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No apê de Kim Namjoon

Kim Namjoon é um escritor inédito. Leu de tudo. Mora numa espécie de flat. Com móveis de flat, anônimos, sem personalidade, triviais. Os livros do Kim, as centenas de livros do Kim, abarrotam o lugar e o tornam um pouco mais aconchegante, mas ele olha desanimado para a janela, a vista de prédios com prédios e outros prédios no horizonte. Bebe uma taça do vinho que acabou de comprar. Fuma agora um cigarro eletrônico. Pensativo, vai até o computador, vai digitar, mas desiste. O interfone toca. Ele atende e manda subir. Veste uma camisa social, dá uma ajeitada no cabelo e coloca um jazzinho neutro, nada experimental, nem bebop, nem fusion.
Serve outra taça de Malbec. Toca a campainha. Ele abre com a taça na mão. Kim Jung entra aflito, como sempre. Recusa vinho.

- Estou dirigindo... Parei na vaga de deficiente na frente do seu prédio. - ele diz.

Ele se beijam burocraticamente com a mão ainda aberta. Ele tranca. Jung joga as coisas pelo caminho. Ele recolhe e as coloca no cabide. Ele despeja a bolsa sobre o sofá e contra um cigarro amassado no fundo. Ele prontamente pega um isqueiro, acende e fica segurando o cinzeiro, para quando ele precisar.

- Ele deu de controlar as minhas contas. Examina cada ligação do celular e reclama se tem alguma longa demais "Usa o Skype". Reclama quando chega uma multa, critica o meu jeito de dirigir, fazer baliza, meus caminhos. 'Esta rua é a mais congestionada. Vai pela faixa da direita.' Imagina quando souber que voltei a fumar?

Ele dá três tragadas rápidas. Enfim o agarra e empurra até o sofá. Pula em cima dele, já sentado. Apaga o cigarro. Abre a braguilha dele, tira o short e se encaixa. Tirar anel, pulseiras e colares. Joga-os displicentemente na mesa de centro. E fala, enquanto transam no sofá mesmo.

- Não suporto mais aquela arrogância, me examina quando saio, me avalia quando cozinho, testa a minha inteligência perguntando: "Como é mesmo o nome do presidente da ONU?" Vivo tenso, como numa aula em que o professor faz prova oral. Ai, como é bom... Todo metódico para dormir, acordar, é uma pedra que tem respostas para tudo, nunca chora em velórios, sente-se superior a todos. Ai, assim eu gozo... Sempre me aparece com novidades: "Olha esta gravação rara de Callas. Viu o novo aplicativo que eu instalei? Leu o blog do fulano?" Detesto ópera, detesto telejornais, detesto a ONU, a OEA, blogs, e ele insiste: "Viu o que o fulano escreveu? Você concorda com ele?" Ai, para, não para, ai, gostoso, gostoso gostoso, ai...

Jung goza. Joga a cabeça sobre o ombro dele. Respira fundo. Sussurra no ouvido dele:

- Delícia...

- Eu estava com saudades. - ele diz.

- É?

- É.

- Eu também.

- Você também?

- É.

- Estava nada.

- Claro que estava. Não deu pra notar?

- É, deu.

Sorriem. Beijam-se. Ele se levanta rápido, pega o seu short o colocando e indo até o banheiro. Pergunta lá de dentro:

- Quer me ver quarta? Se não der, manda uma mensagem. Anônima. Que aula foi cancelada.

Volta ajeitando os cabelos. Recoloca anel e pulseiras. Checa o celular.

E aí, comeu? [jjk+pjm] Onde histórias criam vida. Descubra agora