Capítulo 13

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DORMI ATÉ TARDE NA MANHÃ seguinte, quase tão esgotada e confusa quanto estava
quando deitei a cabeça no travesseiro na noite anterior. Chequei o relógio e
forcei-me a levantar. Supus que Alli tivesse chegado bem no trabalho. Ela e
Heath tinham saído para tomar uns drinks depois do jantar, mas eu tinha voltado
para o apartamento. Nós tínhamos planejado sair juntos na noite seguinte, mas
talvez eles precisassem ficar sozinhos um tempo. Agitada, fiquei me debatendo
na cama pelo que pareceu serem horas, mas finalmente peguei no sono e não os
ouvi voltarem para casa. Como ela estava aguentando aquele ritmo, eu jamais
saberia.
Fiquei à vontade na cozinha, passei um café e fritei uma omelete. Dei uma
olhada em alguns estúdios locais de ioga e encontrei uma aula à qual eu podia ir a
pé pouco antes do almoço. Enquanto eu devorava meu café da manhã, Heath
surgiu do quarto adjacente, parecendo exausto. A noite longa tinha deixado
olheiras fundas debaixo dos olhos dele e, pela primeira vez, reparei que ele
parecia mais velho que Blake, rugas finas se estendendo de seus olhos castanhos-
escuros.
Ele tinha o mesmo peito tonificado e os mesmos olhos intensos de Blake, mas
apesar de eu obviamente conseguir admirar sua aparência naturalmente
encantadora, eu não me sentia atraída por ele. A aparência de Blake tinha
acendido minha atração desde o início, mas havia muito mais coisas que
mantinham aquela chama acesa. Outros homens tinham se tornado invisíveis
para mim.
Sem camisa, Heath se arrastou até a cafeteira. Ele encheu uma caneca
enorme até a borda e tinha já bebido metade quando reparou que eu estava ali e
acenou com a cabeça. — Bom dia — disse ele, olhando para a própria caneca.
— Noite longa?
— Sim.
Ele esfregou as mãos no rosto e suspirou.
— Como estava Alli esta manhã?
— Hum, bem. Ela... — Ele fez uma pausa. — Ela voltou pra casa antes de
mim.
Algo não estava certo.
— Está tudo bem? — perguntei com delicadeza, tomando muito cuidado, visto
que eu estava me metendo na vida pessoal dele, apesar de todo mundo achar que
aquilo era normal quando se tratava da minha vida pessoal.
— Sim, definitivamente. Sabe como é.
Ele deu de ombros.
Um sorrisinho cansado e ultrapassado que eu tinha começado a sacar como sinal de enrolação surgiu no rosto dele. Ele obviamente estava tentando amenizar
alguma coisa.
— Você a ama? — soltei, surpreendendo a mim mesma.
Já era uma pergunta bastante audaciosa, ainda mais quando feita a alguém
que estava no estado em que ele se encontrava.
Os olhos dele vieram de encontro aos meus, queimando com uma emoção
que eu não consegui identificar, todo resquício daquele sorriso falso tinha ido
embora.
— Obviamente.
Ele largou a caneca com força no balcão. Ele parecia amargurado ao dizer
aquilo, contudo. Como se a verdade daquilo o incomodasse. Aquele tom me
incomodou, meu instinto protetor tomou conta.
— Espero que sim. Porque ela é louca por você. Eu nunca a tinha visto assim
antes.
O maxilar dele se contraiu. O mesmo músculo que me avisava quando Blake
estava chegando no limite.
— Se você machucá-la, Heath...
Ergui o queixo, pronta para dar meu aviso, mas minha ameaça vazia
murchou quando falei aquilo. Como é que poderia atingi-lo de volta? Protegido
por seu irmão bilionário e pelo estilo de vida que ele levava, ele estava blindado.
Ameaçá-lo era totalmente inútil.
— Não vou — disse ele, sua voz cheia de fadiga e irritação.
Quando nossos olhos se encontraram brevemente, reconheci uma faísca de
dor neles antes dele virar-se para ir embora. Terminei meu café da manhã e
voltei para o banheiro para me trocar, enquanto Heath dormia e descansava do
que quer que seja que o tinha deixado tão angustiado.
