Capítulo 3 - Cabelo colorido

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    E mais uma vez, logo após a aula, lá estava ele, na sacada do prédio, esperando que a garota aparecesse, estava sentado sobre a beirada, atirando algumas pedras lá para baixo.

- Senhor Barulho?

- Estou aqui - respondeu o mais rápido que suas cordas vocais lhe permitiram.

- Você vem até aqui por quê?

- A vista é linda - respondeu ele.

- Você mente muito mal garoto.

- Por que disse isso?

- Porque se a vista fosse realmente assim tão linda, todos viriam aqui.

- É você tem razão. - Thomas deitou para trás apoiando os braços como travesseiro. - Acho que nem eu sei o porquê.

- Não sabe o por quê?

     Thomas se manteve quieto durante alguns segundos.

- Por que você vem aqui? - indagou o garoto.

- Eu também não sei - respondeu a garota rindo.

     Mas alguns segundos de silêncio.

- Seus pais não se preocupam de você vir até aqui? - questionou a jovem.

- Ele não sabe.

- Ah sim... e antes que você pergunte - disse a garota -, minha mãe também não sabe - ela estava rindo.

- Qual a cor do seu cabelo? - perguntou de repente Thomas, a garota parou de rir e pensou um pouco antes de lhe dar a resposta.

- Bom, depende... - Uma pausa - às vezes é loiro, às vezes preto, às vezes ruivo...

     Thomas interrompeu com um riso.

- Como assim?

- Não gosto de ficar sempre com o mesmo visual, às vezes cacheados e às vezes liso... gosto de mudar.

- As vezes é bom manter o mesmo visual.

- Você acha?

- Bom você cria sua identidade.

- É, em partes você está certo. - Uma pausa - E qual visual você mais gosta?

- Eu - disse ele -, gosto quando as pessoas são elas mesmas, sem mentiras, sem máscaras.

- Entendo, eu vou anotar isso.

    Thomas sorriu.

    No horizonte, o sol estava se pondo novamente.

- Está na hora de ir embora - disse a garota.

- É esta sim.

    Novamente a garota estava mexendo em papéis, Thomas começou a se incomodar "Será que ela estuda na mesma escola que eu?" se perguntou o jovem em pensamento "Talvez ela venha até aqui fazer o dever de casa" continuou pensando "Devo perguntar ou não?".

- Thomas... Thomas - Nathan balançava a mão em frente ao seu rosto tentando lhe ganhar a atenção. - Ei, Thomas?

- O que foi? - perguntou ele, assustado.

    Quando se deu conta, estava no refeitório da escola, sentado na mesma mesa do dia anterior com seu amigo na sua frente.

- Eu quem pergunto; o quê foi?... você está estranho, fica olhando para os lados como se estivesse sendo seguido, e com esses olhos arregalados... aconteceu alguma coisa?

- Não aconteceu nada - ele gaguejava. - Estou bem!

- Bem? - Se espantou Nathan. - Você não parece nada bem.

    Thomas continuava olhando para os lados sem parar, ele estava procurando a garota. Nathan já estava terminando o almoço, enquanto Thomas nem havia tocado na comida.

- Thomas? - Novamente Nathan estava passando a mão em frente ao seu rosto. - Então o que você acha?

- Acho bom - respondeu Thomas, na verdade ele nem sabia sobre o que era o assunto.

- Acha bom? - indagou Nathan. - Você nem ouviu o quê eu falei.

- Claro que eu ouvi.

- Ouviu? - perguntou Nathan, enquanto cruzava os braços sobre seu próprio peito. - Então repete.

- Você falou sobre... - Thomas olhava para baixo, procurando algo para dizer. - um cara que foi esfaqueado ontem... - ele enrolava - num avião... - continuava enrolando - e um outro cara chamado... - Nathan encarava o amigo seriamente. - McLaine eu acho... ou era McLaren - Thomas percebeu que a enrolação não estava funcionando. - Me responde uma coisa - Ele se aproximou do amigo, apoiando os cotovelos na mesa -, tem alguma garota de cabelo colorido aqui na escola?

    Nathan deu um soco na mesa, fazendo os pratos e talheres sacudirem.

- QUE DROGA THOMAS - gritou ele.

    Alguns alunos olharam para eles sem entender. Thomas não sabia o que dizer, por um momento imaginou que Nathan diria que estava brincando, mas dessa vez ele realmente estava sério.

- Eu sei que são poucos que conseguem entender o que você está passando nesse momento... - Fez uma pausa - Mas... assim não dá.

- Nathan? Do que você está falando? - Ele estava tentando acalmar o amigo.

- Ontem você estava sorridente, alegre... Por um momento eu até cheguei a imaginar que você tinha voltado... mas aí, hoje você fica olhando pro lados igual a um louco, e quando eu tento conversar com você, você faz piada com a minha cara. - Nathan estava muito furioso.

    A maioria dos alunos ali presentes, ficaram observando a agitação na mesa dos dois, Thomas não fazia ideia do que dizer, apenas ouviu calado enquanto o amigo lhe atirava acusações sem parar.

- Você quebrou seu celular, não entra mais nas redes sociais, você... você... - Nathan gaguejou. - você afastou todos de perto de você.

- Já acabou? - disse Thomas.

    Nathan ignorou a pergunta e continuou.

- Você não faz o caminho de volta pra casa junto comigo... sabe-se lá pra onde tu vai - Fez uma pausa. - Escute Thomas, é melhor você começar a se encontrar na vida, se não vai acabar me afastando também. - Nathan se levantou.

- Espere aí, aonde você vai?

- Vou fazer o que eu deveria ter feito a muito tempo. - Ele pegou seu prato. - Sou seu amigo Thomas, estarei aqui pra você sempre... mas sinceramente, eu prefiro o velho Thomas. - Deu lhe as costas e seguiu para outra mesa.

     Thomas o acompanhou com os olhos, viu o amigo lhe deixando sozinho, e se sentando com outras pessoas. Thomas não sabia o que fazer, tinha acabado de tomar um choque de realidade de Nathan.

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