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Com as minhas palavras, a expressão do moreno mudou, drasticamente, num espaço de segundos, acabando por manifestar contentamento pela minha escolha, através do seu pequeno, mas bonito, sorriso, contagiando-me.

– Para isso, durante o tempo em que me encontrava no metro, escrevi algumas questões nas minhas notas para não me esquecer. – Num ápice, o objeto eletrónico da marca Apple, que me pertencia, era suportado pelas minhas mãos, depois de descansar a caixa das doçarias na madeira do banco entre nós a fim de, também, deixar uma distância segura entre ambos, e a aplicação do bloco de notas encontrava-se aberto com as questões surgidas e digitadas por mim na aplicação.

- Tens, sempre, tudo planeado? – Abismado pelas minhas declarações, Rúben inquiriu.

- Basicamente. – Encolhi os ombros, retirando uma miniatura de mil-folhas e deliciando-me com ela. – Mas, hoje não é sobre mim. – O futebolista preparava-se para replicar os meus gestos, no entanto o colidir da palma da minha mão com as costas da sua impediu que avançasse com os seus desígnios. – Segundo as minhas fontes, és um futebolista profissional muito aclamado, até, tanto pela população masculina como pela população feminina por razões óbvias. – As minhas últimas palavras provocaram um pitoresco sorriso nos seus lábios. – O que te levou a escolher futebol, invés de qualquer outra modalidade? – Concluí o meu raciocínio, questionando.

- Eu cresci a ver futebol do clube de coração do meu pai, influenciando, também, o amor que nutro pelo mesmo clube. Pratiquei imensos desportos, por escolha própria e dos meus pais que acreditavam que o meu irmão e eu devias estar ligados à atividade física para o nosso bem, contudo o futebol foi o primeiro onde senti que devia concentrar todas as minhas atenções e forças porque via um futuro pela forma como tocava na bola e recebia os elogios dos treinadores por quem já passei e mostrei a minha paixão que levou ao talento que tantos dizem e admiram em mim. – Observava-o e escutava-o com toda a atenção ao mesmo tempo que buscava conter o sorriso que ameaçava surgir nos meus lábios pelas suas palavras que manifestavam toda a sua paixão sentida pelo desporto-rei. – Quando revelei a minha escolha aos meus pais, o seu principal receio foi, logo, a escola, contudo comprometi-me a conciliar os estudos com o futebol, de modo a poder realizar os meus sonhos que se tornaram reais quando o Benfica foi-me buscar ao Estrela de Amadora para ingressar a equipa de juniores do clube. – Acrescentou e, aproveitando a minha distração causada pelo encontro do meu olhar com o dele, buscou uma miniatura de bolo da caixa, deliciando-se com ela.

- Não devias ter cuidado com a tua alimentação? – Logo quando me apercebi, critiquei, num tom divertido.

- Se já conhecias a minha profissão, porque trouxeste os bolos? – Como resposta, o irmão de Ivan interrogou, sarcasticamente.

- Estava na esperança que não aceitasses. – Retorqui.

Uma alta gargalhada escapou por entre as suas cordas vocais, provocando um curto e involuntário sorriso nos meus lábios, mas as suas gargalhadas não foram suficientes para conquistar a timidez que me era característica, que, por alguma razão, ao lado dele, mostrava-se longe de ser, e impedir de prosseguir com as questões que queria lhe colocar, pelo que continuei, recebendo, sem qualquer problemas, as suas sinceras respostas contribuindo para o meu interesse e curiosidade, que aumentava a cada pergunta e respetiva resposta, não só pela sua adolescência, onde a sua paixão pelo futebol atingiu o expoente máximo, e pelo início da sua vida adulta, durante o tempo em que partilhávamos as doçarias compradas e completávamos, quando considerávamos necessários, o raciocínio de cada um.

- Última pergunta. - Depois de desfrutar a metade do último bolo presente na caixa que dividi com o defesa-central benfiquista, anunciei, capturando, logo, a atenção total dele. – O que te levou a sentires-te atraído por mim? – Sem rodeios, questionei e as suas íris castanhas, imediatamente, aumentaram de tamanho, pois não estava à espera que a última questão envolvesse esse tópico.

touch and go | ruben dias [slow updates]Onde histórias criam vida. Descubra agora