Horas depois, o estúdio de ioga estava enchendo rapidamente. O instrutor não
perdeu tempo em nos aquecer, física e mentalmente. Eu precisava daquilo.
Precisava queimar todas as refeições péssimas que tinha feito em Nova York,
mas o que eu mais precisava era clarear a mente, centrar-me. Parecia que eu
nunca conseguia fazer isso com o caos constante que Blake criava dentro de
mim.
Ao final daquela meia hora, eu estava me esforçando para fazer uma ponte
com perfeição, meu tronco se curvando para cima, em direção ao céu. Controlei
a respiração em meio ao desconforto. Eu estava terrivelmente fora de forma. Os
movimentos desafiadores esgotaram-me, mas me despertaram ao mesmo
tempo, à medida que cada músculo era ativado para manter-me em boa forma.
Com uma plateia de uma dúzia ou mais de outras pessoas, eu me recusava a
falhar.
A aula acabou bem quando eu estava prestes a desistir. Ficamos deitados,
relaxando, e meus pensamentos flutuaram até Blake. Que limpeza de mente
estupenda... Quando devotamos nossa prática, enviei amor e luz a ele. Eu sentia
uma saudade imensa de Blake. Assim que eu rolei para fora de meu colchonete,
meu celular começou a vibrar ao meu lado, uma intrusão silenciosa na minha
calma conquistada a duras penas. Atrapalhei-me com ele, ansiosa demais. Corri
para o corredor para ter um pouco de privacidade.
— Erica, é o Max.
— Oi, como está?
— Ótimo — respondeu ele.
— Está tudo bem? Digo, com o contrato?
— Com certeza. Foi por isso que liguei, na verdade. Queria dizer que a
papelada legal está levando um pouco mais de tempo que o esperado, mas tudo
ainda está de pé.
Soltei a respiração que não tinha percebido que estava prendendo.
— Isso é ótimo. Na verdade, estou em Nova York fazendo networking. Está
indo muito bem.
— Excelente, é isso que eu gosto de ouvir. — Alguém estava falando com ele
ao fundo. — Tenho que ir, Erica, mas vou manter você informada, está bem?
— Maravilha, obrigada novamente.
— Até logo.
Ele desligou.
Estávamos tão perto de chegar a esse novo patamar que eu podia sentir o
gostinho, mas mesmo com as confirmações de Max, eu ainda ficaria preocupada
até que tudo estivesse absolutamente concretizado. Tentei ignorar todas as
maneiras que podiam fazer aquilo dar errado, mas saber da rivalidade entre
Blake e Max agora, adicionava exponencialmente mais possibilidades à lista.

                                * * *

Naquela noite, eu estava parada na beirada do deck da cobertura da casa
noturna, uma brisa quente dançava sobre minha pele à mostra. Alli tinha enchido
o meu saco até não poder mais antes de sairmos juntas. O vestido pelo qual nós
optamos era um tanto pequeno, mas as noites eram quentes e a casa noturna
abaixo era ainda mais.
As luzes da cidade decoravam o céu que escurecia, lembrando-me da última
noite em que eu tinha apreciado uma vista como aquela. Fechei os olhos e vi
Blake. Um sorriso que não deixava dúvidas de que ele sempre conseguiria o que
quisesse de mim. O corpo que me deixava louca sempre que ele conseguia.
Atrás de mim, Alli e Heath riam baixinho, os braços enrolados um no outro
em um dos sofás que decorava a área externa exclusiva da casa noturna. Suspirei
e tomei um gole do meu martini, torcendo para que aquilo conseguisse me fazer
esquecer do longo silêncio de Blake.
Talvez minha mensagem tivesse chegado tarde demais. Talvez ele tivesse
enxergado que sou complicada demais. Talvez ele tivesse razão. Nunca pedi por
um relacionamento, mas agora que eu estava perdendo o que tinha, não
conseguia evitar a sensação esmagadora de que eu estava perdendo algo
precioso. Eu nunca tinha conhecido alguém como Blake e ninguém nunca tinha
feito eu me sentir da maneira que ele fazia.
