onze

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As catorze horas e dezasseis minutos do dia vinte e quatro do último mês do ano de dois mil e vinte marcavam o relógio despertador situado sobre a superfície da mesa de cabeceira disposta ao lado da cama em amplas dimensões que suportava com o meu, e o do amadorense, peso enquanto nós fitávamos o teto branco sobre nós e elaborávamos desenhos imaginários sobre o mesmo, sempre, com amplos sorrisos sublinhados nos nossos lábios. Vivíamos no nosso próprio mundo e nenhum de nós parecia se importar com isso. Com a cabeça a descansar no seu atlético peito coberto pela camisola alusiva ao clube fundado no ano de mil novecentos e quatro, aconcheguei-me no calor do seu abraço, circundando o seu tronco com o meu braço direito, manifestando a minha ausência de vontade em abandonar o conforto proporcionado por ele, ainda que as horas marcadas no aparelho elétrico me obrigassem a tal. Na noite do dia em que nos encontrávamos iniciariam os dois dias de festividades natalícias, por isso, possuía consciência que a minha família, particularmente, a minha mãe e a Olívia, necessitavam do meu auxílio nas tarefas e nos preparos para a ceia natalícia.

- Não quero ir. – Após mencionar o assunto que se mantinha vívido nos meus pensamentos ao jogador benfiquista, lamuriei, provocando-lhe leves gargalhadas.

- Não és a única. – Rúben proferiu, conduzindo a sua mão à mesa de cabeceira situada do seu lado da cama para resgatar o seu aparelho móvel. – Já é a segunda mensagem que o Ivan envia. Nem quero pensar no raspanete que vou levar da minha mãe e da minha avó quando chegar a sua casa. – Uma alta gargalhada escapou por entre os meus lábios. – Queres mostrar-me onde se encontra a piada? – Retoricamente, questionou, procurando esconder o seu divertido sorriso.

Pela minha falta de resposta, as suas mãos caíram nas minhas ancas, procurando pelos meus pontos fracos enquanto tratava de me provocar cócegas, o escapulir de altas gargalhadas e, consequentemente, gritos agudos. Num esforço máximo, empreguei força para o afastar do meu corpo durante o tempo em que controlava a minha respiração e os meus batimentos cardíacos.

- Odeio-te, Dias. – Entre dentes, queixei.

- Gostas pouco, tu. – O de Amadora galhofou.

Por breves momentos, o máximo que aguentei, procurei manter o meu semblante sério, contemplando o seu castanho, ao mesmo tempo que o internacional português segurava o seu lábio inferior com os dentes para ser capaz de controlar a sua vontade de rir perante a minha expressão, contudo a minha ação resultou no ecoar pelos cantos do espaço pessoal do jogador das nossas altas gargalhadas. Posteriormente, o meu corpo viu-se envolvido pelos fortes braços do moreno e as minhas íris azuis-esverdeadas viram-se, igualmente, presas ao seu castanho que me encantava todos os dias. Ainda que não fosse algo atípico, o meu corpo, ainda, não se tinha habituado à constante observação dos seus olhos em mim e à proximidade íntima, pelo que reagia como se fosse a primeira vez, especialmente, no que toca às minhas bochechas que, logo, adquiriam uma tonalidade mais escura daquela que, habitualmente, lá reside. Os seus dedos levaram uma mecha de cabelo loiro solta atrás da minha orelha, sem nunca desviar os seus bonitos olhos castanhos do meu olhar.

- Vais fazer alguma coisa ou só vais ficar a olhar? – Com o propósito de dissimular o nervosismo que percorria pelo meu interior, brinquei.

- Tu é que querias ir devagar. – Utilizando o maior trunfo que alguém podia usar, ou seja, as minhas próprias palavras contra mim, Rúben defendeu-se.

- Deixa-te de merdas, Rúben Dias. – Com humor no meu tom de voz calmo, censurei.

No momento a seguir, tomei a sua boca num apaixonante beijo que manifestava todos os sentimentos que tinham vindo a crescer ao longo dos meses desde que nos tínhamos conhecido até aquele mês, que era o último do ano que me trouxera algo que nunca esperara encontrar, ou melhor, não acreditava existir, mas que, ainda, não era capaz de confessar por as minhas inseguranças conseguirem, ainda, o melhor de mim.

touch and go | ruben dias [slow updates]Onde histórias criam vida. Descubra agora