VI

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 || Bring Me To Life ||


| Munin |

| algumas semanas depois |

A luz do dia já acabou e ela dormiu quase o tempo todo. Só sei que ela está viva graças às máquinas hospitalares. O médico passou aqui no quarto uma ou duas vezes para saber se estava tudo bem e disse que era normal ela dormir tanto, o corpo dela está cada vez mais fraco, e os remédios para as dores cada vez fazem menos efeito. O médico teme que ela esteja muito perto do seu último dia. Eu engoli em seco assim que ele me confessou isso.

Hugin adentra o quarto sem avisar e aproxima-se da cama para acordá-la.

— Boa noite para ti também. As portas existem por alguma razão. E hoje é o meu dia com ela, importas-te? – eu levanto-me da poltrona assim que ele entra e encaro o sério.

— Boa noite, Munin. Queria ver se fosses tu no meu lugar. – ele olha-me tristemente, eu reviro os olhos em resposta.

— Estou no mesmo patamar que tu, idiota.

— Referia-me de ser eu a receber a mensagem sobre o médico dizer que... – meu irmão interrompe-se para não ter de terminar a frase.

— Ah, isso.. certo.. – baixo a cabeça e volto a sentar-me. – Mesmo assim, não precisavas de vir hoje, amanhã é a tua vez, e ela está só a dormir.

— Ela pode já cá não estar amanhã, Munin.. – ele quase sussurra como se fosse para só nós ouvirmos, eu sorrio triste.

— Ela é forte, ela vai viver para sempre. – falo olhando o livro no meu colo.

— Deixa te disso, ninguém é imortal, essas coisas não existem. – ele olha para mim com um tom aborrecido. 

— Realmente és um inocente. Não te chegou aquilo que te fiz para acreditares. - solto uma risada seca.

— Não me conseguiste fazer nada. – ele fala baixo.

— Porque ela impediu, Hugin, entende isso de uma vez por todas. – eu levanto um pouco a voz e Odina mexe-se levemente.

— Vocês os dois são viciados nesses assuntos. – ele segura a mão dela e sorri-lhe.

A morena olha para nós os dois e sorri largamente visivelmente cansada. Ela estica uma mão para mim, eu alcanço-a esticando o braço e pego a sua mão. A sua respiração está pesada e a sua pele bastante pálida. Ela não fala por um bom tempo, mas acho que falo por ambos quando digo que os olhos dela dizem algo como "é bom ver-vos juntos."

Sim, é raro nós nos juntarmos, somos irmãos mas mal nos vemos, e eu quase me arrependo disso. Afinal, é meu irmão, sangue do meu sangue e minha única família de momento. Mas eu ainda o odeio e isso não vai mudar tão cedo.

Ela decide quebrar o silêncio com uma voz super fraca. Ele senta-se na beira da cama para a ouvir.

— Eu espero que os dois saibam o quanto eu vos amo, okay? – ela sorri fraco desta vez.

— Porque estás a dizer isso agora, princesa? – transparece trémula a voz do Hugin.

— Porque não sei quanto tempo é que tenho, e sinto que não vou aguentar muito mais.

Hugin olha para mim sério, demasiado sério para o normal. Eu fico confuso e pergunto o que se passa telepaticamente. Por acaso, isso ainda resulta connosco.

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