A batida intensa da música eletrônica veio e se foi quando a porta do deck se
abriu e se fechou atrás de mim. Debrucei-me no guarda-corpo de metal,
observando o tráfego lá embaixo. Buzinas de carros ecoavam distantes,
misturando-se ao jazz baixinho que tocava em volta de mim.
Eu precisava tirar Blake da minha cabeça e aproveitar ao máximo meu
tempo aqui, mesmo tão desolada quanto eu andava me sentindo por esses dias.
Virei o restante do meu drink e decidi encontrar Alli. Talvez ela pudesse largar
Heath um pouquinho para cair na pista comigo mesma.
Virei-me e congelei, incapaz de dar mais um passo adiante. Piscando,
certifiquei-me de que a pessoa à minha frente era mesmo Blake e não a
lembrança do homem pelo qual eu estava me descabelando há horas.
— Erica.
A voz de Blake deslizou sobre mim, confiante e cheia de significado. A
intensidade dos olhos dele me paralisou. Eu o assimilei lentamente, meus dedos
agarrando-se ao guarda-corpo atrás de mim como se pudessem me ancorar ali,
visto que eu queria voar até ele.
Reuni toda minha força de vontade para não fazer isso. A mera visão dele fez
meu coração acelerar. Um calor lento se espalhou pela minha pele, inflamando
meus sentidos à medida que eu o analisava. Ele estava usando um terno preto dos
pés à cabeça, a camisa escura casualmente desabotoada no colarinho. Jesus, por
que ele não usava uma daquelas camisetas idiotas quando me surpreendia
daquele jeito? Ele era um pedacinho do paraíso sexy pra caramba, e por mais
que eu adorasse vê-lo com aquelas roupas, eu só conseguia pensar em tirá-las.
— O que você está fazendo aqui?
Minha voz era ofegante e instável, confessando as emoções conflitantes que
pulsavam por mim neste momento. Talvez Alli ou Heath o tivessem avisado. Por
mais que eu quisesse me importar, eu não estava nem aí. Todo o meu corpo
ganhou vida ao saber que ele estava perto o suficiente para me tocar, para me
enlouquecer de maneiras que ninguém mais tinha conseguido.
O canto da boca dele se ergueu e ele inclinou a cabeça levemente.
— Achei que você tivesse sentido minha falta?
— Eu... Sim — admiti. Não havia por que negar agora. — Eu não esperava
ver você aqui.
Ele deu um passo na minha direção, diminuindo a distância entre nós. Tirando
as mãos dos bolsos, ele as colocou no guarda-corpo, uma de cada lado meu.
— Você tem sorte de eu estar aqui. Se eu tivesse descoberto que você estava
usando isto aqui em público sem mim, seria obrigado a punir você.
A mão esquerda dele saiu do meu lado, vagueando, tocando minha pele onde
o vestido não cobria. Segurei o guarda-corpo com mais força e meu peito se
agitou com minha respiração ofegante. Um calor nasceu em minha barriga com
a promessa que a ameaça dele significava.
— Gostou?
O sorriso malicioso dele sumiu quando ele se abaixou, beijando meu maxilar.
— Se tivéssemos um pouco de privacidade, eu iria mostrar a você o quanto
eu gostei — murmurou ele, lambendo a borda da minha orelha antes de morder
meu lóbulo com delicadeza.
Suspirei pesadamente, tentando não gemer quando uma dor doce e aguda
brotou lá embaixo.
— Estou duro desde que vi você parada aqui.
Suspirei e encostei-me nele, a evidência de seu desejo dura contra minha
barriga. Eu adorava conseguir fazer aquilo com ele. O alívio se espalhou por
mim ao saber que ele ainda me queria tanto quanto eu o queria.
— Blake... Me desculpe — sussurrei.
Ele se afastou em silêncio, os olhos cravados nos meus.
— Desculpe pelo outro dia. Eu não devia ter ido embora daquele jeito.
