Capítulo 8

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LAVAMOS A LOUÇA E NOS acomodamos perto um do outro no sofá, de frente para as
bay windows, algo bastante parecido com o que tínhamos feito em Las Vegas.
Determinada que o resultado desta noite fosse bem diferente, não fui muito sutil
quando me afastei de leve dele, tornando a proximidade física de Blake um
pouquinho mais tolerável.
— Onde você aprendeu a cozinhar assim? — perguntou Blake.
Fiz uma pausa antes de responder para ponderar cuidadosamente quanto da
minha vida pessoal eu realmente queria compartilhar. Falar sobre minha mãe,
invariavelmente, induzia ao mistério do meu pai, uma situação difícil das pessoas
assimilarem. O fato de que eu não conhecia a identidade do meu pai induzia uma
série de reações nos outros; choque, julgamento, pena. Apesar de minha
apreensão quanto a revelar tudo ao Blake, esquivar-me das perguntas dele só
adiaria a verdade.
— Minha mãe era uma cozinheira fenomenal. Ela me ensinou tudo que sei
sobre comida.
— Era? — perguntou ele com cuidado.
— Ela faleceu quando eu tinha 12 anos. — Nadei contra a onda de tristeza
que surgia toda vez que eu falava dela. — Ela começou a ficar doente, e quando
eles descobriram o que era, o câncer já tinha se espalhado violentamente. Ela se
foi poucos meses depois.
— Lamento — disse ele.
— Obrigada. — Entristecida pela lembrança, fiquei cutucando o rasgo da
calça jeans. — Já se passou tanto tempo que eu tenho dificuldades em me
lembrar de tudo sobre ela. Sinto como se a comida fosse uma das maneiras que
eu posso usar para manter a memória dela viva. Isso parece estranho, não
parece?
— Acho que não. — Ele se virou de frente para mim e pegou minha mão
livre. — Então, seu pai criou você?
Ele traçava círculos com os dedos lentamente nas costas da minha mão,
distraindo-me e acalmando-me, simultaneamente.
— Meu padrasto cuidou de mim por mais ou menos um ano. Quando fiz 13
anos, vim para o leste estudar em um colégio interno. Passei um verão de volta
em Chicago e os outros todos com a melhor amiga da minha mãe, Marie, que
mora nos arredores da cidade. Mas tenho me virado basicamente sozinha desde
então.
— É um tempão para se virar sozinha.
Concordei lentamente com a cabeça.
— É verdade, mas não tenho realmente nada com que possa comparar isso.
É o que é, suponho.
— Você sente falta deles.
Eu mal sabia o que era ter um pai, mas tenho certeza de que teria gostado de
ter um sob as circunstâncias certas.
— Sinto falta da minha mãe todos os dias — respondi. — Mas esta é minha
vida e tudo que fez de mim quem sou hoje, então, não posso me apegar ao que
poderia ter sido.
Eu sempre seria diferente da maioria das pessoas da minha idade que tinham
tido muito mais chances de fazer as coisas certas, cujos pais estavam lá para
apoiá-las quando elas falhavam e para apontar o caminho certo nos momentos
de indecisão.
Eu tinha aprendido rápido que minha própria rede de segurança tinha buracos
de tamanho razoável, que provavelmente explicavam por que, ultimamente, eu
me sentia como se estivesse à deriva sem um colete salva-vidas. Agora, minha
nova fraqueza por Blake tinha adicionado um nível de dificuldade à aventura já
bastante arriscada de assumir meu próprio negócio em tempo integral. Mesmo
assim, cá estava eu, dando a ele mais uma oportunidade de esgotar-me. — Está
tarde. Melhor eu ir embora.
— Você não precisa ir.
A voz dele era séria, mas não era sugestiva.
Analisei os olhos dele em busca de pistas, torcendo para que o que eu
enxergava não fosse pena. Minha história não era das mais felizes, mas sentir
pena de mim mesma não tinha me levado a lugar algum.
— Eu sei, mas tenho um milhão de coisas pra fazer antes da nossa reunião
amanhã. — Levanteime. — Aproveite as sobras.
Ele se levantou.
— Vou esperar ansioso pelo momento em que poderei considerar isso
“sobras”.
