E mais uma vez, logo após a aula, lá estava ele, na sacada do prédio, esperando que a garota aparecesse, estava sentado sobre a beirada, atirando algumas pedras lá para baixo.
- Senhor Barulho?
- Estou aqui - respondeu o mais rápido que suas cordas vocais lhe permitiram.
- Você vem até aqui por quê?
- A vista é linda - respondeu ele.
- Você mente muito mal garoto.
- Por que disse isso?
- Porque se a vista fosse realmente assim tão linda, todos viriam aqui.
- É você tem razão. - Thomas deitou para trás apoiando os braços como travesseiro. - Acho que nem eu sei o porquê.
- Não sabe o por quê?
Thomas se manteve quieto durante alguns segundos.
- Por que você vem aqui? - indagou o garoto.
- Eu também não sei - respondeu a garota rindo.
Mas alguns segundos de silêncio.
- Seus pais não se preocupam de você vir até aqui? - questionou a jovem.
- Ele não sabe.
- Ah sim... e antes que você pergunte - disse a garota -, minha mãe também não sabe - ela estava rindo.
- Qual a cor do seu cabelo? - perguntou de repente Thomas, a garota parou de rir e pensou um pouco antes de lhe dar a resposta.
- Bom, depende... - Uma pausa - às vezes é loiro, às vezes preto, às vezes ruivo...
Thomas interrompeu com um riso.
- Como assim?
- Não gosto de ficar sempre com o mesmo visual, às vezes cacheados e às vezes liso... gosto de mudar.
- As vezes é bom manter o mesmo visual.
- Você acha?
- Bom você cria sua identidade.
- É, em partes você está certo. - Uma pausa - E qual visual você mais gosta?
- Eu - disse ele -, gosto quando as pessoas são elas mesmas, sem mentiras, sem máscaras.
- Entendo, eu vou anotar isso.
Thomas sorriu.
No horizonte, o sol estava se pondo novamente.
- Está na hora de ir embora - disse a garota.
- É esta sim.
Novamente a garota estava mexendo em papéis, Thomas começou a se incomodar "Será que ela estuda na mesma escola que eu?" se perguntou o jovem em pensamento "Talvez ela venha até aqui fazer o dever de casa" continuou pensando "Devo perguntar ou não?".
- Thomas... Thomas - Nathan balançava a mão em frente ao seu rosto tentando lhe ganhar a atenção. - Ei, Thomas?
- O que foi? - perguntou ele, assustado.
Quando se deu conta, estava no refeitório da escola, sentado na mesma mesa do dia anterior com seu amigo na sua frente.
- Eu quem pergunto; o quê foi?... você está estranho, fica olhando para os lados como se estivesse sendo seguido, e com esses olhos arregalados... aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada - ele gaguejava. - Estou bem!
- Bem? - Se espantou Nathan. - Você não parece nada bem.
Thomas continuava olhando para os lados sem parar, ele estava procurando a garota. Nathan já estava terminando o almoço, enquanto Thomas nem havia tocado na comida.
- Thomas? - Novamente Nathan estava passando a mão em frente ao seu rosto. - Então o que você acha?
- Acho bom - respondeu Thomas, na verdade ele nem sabia sobre o que era o assunto.
- Acha bom? - indagou Nathan. - Você nem ouviu o quê eu falei.
- Claro que eu ouvi.
- Ouviu? - perguntou Nathan, enquanto cruzava os braços sobre seu próprio peito. - Então repete.
- Você falou sobre... - Thomas olhava para baixo, procurando algo para dizer. - um cara que foi esfaqueado ontem... - ele enrolava - num avião... - continuava enrolando - e um outro cara chamado... - Nathan encarava o amigo seriamente. - McLaine eu acho... ou era McLaren - Thomas percebeu que a enrolação não estava funcionando. - Me responde uma coisa - Ele se aproximou do amigo, apoiando os cotovelos na mesa -, tem alguma garota de cabelo colorido aqui na escola?
Nathan deu um soco na mesa, fazendo os pratos e talheres sacudirem.
- QUE DROGA THOMAS - gritou ele.
Alguns alunos olharam para eles sem entender. Thomas não sabia o que dizer, por um momento imaginou que Nathan diria que estava brincando, mas dessa vez ele realmente estava sério.
- Eu sei que são poucos que conseguem entender o que você está passando nesse momento... - Fez uma pausa - Mas... assim não dá.
- Nathan? Do que você está falando? - Ele estava tentando acalmar o amigo.
- Ontem você estava sorridente, alegre... Por um momento eu até cheguei a imaginar que você tinha voltado... mas aí, hoje você fica olhando pro lados igual a um louco, e quando eu tento conversar com você, você faz piada com a minha cara. - Nathan estava muito furioso.
A maioria dos alunos ali presentes, ficaram observando a agitação na mesa dos dois, Thomas não fazia ideia do que dizer, apenas ouviu calado enquanto o amigo lhe atirava acusações sem parar.
- Você quebrou seu celular, não entra mais nas redes sociais, você... você... - Nathan gaguejou. - você afastou todos de perto de você.
- Já acabou? - disse Thomas.
Nathan ignorou a pergunta e continuou.
- Você não faz o caminho de volta pra casa junto comigo... sabe-se lá pra onde tu vai - Fez uma pausa. - Escute Thomas, é melhor você começar a se encontrar na vida, se não vai acabar me afastando também. - Nathan se levantou.
- Espere aí, aonde você vai?
- Vou fazer o que eu deveria ter feito a muito tempo. - Ele pegou seu prato. - Sou seu amigo Thomas, estarei aqui pra você sempre... mas sinceramente, eu prefiro o velho Thomas. - Deu lhe as costas e seguiu para outra mesa.
Thomas o acompanhou com os olhos, viu o amigo lhe deixando sozinho, e se sentando com outras pessoas. Thomas não sabia o que fazer, tinha acabado de tomar um choque de realidade de Nathan.
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Senhorita Silêncio
Roman d'amourNa fictícia cidade de Augustina, uma pequena cidade do interior com pouco mais de 20 mil habitantes, localizada no norte do estado de São Paulo. Um jovem garoto chamado Thomas, conhece uma garota de forma inusitada, constrói uma ligação com a mesma...