Lolito - Literatura LGBT

Prólogo

Aquela era uma ótima forma de recomeçar, um trabalho que adorava fazer, um ótimo salário, ainda ofereciam casa e comida, além, é claro, de não ter nenhum conhecido por perto. – Sim, um ótimo recomeço. – Bruce falou sozinho enquanto dirigia para seu novo emprego, nas terras dos Lancasters.

Bruce Meyer era um homem sério, acostumado a trabalhar duro para conquistar suas coisas. Acabara de se divorciar da única pessoa que amou, mas nem isso existia mais em sua vida. Lidya o havia traído e com seu melhor amigo, Otto. - Amigo coisa nenhuma.

As pessoas sempre o alertaram sobre Otto, diziam que ele era invejoso, falso, mas os dois cresceram juntos, sempre foram amigos, ele nunca imaginou que logo ele, iria traí-lo assim. Agora, ele admitia, que não quis enxergar os pequenos sinais, olhares de cumplicidade, conversas interrompidas quando ele chegava, o distanciamento gradual de Lidya com ele. Tudo estava ali, ele que não quis ver.

Naquela tarde, quando chegou mais cedo para fazer uma surpresa para a esposa, quem acabou surpreendido foi ele. Quando viu os dois transando em sua cama, ficou cego de ódio, ele queria mata-los e, quase fez isso. Ele jogou Lidya no chão, arrancando-a de cima de Otto e, completamente cego, esmurrou o agora ex-amigo, ele só parou quando Lidya tentou detê-lo e ele a acertou sem querer, fazendo seu nariz sangrar.

Ele mesmo chamou a ambulância e a polícia, se entregou sem nenhuma resistência. Na manhã seguinte, após a audiência de custódia e o pagamento da fiança, ele deu entrada no divórcio. Tudo foi rápido e sem discussão, deixou tudo para ela, pediu demissão e agora estava seguindo para sua nova vida, mais calma e tranquila. Bem, era o que ele esperava.

Quando estacionou, em frente à sede da fazenda, foi recebido pelo patrão, Donald Lancaster. O homem era amistoso e simpático, sabia que seriam amigos, ainda mais, que quando fizeram a entrevista e ele perguntou sobre o motivo de querer aquele emprego, ele disse a verdade e o homem nem continuou a entrevistá-lo, apenas disse, seja bem-vindo. Sim, ele se sentia bem ali.

Após as conversas iniciais, após sua chegada, o senhor Lancaster o apresentou o capataz da fazenda, Jack Sidibe e pediu para que ele acompanhasse Bruce até sua nova casa, que ficava em uma vila, construída para os funcionários da fazenda. Bruce, imediatamente, simpatizou com Jack e teve certeza que os dois seriam bons companheiros. Ainda era cedo para ele pensar em amigos, mas bom companheiro já era um começo.

Jack o levou e, no caminho, foi mostrando um pouco da propriedade e indicando que empregados moravam em quais casas. A dele, como administrador, era a maior e melhor da vila, mas ele não se sentiu superior a ninguém, apenas queria ter sua paz de volta e mesmo que fosse a casa mais simples, para ele já estava de bom tamanho.

Os dois desceram do carro, em frente a sua nova casa, e Bruce se sentiu observado, olhou procurando e encontrou um rapaz e uma garota o olhando de forma curiosa.

- Quem são aqueles? – Perguntou para Jack.

- Aquela é minha filha, Violet e aquele é o melhor amigo dela, Yuri, Yuri Hooper, ele é neto da cozinheira, Esther Hooper, e moram naquela casa ali. Minha casa é vizinha a sua.

- Fico feliz por saber disso, prometo que serei um vizinho que não causará problemas. – Ele se forçou um sorriso, sabendo que provavelmente não teria muito tempo para ficar na casa. - Depois, com calma, você me apresenta aos dois, eles parecem curiosos com minha presença.

- Os dois são curiosos, para tudo. São bons meninos, apenas não se assuste com o Yuri.

- Como assim, não se assuste?

- Ele é um rapaz sincero demais. Ele fala tudo que vem à cabeça, as pessoas não gostam, acham que ele é atrevido. Nós estamos acostumados, ele sabe o que quer e não tem vergonha de dizer isso. Ele tem um ótimo coração, Violet e ele são como irmãos, ele seria capaz de morrer por ela.

- Ele gosta dela?

- Não senhor, não desse jeito. Ele não gosta de meninas e não tem vergonha de falar sobre isso, nós também não temos, pois, como negros, sabemos o que é ser discriminado. Espero que o senhor não tenha problemas com isso.

- Não. Não tenho. E pare de me chamar de senhor, me chame de Bruce, somos vizinhos.

- Mas você é meu chefe agora.

- Mas é você quem vai me ensinar tudo por aqui.

- Tudo bem então, Bruce.

- Quantos anos eles têm?

- Minha filha fez dezoito na semana passada e ele vai fazer dezoito na semana que vem, até nascer os dois resolveram fazer quase juntos. – Jack riu com a brincadeira.

- Deve ser difícil mesmo, para ele, tão novo e se assumir. Você disse que ele mora com a avó, e os pais?

- O pai eu nunca soube quem é, a mãe morreu dias depois de ele nascer. A Dona Esther cuida dele muito bem e aceita as escolhas do neto, ela é uma mulher além do seu tempo, você vai conhece-la, mas ela se preocupa que ele faça escolhas ruins, ela é meio mãe de todos por aqui e a melhor cozinheira que existe. Não conte para minha esposa que eu disse isso, por favor.

- Não se preocupe Jack, é nosso segredo.

- A Anne cozinha bem, mas a Dona Esther, você vai ver e vai me dar razão.

- Isso quer dizer que vou ter que me controlar ou acabo engordando.

- Ah, mais uma coisa sobre o Yuri. Espere ele falar sobre a sexualidade, ele não aceita que se intrometam na vida dele.

- Tudo bem, mas se eu o vir com um namorado, eu não posso falar nada mesmo assim?

- Você não verá.

- Mas você disse...

- Sim, ele sabe que não gosta de meninas, mas diz que só ficará com o homem que será seu marido. Olha, eu já o vi colocando um peão com o dobro do tamanho dele para correr, por se engraçar com ele.

- Acho que é melhor eu não falar nada mesmo. – Os dois entraram para que Bruce conhecesse a casa.

...

- Quem, por deus, é aquele homem, Violet? – Yuri perguntou, completamente hipnotizado por Bruce.

- O novo administrador. Eu te disse que ele chegava hoje.

- Mas você não disse, que ele, era ele.

- Era quem Yuri?

- O homem que será meu marido. É ele Violet. O destino finalmente o mandou para mim.

- Yuri, não faça nenhuma besteira, você nem sabe se ele vai ficar ou pior, se ele vai gostar de você ou se gosta de... a você entendeu.

- É ele Violet, eu sei que é. Eu não farei nada, você me conhece.

- E é isso que me preocupa.