Ele estava perto o suficiente para que sua respiração tocasse meus lábios. A
tensão sexual estalava entre nós. Algumas horas atrás, eu estava soltando fogo
pelas ventas, mas desde então, ele tinha se lambuzado com a minha massa e sido
incrivelmente gentil. De qualquer forma, como agora éramos vizinhos, isso pedia
ponderação cautelosa sobre como seguir adiante. Infelizmente, ele não tinha me
dado muita chance de ponderar qualquer coisa e minhas emoções estavam
misturadas e confusas.
Enfiei as mãos nos bolsos, resistindo à vontade de tocá-lo. Olhei para baixo,
avaliando se esta seria uma boa hora para conversar sobre aquilo. — O que foi?
A preocupação estampou os traços marcantes do rosto dele e ele colocou a
mão no meu rosto.
Aconcheguei-me naquele simples toque.
— Bom, pra começar, ainda estou brava com você.
Um quê de sorriso curvou a sua boca, enquanto ele contornava meu lábio
com o polegar. Ele lambeu os próprios lábios e os meus se entreabriram,
formigando com a promessa do beijo dele. — Gosto quando você está brava —
murmurou ele.
— Você sempre é persistente assim?
— Só quando vejo algo que quero.
— Quando é que eu fui ter tanta sorte?
Não consegui esconder meu sorriso.
— Está querendo elogios?
— Não, mas espero que você tenha uma boa razão para ter virado minha
vida de cabeça pra baixo.
Ele deu um passo para trás e passou a mão pelos cabelos, a ausência dele
deixou-me momentaneamente carente. Eu o queria de volta, me tocando.
— Você é diferente.
Franzi a testa de leve.
— OK.
— Eu queria ver você de novo e você meio que não estava me dando essa
opção. — Ele arqueou as sobrancelhas. — Satisfeita?
Suspirei e aproximei-me dele.
— Acho que vamos descobrir.
Dei um beijo rápido no rosto dele e fui embora antes que pudesse convencer
a mim mesma a ficar.
Voltei para meu apartamento, que era claro demais em comparação com o
de Blake. Esta era minha nova casa, mas eu tinha um longo caminho a percorrer
antes daquele lugar parecer meu de fato. Dei uma olhada para a montanha de
sacolas e caixas que eu precisava organizar antes de voltar ao trabalho amanhã.
Então, lembrei-me de uma coisa.
Peguei o celular e liguei para Sid. Ele atendeu no segundo toque.
— Qual a boa? — perguntou ele.
— Algumas coisas. Alli conseguiu um emprego em Nova York.
— Que porcaria — disse ele, indiferente.
— Além disso, alguém da Angel Com vai me preparar para minha próxima
reunião com Max, o que é um bom sinal para o financiamento.
— Legal.
— Por fim, onde você vai morar quando os dormitórios fecharem?
— Eu ia ficar na casa de uns amigos até alguma coisa aparecer.
— Tenho um quarto extra no meu novo apartamento e ter companhia seria
bom pra mim. Interessa? Ele pausou por um momento.
— Tem certeza?
— Sim, definitivamente.
— Está bem, me parece bom.
Sorri e dei a ele o endereço antes de desligarmos.

                                 * * *

O letreiro das portas duplas de vidro fosco exibia Grupo Landon em uma
fonte negrita. Passei pela porta e entrei em um local repleto de estações de
trabalho de ponta enfileiradas ao longo do recinto. Avistei Blake apoiado no
parapeito da janela, conversando com um homem jovem com fones de ouvido
pendurados no pescoço. Um monte de bugigangas de Star Trek decorava a mesa.
Sid iria amar isso aqui, pensei. Blake ergueu os olhos e murmurou algo antes de
vir até mim.
— Oi.
Ele me deu um sorriso infantil e pegou minha mão para guiar-me pelo amplo
corredor central da sala até um escritório fechado nos fundos.
O gesto me pegou desprevenida, mas, para minha surpresa, todo mundo
parecia completamente compenetrado, como se não houvesse vida além da
maré de dados que alimentava as máquinas. Meu traje estava completamente
errado também. Vestindo uma saia-lápis branca, uma camisa preta sem mangas
e escarpins pretos respeitáveis, eu me destacava no mar de camisetas, moletons
e camisas floridas. Aparentemente, eu tinha muito o que aprender com relação à
cultura de startups de tecnologia.
Do lado de fora do que presumi ser o escritório pessoal de Blake, uma mulher
pequena e de estilo punk, sentada em uma mesa em formato de L, estava
concentradíssima na tela de seu computador. Ela ergueu os olhos quando nos
aproximamos.
— Erica, esta é a Cady.
Ela se ergueu em um pulo e apertou minha mão. Cady estava vestindo roupas
casuais, como todos os outros: calça jeans e uma camiseta branca simples. Seu
braço esquerdo era coberto por tatuagens coloridas que se misturavam uma à
outra em uma extensa obra de arte corporal, mas o que mais se destacava era
seu moicano curtinho descolorido salpicado com pontas cor-de-rosa. As orelhas
dela ostentavam brrincos de metal brilhantes que combinavam com seu cinto de
spikes.
— Oi, Erica. É um prazer conhecê-la.
Ela pegou minha mão, dando um sorriso lindo que iluminou seus olhos cinza.
Mesmo com toda aquela “decoração”, ela era muito atraente.
— Da mesma forma.
— Erica, Cady é minha assistente pessoal. Ela também é sua vizinha.
Virei os olhos imediatamente para ele. Eu não tinha percebido que ele tinha
uma colega de quarto.
— Moro no apartamento embaixo do seu. Acho que vivemos nos
desencontrando — disse ela. Suspirei, aliviada, surpresa com minha própria
reação.
— Ah, nossa. OK.
Mas que diabos? Eu não deveria me importar se ele tinha um colega de
quarto. Afinal de contas, eu estava prestes a ter um.
— Me avise se você tiver qualquer pergunta sobre o apartamento ou o bairro.
Sou meio que a gerente não oficial das propriedades de Blake também.
— Certo. Obrigada.
Ela deu um breve aceno quando Blake nos levou até o escritório dele,
fechando a porta.
O escritório dele se parecia mais com o apartamento do que imaginei, apesar
de ainda ter me impressionado. Três monitores enormes tomavam conta de uma
das duas mesas. Dois mostravam dezenas de linhas de códigos e o outro estava
repleto de planilhas. A afirmação de Heath de que Blake fazia todo o trabalho parecia correta. Nem eu mesma achava que conseguia dar conta de tantas coisas
ao mesmo tempo.
Em outro canto do escritório, havia uma TV enorme na parede, conectada ao
que parecia ser todos os tipos de consoles de video game imagináveis. Ele me
levou até uma mesa grande de tampo de vidro fosco de frente para um quadro
de escrever, também de vidro.
— Bem Missão Impossível — falei, torcendo, em segredo, por uma desculpa
para escrever naquele quadro. Talvez eu pudesse ilustrar os limites que
precisavam existir em nosso relacionamento.
Ele riu e sentou-se à mesa ao meu lado.
— Certo, me mostre o que você já tem.
Girei uma chave e meu cérebro empresarial assumiu o comando, mudando
minhas prioridades e meu foco pelas próximas duas horas, período em que
trabalhamos diligentemente, trançando um plano para a segunda fase da
apresentação a Max. Revisamos os números e eu expliquei mais sobre o negócio.
Fiz anotações, mapeando os pontos que eu organizaria quando voltasse ao
apartamento, à noite, tentando não me distrair com a proximidade dele.
Mesmo sob essas circunstâncias, eu não conseguia parar de pensar que Blake
e eu uma vez tivemos uma noite de paixão desenfreada. As pessoas evitavam ter
casos amorosos no ambiente de trabalho exatamente por esse motivo. Quando eu
não estava olhando diretamente para ele, podia fingir que não me sentia
insuportavelmente atraída por ele, mas não sem um esforço conjunto.
— Já fiz valer o meu jantar?
Ele estava recostado na cadeira, uma caneta enfiada atrás da orelha e um
sorriso safado, que era simplesmente injusto, no rosto. Mulheres têm que batalhar
tanto para atingir a beleza “sem esforço”, mas Blake conseguia fazer meu
coração palpitar com um sorriso bem calculado e uma calça jeans gasta.
— Você sempre usa camisetas no trabalho? — perguntei, ignorando a
pergunta dele. — Geralmente.
Ele deu de ombros.
— Mas usa ternos em cassinos?
— Eu não estava trabalhando.
— Sua lógica de vestuário é meio invertida, Blake.
