, pra onde quer que estivesse me levando. São muitas perguntas na minha mente, e o risco é grande, pois eu desconfiava que ela também fosse como eu, mas ela ainda não tentou me matar, então vale a pena o risco, espero.

A misteriosa mulher continuou me levando por entre trilhas pela mata, como se sempre tivesse vivido por ali e conhecesse o local como a palma de sua mão. Finalmente paramos em uma clareira na floresta, que me era um pouco familiar, mas eu não lembrava porque. Curioso e assustado, adentrei a clareira com ela, um turbilhão de perguntas se formando a cada passo que eu dava. Ela se virou para mim e se apresentou:

- Bom, finalmente podemos nos apresentar devidamente. Meu nome é Kathryn, e só pra começo de conversa eu não estou morta -ela disse isso como se fosse a coisa mais normal para se dizer ao conhecer alguém.

- É claro que você não está morta! Eu não sou idiota, por que eu acharia que você est...- Minha voz aos poucos foi diminuindo de volume quando a compreensão do que ela tinha acabado de dizer atingiu minha mente, e as peças das respostas para algumas de minhas perguntas começaram a se encaixar- Você... você é a Kathryn daquela história não é? Você foi mordida, não morta... Então é verdade a história sobre lobisomens? Você se transformou? E sou como você? Foi você quem me transformou??!

- Uou, uou, uou cara, espera um pouco, paciência. Eu vou te explicar tudo, mas você podia pelo menos ser educado e se apresentar também, que tal? Ou quer que eu continue a te chamar de filhote de lobo por acaso? Você só teve a sua primeira transformação completa dias atrás então combina com você. -ela terminou dando uma leve gargalhada com um sorriso agradável.

- Meu nome é Benjamin Ifeza, e definitivamente não é pra me chamar de filhote de lobo, ok? Agora posso saber o que diabos você quer comigo, por que me transformou nisso, e o que aquele amuleto tem a ver com todo esse negócio de lobisomem?

- É melhor se sentar, e espero que não fique desconfortável sentado no frio de uma clareira porque a explicação vai demorar um pouco... - nos sentamos perto de uma rocha ali do lado e eu então entendi porque esse lugar me era familiar; a pedra ao meu lado portava o mesmo símbolo que brilhou em verde na noite em que fui atacado. Engoli em seco ao perceber que estava no último lugar que eu queria estar, o local em que vi aqueles olhos amarelos e cruéis pela primeira vez. Cautelosamente me coloquei a ouvir o que ela tinha a contar com uma atenção como se minha vida dependesse disso.

- Bom, começando do início, sim, eu sou a mesma Kathryn daquela história, mas me chame de Margaret na frente dos outros, ok? Não quero que qualquer um por aí saiba quem eu sou realmente -eu arqueei as sobrancelhas ao ouvir isso.- Você não conta, tá? Você é um lobisomem como eu, e eu sei que você não é um dos malignos.

- Por que acha isso? Eu poderia muito bem te matar aqui nesse momento, agora que descobri o que você é.

Kathryn gargalhou novamente, achando graça do que eu disse

- Se você já sabe o que eu sou, deveria saber que não é tão fácil de me matar, mas valeu a tentativa. Quase fez você parecer mais ousado, quase. Bom, eu sei que você não é maligno porque você é como o Michael era, você tem uma família que te ama e você os ama, você tem uma noiva e vai se casar em alguns dias... mas eu lhe aconselho a se afastar deles até você aprender a controlar a besta dentro de você, se quiser mantê-los seguros. -seu olhar indicava que ela falava com seriedade, mas como poderia deixar minha família numa situação dessas?- Olha, depois do Michael me morder, eu notei as mudanças e parti da minha antiga vida antes que machucasse alguém. O pessoal de lá acha que estou morta e é melhor dessa forma. Eu era uma druida e após alguns anos sozinha na floresta eu aprendi a controlar o meu lobo interior através da lua e da natureza. A partir dali eu saí em busca de outros como eu para tentar ajudá-los. Isso foi há quase dois meses atrás e aproximadamente um mês eu finalmente senti a presença de outro lobisomem por perto. Um cheiro forte de morte rodeava as suas marcações de território. Foi ele que te mordeu Benjamin.

- Quem é ele, e o que houve com ele? O vilarejo não teve mais indícios de ataques no último mês.

- Quer meu palpite? Ele foi para outra vila ou cidade depois da última Lua cheia. Agora que dois outros lobisomens estão por aqui ele não quer se arriscar, ainda mais porque ele também parece selvagem como você e deve ter notado que eu consigo controlar a transformação. Agora, o que eu pretendo fazer é ensinar você a também controlar seu lobo interior. Isso se você quiser minha ajuda, claro -seus olhos brilharam roxos enquanto ela estendia a mão. Eu hesitei por um instante, mas apertei sua mão enquanto ela sorria. Aqui nossos caminhos se uniram, e eu começaria minha busca pelo controle da fera.

- Muito bem então Kathryn, mas como diabos que eu vou explicar essa história louca pra minha família?

Lobo da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora