Capítulo 10

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FINGI TRABALHAR O RESTO da tarde, mas estava, na verdade, contando os minutos
em silêncio até a hora de ver Blake. Eu estava ansiosa por comemorar o contrato
com Max, mas tinha sentido falta de ver Blake ultimamente. Agora, eu sentia
como se devesse, em grande parte, esse enorme passo rumo ao sucesso à ajuda
dele. Mesmo que essa ajuda tivesse vindo com toda a tensão sexual que eu estava
tentando entender, eu era grata por tudo da mesma forma.
À medida que o horário se aproximava, coloquei o vestido sexy e supercaro
que Marie tinha me ajudado a escolher. Inteiramente preto, com uma tira branca
fina na borda da saia tulipa, o traje era elegante, mas ainda adequado ao dia
quente, com alças finas e camadas leves de chif on. Complementei o vestido com
sandálias de salto de tiras e brincos pendentes prateados, e prendi o cabelo em
um coque frouxo.
Veríamos o que Blake tinha a dizer sobre aquilo, pensei. Retoquei a sombra
cinza esfumaçada. Com ou sem Blake, eu estava me sentindo o máximo e queria
estar linda esta noite. Alli ficaria orgulhosa.
Sid estava fuçando a geladeira quando saí de meu quarto, meus saltos fazendo
um barulho alto no chão. Parei no balcão de refeições para esperar por Blake. Sid
se virou e me viu, seus olhos se arregalaram.
— O quê? — perguntei, repentinamente com medo de não estar nem perto de
tão bonita quanto eu achava que estava.
— Hum... — Ele piscou. — Nada. Você está muito bonita.
Ele sorriu e desapareceu em seu quarto bem na hora em que Blake bateu à
porta.
Após mais um segundo, ele abriu a porta e diminuiu o passo quando dei a
volta na ilha central para cumprimentá-lo. Ele estava usando o mesmo terno
cinza escuro de Las Vegas, com uma camisa recém-engomada. A barba por
fazer destoava da formalidade de seu traje. Caramba. Fui até ele, tentando ao
máximo manter-me estável sobre os saltos, saboreando a expressão de puro
tesão carnal que passou pelo rosto dele.
— Oi — falei.
— Você está me matando com esse vestido.
Mordi o lábio, sem nunca saber o que ele podia fazer quando estávamos
sozinhos daquele jeito. Com um toque leve como uma pluma, ele traçou uma
linha da minha bochecha ao meu queixo, erguendo meu rosto para ele antes de
me dar um beijo lento e doce que, quando terminou, tinha acabado com todo
meu ar.
Entramos no badalado restaurante e o maître nos acompanhou sem demoras
à mesa para dois que parecia segregada por uma parede de vinhos que nos separava da área principal. Pelas janelas enormes, Boston se expandia. Lá
embaixo, dezenas de pequenos veleiros brancos pontilhavam o rio Charles e o pôr
do sol refletia seu caminho serpenteante pela cidade.
— Você sabe como eu adoro uma bela vista — murmurei.
Eu adorava o fato de estarmos terminando aquele dia perfeito ali e tenho
certeza de que dava para perceber.
— Eu sei, e agora que sei que você entende de gastronomia, vou inverter as
coisas e deixar você fazer o pedido por nós dois.
Eu ri.
— Que mudança, hein.
— Tudo aqui é incrível, então não tem erro.
— Não tenho dúvidas.
Analisei o cardápio.
Quando o garçom chegou, fiz o pedido. Confit de pato para ele e hadoque
para mim.
Depois que o garçom se foi, perguntei:
— É difícil para você não estar no comando?
Ele fez uma pausa.
— Sim, mas tenho experimentado em pequenas doses ultimamente.
— Como tem sido essa experiência?
— Hum... nem sempre é fácil.
— Me parece que pode ser libertador. Acho que, às vezes, seria legal dar um
tempo para se submeter a outra pessoa completamente. Nem que seja só por um
tempinho.
