Capítulo 41 - Eu prometo!

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    30/11/2018 - 11 meses e 20 dias para chegada do frio.

    Thomas corria pelas ruas da cidade, puxando Silêncio por uma das mãos. Enquanto corriam, eles não trocaram nenhuma palavra, ele sabia para onde ir, e ela parecia confiar nele.

    Correram sem muita pressa, ele queria chegar logo, mas ela não conseguia acompanhar o ritmo do garoto. Estava exausta a pobre garota, e Thomas, estava com um sorriso no rosto.

- É aqui. - Ele nem se quer estava ofegante. Já a garota, apoiou a mãos nos joelhos, enquanto recuperava o fôlego.

    O lugar era grande, mas um edifício abandonado a anos. A pintura era branca, mas estava muito gasta. O mato alto, tomava conta do lugar. As janelas e portas, estavam todas quebradas.

    Ele novamente segurou a mão da garota, e seguiu terreno adentro. Abriu um portão pequeno, que fez um leve rangido, atravessaram todo o terreno, até chegar ao fundo.

    No fundo do lugar, havia um pequeno parque para crianças, com um balanço feito por uma corda e um pneu, uma roda enorme, que girava ao entorno de si, uma gangorra, um escorregador, e mais alguns outros, sem condições de uso. Ambos os brinquedos, enferrujados e podres.

- Me trouxe até aqui por quê? - indagou a garota.

    Thomas se sentou no brinquedo que girava, a garota sentou ao seu lado. Eles não estavam preocupados com a possível sujeira de ferrugem que ficaria em suas roupas. Ele olhou para ela, bem no fundo de seus olhos, ela fez o mesmo, mantiveram os olhares, durante alguns segundos, então ele olhou para outro lugar aleatório.

- Esse lugar - começou ele -, era uma creche... minha mãe e eu perdíamos horas aqui, brincando, enquanto esperávamos pelo meu pai. Depois que ela morreu, foi pra cá que eu vim pela primeira vez... eu vim pra cá vários dias seguidos... com saudades dela, tentando me recordar de seu sorriso, seu jeito de ser... ela era incrível.

- Acho que quando se perde alguém que ama, não é um fim, é um começo... foi assim com meu pai.

    Thomas olhava para longe, e a garota, descansou sua cabeça, sobre o ombro de Thomas, enquanto, escutava cada palavra que ele passou a dizer.

- Acho que o único defeito dela, era não ter um defeito. Uma mulher perfeita... eu sei que pro mundo aí fora, ela era só mais uma. Mas, no meu mundo, ela ainda é a rainha. Uma vez, sonhei com ela, foi a única vez que eu tive a visita dela em meus sonhos depois dela partir... Por que eu trouxe você até aqui? Talvez porque eu só venho aqui, com quem eu amo.

    Ela sorriu, e ele não. Ele podia ver com clareza, cada parte de seu rosto, desde o queixo, até a testa, seus olhos se movendo lentamente, sua respiração calma, que entrava e saia.

- Por que você se afastou de mim? - sussurrou ele.

- Porque, eu percebi, que estava gostando de você, mais do que eu deveria - ela respondeu. - Eu não sou capaz de dar a você, a vida que você merece.

- Você é sim... e já está fazendo isso.

- Não Thomas, eu não sou... você merece algo muito melhor, do que uma garota como eu.

- Se eu ter você por um dia, ou uma semana, ou um mês... o importante é que eu tive você. E isso pra mim, já basta.

- Eu acho que você ainda não entendeu Thomas.

- Eu entendi - disse ele. - Eu entendi você perfeitamente. Tudo faz sentido agora. Conheço Will e Michelle há anos, e nunca conheci você, mas agora eu sei o porque.

- E ainda assim você quer ficar comigo?

    Thomas deu um sorriso, e então disse:

- Gostaria de ouvir a história do frio?

    Ela nada disse, apenas assentiu com a cabeça.

- Eu tinha onze anos na época, foi em 2013. Estávamos todos vestidos de verde e amarelo, prontos para acompanhar a seleção brasileira na final da copa das confederações. Eu lembro bem que foi após o gol do Neymar. Eu simplesmente desmaiei.

    "Meus pais me levaram pro hospital, fizeram alguns exames, e tcharam. Eu tenho um tumor maligno no cérebro. Simples assim. Eu não poderia operar naquela época, meu cérebro não aguentaria. Por tanto, preciso esperar até que o tumor se desenvolva, o que levaria pelo menos sete anos.

    "O risco, é que assim que o tumor se desenvolver, eu terei que fazer a cirurgia as pressas, com uma porcentagem de vinte e oito por cento de dar certo.

    "Meus pais passaram anos e anos atrás de uma solução. E então, dois meses atrás, eles foram se encontrar com um doutor que tem um consultório no centro de São Paulo. E adivinhe... não deu em nada, sem mencionar é claro, que essa viagem não tirou só as esperanças da minha família, tirou minha mãe também.

    "Eu aceitei entende. Se for pra mim partir dessa pra melhor, eu não vou perder muito, pois terei a minha mãe quando eu chegar lá. E acho que é por isso que nos conhecemos, pra você ter a mim, e eu ter você. Em vida, e em morte".

- Eu nunca imaginaria que você...

- Relaxa - disse Thomas. - No momento, só você e o meu pai sabem disso.

- Mas e os seus amigos?

- Estou fazendo o mesmo que você fez a vida toda. Protegendo eles. Quanto mais eu me afastar, menos eles irão sofrer com a minha perda.

- Por isso estamos aqui. Ficaremos juntos, em vida e em morte.

- É - disse Thomas. - Por isso estamos aqui.

- Mas - disse ela -, eu preciso que você me prometa uma coisa.

- O que?

- Me prometa, que quando eu morrer, você vai aproveitar a sua vida, e não vai pensar em morrer também.

- Eu não posso simplesmente...

- Tommy, eu preciso que você me prometa. Preciso que você diga que vai aproveitar a sua vida, que vai manter na sua cabeça a ideia de que em poucos meses, esse tumor irá se desenvolver, e você fará a cirurgia e ficará muito bem, e terá uma vida bela pela frente. Me promete.

- Tá legal - disse ele, enquanto segurava as lágrimas. - Eu prometo!

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