Respirei fundo, querendo que pudéssemos apagar aquela parte do passado,
mas sabendo que tinha que encará-lo e fazê-lo entender da melhor forma
possível.
— Eu estava... com medo.
Ele franziu a testa.
— De mim?
— Não... Dele… ser real. E do fato de você tê-lo encontrado com tanta
facilidade. Não consigo explicar. Acho que parte de mim queria que você tivesse
me perguntado antes.
— Parte de mim queria ter perguntado, mas uma parte muito mais protetora
precisava saber, não importava o que você diria. — Ele deslizou um dedo pela
minha bochecha. — Eu não podia ficar sentado ali sem fazer nada. Não consigo
suportar a ideia de que alguém machucou você da maneira que ele fez.
— Saber quem ele é não vai mudar o que aconteceu.
— Talvez não. Mas como você vai decidir usar essa informação, depende de
você. Você não quer saber quem...
— Não — cortei-o. — Por favor, não quero. Você jamais conseguiria
entender, Blake.
— Tudo bem. — Ele me aquietou e raspou os lábios de leve nos meus. — Eu
não vim até aqui pra deixar você chateada.
Beijei-o de volta e enrolei meus braços em torno dele, querendo senti-lo
próximo.
— Fico feliz que você veio.
Ele se aninhou no meu pescoço, passando os lábios pela pele sensível dali.
— Eu ia voltar, sabia? Você não precisava ter vindo até Nova York por minha
causa — falei, feliz por ele ter vindo.
— Eu sabia que você iria voltar. Mas venho a negócios aqui também,
ocasionalmente, então, pensei em surpreender você. Pode me chamar de
maluco, mas eu também senti a sua falta.
Derreti-me um pouco, até que um pensamento desagradável estragou o
momento. Sophia. Será que era ela o motivo dele ter vindo a negócios? Arrepiei-
me com a visão dos dois juntos, dele a encontrando por qualquer motivo,
platônico ou outro. Ela era tóxica e detestável.
— Conheci a Sophia — falei, tentando soar casual.
Ergui o queixo para observar a reação dele, meu olhar fixo nele. O que ela
significava para ele? Se ele estivesse planejando vê-la aqui ou, Deus me livre, se
já tivesse visto, eu não conseguiria suportar. Ele tinha que estar aqui por minha
causa.
— Ela é uma mulher e tanto — falei, incapaz de disfarçar meu total desprezo por ela.
Fiquei pensando se ele conseguia enxergar além dos traços perfeitos dela. O
maxilar dele se contraiu e ele ficou olhando por cima de mim, para o horizonte,
sem dizer nada.
Meu estômago se retorceu com um ciúme que estava me assombrando desde
que eu tinha conhecido Sophia. Amaneira como ela exibiu o relacionamento dela
com Blake na minha frente, e aquela porra daquele sorriso falso. Eu queria
acreditar na versão de Heath, mas não conseguia afastar a preocupação de que
ela significava mais para ele do que ele tinha dado a entender.
Movi-me para o lado, sentido-me presa entre ele e o guarda-corpo, à mercê
de suas mãos e de circunstâncias que estavam bem além do meu controle. Antes
que eu pudesse passar por ele, ele segurou meu pulso.
— Aonde você vai?
A voz dele era severa e enviou um arrepio pelo meu corpo. Engoli seco. Por
mais que eu o quisesse, fiquei pensando se conseguiria suportar dividi-lo com
outra pessoa. Apertei os olhos, sentindo que o álcool estava dominando minha
sensatez.
Eu não ligava. Não esta noite. Fiquei esperando por ele por horas e ele estava
ali. Iríamos resolver aquilo depois.
— Vamos dançar — falei, abrindo os olhos e reparando que os dele estavam
repletos de preocupação.
Chega de conversa. Eu queria me perder na música e nos braços dele. Queria
fingir que ele era meu antes que pudesse descobrir que não era.
O rosto dele suavizou por um segundo, bem como a força com que ele estava
me segurando. Ele entrelaçou nossos dedos e me levou para o andar de baixo.

Atração Magnética 1° livro da série HackerOnde histórias criam vida. Descubra agora