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As minhas íris azuis-esverdeadas capturavam as legendas portuguesas da série que tinha começado a acompanhar há poucos dias, Umbrella Academy, no site de streaming, originalmente fundado no continente norte-americano, mais utilizado globalmente, Netflix, tendo, apenas, uma temporada, uma vez que a segunda temporada iria estrear, somente, no ano seguinte que se aproximava aos poucos, enquanto as minhas unhas acariciavam o pelo de Lola, a minha coelha de estimação desde os meus vinte e um anos de idade, quando decidi acolhê-la para lhe providenciar melhores condições, bem como conforto no seio da minha família. Deitada sobre o amplo sofá e com o peludo próximo do meu peito, assistia ao último episódio da série que, apenas, tinha começado há dois dias. A minha facilidade de concluir séries, e, também, a leitura de livros com um avultado número de páginas, manifestava-se um tanto assustadora. No entanto, o semblante do meu irmão mais novo ocupou o meu campo de visão, substituindo a imagem apresentada no televisor, e, imediatamente, pressionei o botão do meio no comando, suspendendo a transmissão do programa televisivo.

- Do que precisas, Henrique? – Perante a sua falta de iniciativa para expor as suas intenções, inquiri.

- Ouvi dizer que a mãe necessitava da tua ajuda para a preparação do jantar. – Revelou e, diante a sua revelação, fitei-o, incerta da verdade presente nas suas palavras, o que conquistou o seu pequeno e pitoresco sorriso. – A partida está prestes a iniciar. – Não evitei soltar leves gargalhadas quando, finalmente, conheci o seu verdadeiro propósito.

- Da próxima vez, começa por aí. – Ergui o meu corpo do sofá, com cuidado devido ao animal de estimação, cujo, logo, escapou dos meus braços e seguiu para um dos cantos da divisão, levantando-me, de seguida, e dei espaço ao mais nova para ocupar o conforto do mobiliário. – A televisão é toda tua, piolho. – Não deixando escapar uma oportunidade de espicaçar, de maneira divertida, o fervoroso adepto do Sport Lisboa e Benfica, despenteei-lhe os cabelos castanhos e deixei um curto, mas carinhoso, beijo nos mesmos.

Antes de abandonar a divisão, ofertei um bonito sorriso ao meu pai, que encontrava-se encostado à ombreira da entrada da sala de estar a observar a nossa interação e a forma como o seu rebento mais novo conquistava a televisão, e, posteriormente, segui para a cozinha, onde a empresária na área automóvel preparava a refeição que se seguia, a fim de oferecer os meus serviços de ajudante, tal como Henrique tinha fantasiado num período inicial do nosso curto diálogo. Após um, igualmente, curto diálogo com a mais velha, auxiliei Olívia na preparação da mesa na sala de jantar, sendo incumbida de transportar os pratos e os talheres para a divisão, enquanto a rececionista acomodava a toalha de mesa, e, num momento seguinte, os copos e a jovem de vinte e seis primaveras as bebidas. Dando por concluída a tarefa dividida entre mim e a minha irmã, retornei à cozinha com o objetivo de descobrir se a mulher concentrada nos seus cozinhados necessitava de mais ajuda minha.

- Quanto tempo falta para o jantar? – Depois da sua resposta negativa, questionei.

- Vamos aguardar pelo intervalo da partida para não interromper o teu pai e o teu irmão. – A de cabelos castanhos escuros, iguais ao do praticante de natação, indicou, respeitando o período de tempo em que o meu pai e o meu irmão assistiam à partida da equipa, cuja apoiavam vivamente. – A primeira parte dura quarenta e cinco minutos, querida. – Perante a minha ausência de resposta, ou sequer reação, pela sua resposta, acrescentou.

Discretamente, soltei um curto suspiro, abandonando a divisão, e dirigi-me para a divisão, onde se encontravam os do sexo masculino, acabando por ocupar um lugar no sofá entre o mais velho e o mais novo, assim que os alcancei. O meu azul-esverdeado viajou para o ecrã que mostrava as duas equipas em confronto durante noventa minutos para a conquista de três importantes pontos para o campeonato português a entrar para as quatro linhas, compondo-se, depois, numa fila enquanto se escutava em bom som o hino do clube dirigido por Luís Filipe Vieira e, no momento em que não só a câmara filmou, como também a minha atenção, a imagem do internacional português captou, os meus lábios curvaram-se num belo sorriso perante a expressão séria e concentrada que ele carregava para a partida com o clube bracarense. Pouco me importava o saber e apreciar do desporto-rei que juntava inúmeras pessoas numa só nação quando se falava da seleção nacional ou, até, no próprio clube que fervorosamente apoiavam com todo o amor nutrido pelo mesmo pelo simples facto que nunca procurei gostar e conquistar esse conhecimento, cujo o meu pai e o meu irmão possuíam, e, mesmo depois das diversas tentativas por parte do defesa-central benfiquista para me impelir a acompanhar a modalidade que ele tanto admira e pratica profissionalmente, manifestei-me incapaz de compreender o objetivo do desporto e as diferentes posições táticas dos jogadores dentro das quatro linhas e as suas respetivas funções por entre conversas entre os homens da minha família durante partidas dessa mesma modalidade.

touch and go | ruben dias [slow updates]Onde histórias criam vida. Descubra agora