Voltei a olhar para minhas anotações, mesmo já tendo perdido
completamente o fio da meada. Imagens dele naquele terno cinza parado na
porta do meu quarto de hotel ficavam embaçando minha mente. Ele deveria usar
ternos com mais frequência, pensei. Não. Não, não deveria. Sacudi a cabeça para
minhas anotações, grata por Blake não estar a par de meu diálogo interno.
— Se eu usasse terno aqui, haveria um motim. Tenho uma reputação a zelar,
afinal de contas.
Sid não vestiria um terno nem morto, então, talvez ele tivesse razão.
Passamos o restante da tarde no escritório de Blake. Trabalhei
exaustivamente em minha apresentação, enquanto ele digitava no teclado,
fazendo a mágica acontecer nos três monitores. Eu tinha feito um progresso
considerável e sentia-me confiante de que poderia responder a qualquer pergunta
que Max pudesse ter para mim em nossa próxima reunião e preencher as
lacunas deixadas no pitch aquele dia. Fechei o laptop e levantei-me para ir
embora quando Blake virou-se na cadeira.
— Qual o plano? — perguntou ele.
Ele me mediu de cima a baixo com um sorriso faminto, que não tinha nada
de inocente.
— Não sou sua chef particular. Você sabe disso, né?
— Talvez possamos negociar. — Ele se levantou e se debruçou na mesa à
minha frente. — O que eu poderia fazer por você?
Tremi com a rouquidão grave da voz dele. Por que é que ele tinha que
sempre ser tão sexy assim, droga? Talvez pudéssemos pular o jantar e ir direto
para a sobremesa. Mousse de chocolate pareciame bom. Lamber mousse de
chocolate em cima do abdômen durinho dele veio-me à cabeça. Cada gominho
delicioso... até lá embaixo. Ó Deus. Lambi meus lábios secos. Eu não tinha nem
de perto passado tempo suficiente admirando o corpo dele na primeira e única
vez que o tive nu.
— Você tem algo em mente, Erica?
Blake saiu de seu lugar à mesa e aproximou-se de mim.
Eu tinha ultrapassado o limite de tempo que podia passar sozinha com ele em
segurança. Como uma droga, a presença dele era potente. Mordi o lábio ao
pensar na fantasia de tê-lo como meu prato de sobremesa de carne e osso.
Recomponha-se, Erica.
Abandonei meu devaneio e endireitei-me.
— Aquele seu carro chique está aqui?
— Está. E não, você não pode dirigi-lo — provocou ele.
— Preciso comprar algumas coisas para o apartamento novo. Me dê uma
carona que eu faço frango à parmegiana pra você hoje à noite.
— Estarei pronto quando você estiver.
Passamos a próxima hora em uma grande loja de departamento, enchendo o
carrinho com utensílios de cozinha, toalhas e roupas de cama. Peguei o jogo de
lençóis mais barato que consegui encontrar de uma cor que me agradasse, mas
Blake, sem dizer uma palavra, o devolveu e substituiu por um jogo de 400 fios
que custava três vezes o preço daquele.
— Não sou feita de dinheiro, sabia?
O canto da boca dele se ergueu.
— Eu compro esse. E prometo que você vai me agradecer depois.
Ignorei o calor que percorreu meu corpo com tudo que aquela afirmação
implicava. Mesmo assim, não discuti mais sobre o assunto, já que estava
contando com a carona dele.
Na hora de ir embora, eu estava tão ocupada organizando as sacolas no
carrinho abarrotado que não percebi quando Blake passou seu cartão de crédito
antes que fosse tarde demais.
— Que merda é essa, Blake? — protestei.
— Vamos dizer que é seu presente de boas-vindas à casa nova.
— De jeito nenhum. Você está sendo ridículo.
— É o mínimo que eu posso fazer. Eu, de fato, basicamente forcei você a
morar ao meu lado.
— Debaixo de você — corrigi.
— É lá que gosto de você — murmurou ele, seus olhos escurecendo.
Aquelas poucas palavras deixaram-me sem fala e fiquei quente da cabeça
aos pés. Minhas mãos estavam tremendo um pouco quando enfiei o recibo na
bolsa.
Blake insistiu que eu esperasse no carro enquanto ele o carregava com as
sacolas. Voltamos para o apartamento praticamente em silêncio. Fiquei olhando
para a tela entre nós e lembrei-me da ligação que tinha aparecido na última vez
em que estive ali com ele.
