Amém

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Pov's Irene

— ....Amém! – Dei um sorriso fraco ao ouvir a palavra que eu mais amava vindo de meu pai.

Se está se perguntando o porquê de eu amar tanto essa simples palavra,é porque sempre que ela é proferida significa que meu pai finalmente irá acabar seu culto.

Não é como se eu odeie igrejas ou algo do tipo!Antes que pense isso,eu irei explicar um pouco sobre minha pouca felicidade quando os cultos acabam..

Meu pai,o tão clamado "Senhor Bae" é um pastor bastante famoso nessa cidade,à cada culto que ele faz mais pessoas visitam sua igreja tanto por ela ser famosa,quanto por recomendações,e também,claro para verem qual é a tão "família perfeita" que aqui habita,resumida em mim,minha mãe e meu pai.

Uma família simples como pode ver, não?Apenas um homem,uma mulher e uma filha,nada de diferente.

Todas as pessoas que vêem meu pai,acham que ele é um homem bastante digno e gentil a todo o momento.

E isso é algo que eu peço à Deus todos os dias para que algum dia se torne verdade.

Mal sabem eles que em casa,ele é um preconceituoso machista.

Eu e minha mãe não podemos simplesmente mudar seu jeito de pensar,porque até mesmo meu avô era dessa forma e foi por causa dele que meu pai é o homem que é hoje.

"O homem deve trabalhar,enquanto a mulher deve ser a dona da casa." Algo que eu ouço muitas vezes vindo do mais velho.

Me dá nos nervos todas as vezes que ele nos diminui dessa forma,e eu sempre vejo a decepção estampada no rosto da minha mãe.

Enfim,acredita que até mesmo com ela,ele é um preconceituoso?

Apenas por ela ser bissexual!!

Para mim,isso não tem problema algum!Então porque deveria ser algo tão inaceitável para ele,à ponto de comparar isso à um pecado?

Bem..Isso é um pequeno resumo do tanto de coisas que eu vivo em meu dia a dia.

Perdoe-me se foi entediante ou algo do tipo,mas é sempre bom desabafar,não?

— Amém!! – Os "irmãos" gritaram em resposta deixando meu pai com um sorriso no rosto.

— Tenham uma boa noite,irmãos!Que possamos nos ver outra vez esta semana! – Falou acenando para o tanto de gente que já se retirava do estabelecimento.

Senti minha mãe segurar minha mão,fazendo eu olhá-la rapidamente vendo ela indicar a última pessoa que sobrou no lugar que já estava prestes a colocar o pé para o lado de fora.

Sempre que minha mãe faz isso,significa "Prepare-se".

E quando não sobrou ninguém na igreja,meu pai se virou para nós e suspirou.

— Céus,eu estou cansado.. – Bufou — Quando chegarmos em casa você faz o jantar. – Falou autoritária para minha mãe que assentiu abaixando sua cabeça.

Mas eu estava revoltada com aquilo,por um motivo óbvio.

— E o senhor vai fazer o quê?Assistir televisão enquanto ela está dando duro para agradar você,e ainda sendo obrigada à isso? – Perguntei indignada,e o mais velho me encarou irritado.

Uma vez,ele bateu na minha mãe pela mesma ter se recusado à fazer o jantar,mesmo que a mesma tivesse dito com todas as palavras que estava sentindo uma dor bastante incômoda em seu abdômen.

Como dissemos,ela estava "naqueles dias",e meu pai,como o homem que não sabe o que uma mulher sente em um período tempestuoso como esse,apenas disse que não se importava com dor alguma e logo depois disse que ele é quem deveria estar reclamando de dores,ao invés dela.

Constatando que naquele dia,eu havia apenas nove anos,e ele ainda bateu nela na minha frente propositalmente.

Lembro-me como se fosse ontem,quando ele proferiu tais palavras:

"Minha filha,nunca desobedeça seu marido no futuro!O homem é o 'cabeça' da família e a mulher é apenas um complemento para a reprodução..Vê sua mãe?O que ela faz além de cuidar de você e preparar a comida?Exato,ela não faz nada além disso..E eu fico o dia todo naquela igreja mudando a mente medíocre e idiota daquelas pessoas que tendem a aceitar que um homem fique com outro homem,ou uma mulher fique com uma mulher..Aprenda,Joohyun,isso é errado!Deus fez a mulher para o homem!E quem desobedece as ordens do Senhor é um pecador!O pior deles!"

No dia,eu realmente não estava entendendo nada do que ele estava falando,mas minha cabecinha de criança estava se sentindo abalada pela imagem do mais velho estapeando o rosto da minha mãe,e a mesma fazendo várias expressões que demonstravam sua dor.

No fim do dia,quando ele já havia ido dormir,minha mãe havia saído do quarto e se pôs a chorar e eu,fiquei do seu lado até que adormecêssemos juntas tentando passar para ela silenciosamente uma mensagem que eu estaria com ela,onde quer que fosse e em qualquer momento.

Hoje em dia,eu tenho dezoito anos,perto de fazer dezenove,já tenho minha personalidade formada e sou uma mulher madura.

E jamais deixarei que ele faça minha mãe chorar outra vez.

Como diz os crentes "devemos amar à todos!" Mas quem são eles para falar isso,se não conseguem respeitar um casal gay,ou lésbico?

Para mim,eu não me importo,não é como se eu repreender dizendo "Isso é errado!Você vai para o inferno!" Fosse fazê-los se separar,ou mudar algo na minha vida.

Amor é Amor.

Independente do gênero,cor ou religião.

Se nem as pessoas que confiam nas palavras de Deus compreendem o real significado dessa palavra, então como será o mundo mais para frente se continuarem com a mente fechada dessa forma?

Se continuarmos decaindo dessa forma,eu não duvidarei que o humano foi,realmente o pior ser vivo criado em todo o universo.

— O que você disse,Irene? – Perguntou em um tom firme.

— O senhor é surdo?Eu espero que não,pois não vou repetir absolutamente nada. – Rosnei,porém quando minha mãe me tirou de perto dele minha expressão mudou totalmente.

— Olhe o respeito quando for falar comigo,mocinha.

— Quem é você para falar de respeito,se não respeita nem sua própria esposa!? – Perguntei em um tom mais alto.

— Filha,por favor,chega.. – Minha mãe pediu baixinho.

— Eu prefiro sair daquela casa à viver com um machista que tenta me forçar à ficar aos pés de um homem como ele. – Rosnei e ele cerrou os punhos.

— Estamos na casa de Deus,minha filha..Aqui,devemos ser pacíficos e compreensivos.. – Falou e eu senti meu sangue ferver.

— Na casa de Deus!?Claro,não é?Só aqui você é o anjo,porque em casa você é só mais um hipócrita nessa sociedade mentirosa! – Gritei e ele respirou fundo.

— Não vou brigar com você,Irene..Me recuso à ferir você.

— Você já me fere todos os dias quando trata minha mãe como um objeto que tem a obrigação de fazer tudo perfeitamente pra você..E ainda querendo me mostrar que é desse exato jeito que eu deveria ser com um marido que eu nunca vou ter! – Rosnei e desci do pequeno palco onde estávamos dando as costas para ele — E não se preocupe!Eu sei o caminho de casa!Posso muito bem ir sozinha,sem precisar de alguém para me levar. – Provoquei antes de sair da igreja, deixando-os sozinhos.













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