— Então, quem é Sophia? — perguntei.
Fingi estar indiferente, olhando pela janela enquanto os prédios passavam por
nós.
— Ela é dona de uma empresa na qual eu invisto — respondeu ele. — Por
que a pergunta?
— Só curiosidade.
Dei de ombros e avistei nosso prédio de tijolinhos. Até então, Blake não tinha
mentido descaradamente para mim sobre nada, mas ele tinha a propensão de
fazer-me entender mal as coisas. Por hora, decidi que acreditava nele e deixei o
assunto pra lá.
Blake carregou todas as coisas para mim. Ele subiu os degraus, os braços
cheios com umas dez sacolas cada, enquanto eu corria para abrir a porta.
Assim que começamos a organizar as coisas, Sid entrou. Blake parou
imediatamente de dobrar toalhas, que, por sinal, ele estava fazendo
completamente errado, mas não tive coragem de dizer a ele.
— Sid, oi. Este é o Blake. Blake, você deve se lembrar de que falei do Sid,
nosso desenvolvedor.
Blake relaxou visivelmente e o aperto em seu maxilar desapareceu. Por que é
que ele agia como se dominasse o meu apartamento? Sid podia ficar agitado com
facilidade, então, a última coisa de que eu precisava era que Blake o fizesse
sentir-se desconfortável logo no primeiro dia.
— Claro — disse ele, indo até Sid para apertar a mão dele. — Prazer em
conhecê-lo.
Sid era mais alto que ele, mas seu braço tinha mais ou menos metade do
diâmetro que o de Blake. Os dois homens não poderiam ser mais diferentes, tanto
fisicamente quanto de temperamento.
— O prazer é meu. E você é...?
— Sou vizinho da Erica — respondeu Blake rapidamente.
Uma pontada de decepção percorreu meu corpo. O que é que eu esperava
que ele dissesse?
— Acho que você é meu vizinho também, então.
Sid tirou a enorme mochila das costas. A tensão no maxilar de Blake fez-me
questionar meu grande plano.
— Ótimo — disse ele.
Fui até lá rapidamente, esperando neutralizar a situação na qual Sid não fazia
ideia que tinha acabado de se meter.
— É, Sid vai ficar aqui até que a gente resolva a questão do investimento. Osdormitórios fecham esta semana, você sabe.
— Certo — disse Blake, passando a mão pelos cabelos.
Eu explicaria para Sid a associação de Blake com a Angelcom depois.
Enquanto isso, eu tinha uma cozinha para organizar, um prato para preparar e um
jantar constrangedor para servir.
Mostrei o quarto de Sid a ele. Tudo que eu tinha era um colchão inflável e
roupas de cama que iam ter que servir até que comprássemos móveis de
verdade. Ele não pareceu se importar muito, então, eu voltei para a cozinha e
comecei a preparar o jantar. Antes que eu percebesse, Blake estava atrás de
mim. Ele me virou.
— Você nunca me contou sobre o colega de quarto.
A voz dele era tão grave e séria que fez meu coração bater mil vezes por
segundo. Será que ele estava bravo? Eu não sabia dizer ao certo, mas me sentia
como uma criança prestes a sair para o recreio.
Convidar Sid para ser meu colega de quarto tinha sido uma decisão
precipitada, com certeza. Eu sabia como ele vivia, tipicamente em uma pilha de
embalagens de biscoito, e isso me preocupava um pouco. Mas, para falar a
verdade, eu não estava preparada para viver sozinha de qualquer maneira, e a
presença dele no apartamento podia ser útil para deter os avanços de Blake,
apesar de não estar funcionando no momento.
Engoli em seco antes de responder.
— Você não tem sido totalmente sincero comigo também, Blake. Não sei o
que você espera.
— É uma complicação. Suponho que a gente vá ter que contornar isso.
— Ah?
— Vamos simplesmente passar mais tempo lá em cima, só isso.
Ele se posicionou entre minhas pernas e ergueu meu joelho acima da coxa
dele em um único movimento fluido. Fiquei sem ar e agarrei-me à beirada do
balcão enquanto ele me encurralava ali. Ele deu um beijo quente no meu
pescoço antes de prender minha orelha entre os dentes.
Ofeguei com a sensação e segurei firme. Apertando os olhos, relembrei a
mim mesma de todos os bons motivos para não ceder a ele. Havia uma fronteira
com Blake. De um lado, eu o queria desesperadamente, mas, de alguma forma,
conseguia angariar a força de vontade para rejeitá-lo. Estávamos do outro lado
dessa fronteira agora, onde eu estava completamente à mercê dele, impotente
contra a determinação dele de possuir-me.
As mãos dele escorregaram por debaixo da minha saia e acariciaram a pele
desnuda das minhas costas, o contato levou-me às nuvens. Meus mamilos
enrijeceram e rasparam no peito dele quando me curvei em direção a ele.
— Preciso de você, Erica. Esta noite.
Ele pressionou a evidência de seu desejo contra mim.
A sua boca estava na minha antes que eu pudesse dizer “não”, eliminando
qualquer ideia remota de rejeitá-lo de novo. Ele me beijou com força e
intensidade, chupando e lambendo com uma urgência que correspondi
completamente. Finalmente, soltei as mãos do balcão e deslizei meus dedos pelo
cabelo dele, querendo-o mais perto. Ele se afastou para tomar fôlego e eu o 
  agarrei com ainda mais força, querendo-o de volta perto de mim.
Lá estávamos nós, as mãos de Blake subindo por debaixo da minha saia,
ambos pegando fogo um pelo outro, quando Sid saiu do quarto e parou, perplexo,
na sala de estar.
Congelei, petrificada por ter sido pega no flagra. Quando Sid não estava mais
à vista, Blake recuou lentamente. Ele me deu um sorrisinho malicioso,
mostrando-me que nosso showzinho tinha saído de acordo com o que ele tinha
planejado. Ele se recompôs antes de se virar e ocupar-se com alguma coisa na
ilha central da cozinha.
Alvoroçada com meu desejo e minha recente irritação, canalizei minhas
emoções na comida, ignorando as ofertas de ajuda de Blake. Estávamos
obviamente jogando um jogo, mas eu já estava ficando cansada dele. O único
movimento em que eu conseguia pensar era ignorá-lo, não dar a ele o que nós
dois queríamos, mesmo já estando prestes a explodir de frustração sexual. Se eu
pudesse controlar isso, talvez ele aprendesse que eu não era alguém com quem
se brinca.
De alguma forma, conseguimos sobreviver ao jantar. Comi no balcão da pia.
Tanto Sid quanto Blake devoraram o frango à parmegiana da minha mãe no
balcão. Precisaríamos de móveis de verdade em algum momento. Comprar
móveis dignos do apartamento com um orçamento apertado seria um desafio,
mas nada impossível. Resolvi procurar por umas barganhas depois que
terminasse minhas anotações da apresentação da manhã.
Agora, mais do que nunca, eu precisava que aquele apartamento fosse como
um lar para mim, um lugar seguro, longe de todo o resto do mundo. Neste
momento, o apartamento era sem graça e estranho. Entre isso, a Alli ter sumido
do meu dia a dia e a missão de Blake de virar meu mundo de cabeça para baixo,
eu me sentia como se estivesse em uma corda bamba, agarrando-me com todas
as forças a qualquer manifestação de normalidade.
Blake deve ter reparado que me afastei, pois quando terminamos de limpar
tudo, ele avisou que estava indo embora. Eu o levei até a porta e Sid entendeu a
deixa e sumiu dali.
— Você está bem?
Os olhos de Blake, há pouco tempo tão preenchidos pelo calor da luxúria,
agora estavam repletos de preocupação.
— Estou bem, só cansada. O dia foi longo.
Aquela era só meia verdade, mas eu não tinha energia para ponderar ou
discutir com ele.
— Quer uma carona até o escritório amanhã?
— Não, obrigada. Prefiro terminar tudo aqui. Tenho algumas coisas pra fazer.
Ele assentiu com a cabeça e, então, quando se aproximou para beijar-me, eu
virei a cabeça, meus lábios escapando por pouco dos dele. Fechei os olhos. Por
mais que eu quisesse deixar minha decisão clara, eu temia a expressão nos olhos
dele. Quando os abri, ele tinha desaparecido escada acima.
Fechei a porta e encostei-me nela. Meu rosto desabou nas minhas mãos.
Como diabos eu fui me meter nessa bagunça?

Atração Magnética 1° livro da série HackerOnde histórias criam vida. Descubra agora