— Você pode se submeter a mim sempre que quiser.
Ele prendeu o lábio inferior entre os dentes, curvando a boca em um sorriso
safado. Estreitei os olhos para ele, entrando na brincadeira, sentindo minha pele
formigar. Eu estava gostando daquela provocação pseudossexual mais do que
esperava, mas precisava distanciar a conversa do assunto “sexo”. Blake
conseguia levar minha mente do nada à perversão com algumas palavras
calculadas.
— Você não tem aparecido muito. Algo de novo?
Os olhos dele encontraram os meus com uma expressão penetrante.
— Só apagando alguns incêndios no trabalho.
— Você não me perguntou sobre a reunião com Max.
— O que há pra contar? Eu sabia que Max ia investir no momento em que vi
você naquela sala de reuniões.
Eu queria ter sabido, pensei, nem que fosse para me poupar um bocado de
estresse e ansiedade. — Como você sabia disso?
— Bom, pra começar, você é linda.
Fiquei quente com o elogio, apesar de ter vindo de alguém que era a
definição da perfeição física, tive dificuldades em acreditar.
— Não entendi bem o que a aparência tem a ver com isso.
Fiquei brincando com meu guardanapo.
— A aparência pode ser persuasiva, especialmente para caras como Max.
Em segundo lugar, você tem um bom projeto.
Franzi a testa, confusa com o fato de a opinião maravilhosa de Blake esta
noite ir tão contra a linha brutal de questionamentos do dia do pitch.
— Se você achava que meu projeto era bom, então não entendo bem por que
sentiu a necessidade de me humilhar no pitch e me detonar.
Eu tinha conhecido Blake melhor nessas últimas duas semanas, mas o
turbilhão de emoções que eu senti naquele primeiro dia não foi facilmente
esquecido. Meu punho se fechou com a lembrança daquela experiência, a
rejeição fácil e simples dele estampada na minha memória. Fiquei irritada de
novo, minha pele agora coçava de raiva.
— Eu queria ver como você se saía sob pressão. Além disso, como é que eu
iria descobrir se você estava disponível? Dois coelhos com uma cajadada só.
Ele deu de ombros, como se aquilo não fosse nada.
Para ele, provavelmente não era. Para mim, era um evento que mudaria
minha vida, a culminação de meses de trabalho duro. Se íamos seguir adiante
juntos, ele precisava saber daquilo.
— Blake, eu dei um duro danado para ter a oportunidade de conseguir um
pitch com o grupo de vocês e você me desrespeitou completamente. É difícil,
para mim, imaginar como eu teria me sentido se não tivesse conseguido a
segunda reunião por sua causa. Me ocorre a palavra “devastada”.
Olhei para a cidade lá fora para evitar os olhos dele, com medo de que minha
raiva pudesse enfraquecer quando eu queria genuinamente que ele soubesse
como ele tinha sido babaca aquele dia. Eu estava guardando aquele pensamento
para mim já há semanas e fiquei repentinamente envergonhada por ter, na
verdade, dormido com Blake antes de ter lhe dado uma bronca por seu
comportamento. Todo orgulho que eu sentia por ter conquistado o que conquistei
com a minha idade, e eu estava longe de ser um ícone do feminismo.
— Você tem razão — disse ele em voz baixa.
Minha raiva desmoronou com o choque de ouvir aquelas palavras.
— Você não merecia aquilo.
Os olhos dele estavam desconcertantemente sérios, enquanto eu tentava
processar aquele quase pedido de desculpas. O garçom chegou com nossa
comida e comemos em silêncio por alguns minutos.
— Max pareceu chateado por você ter me ajudado — falei.
Amão dele bateu na mesa com força suficiente para me assustar.
— Você contou a ele que eu ajudei você?
Meus olhos se arregalaram.
— Supus que ele fosse ficar sabendo, em algum momento. Achei que vocês
fossem amigos.
— Somos colegas, não amigos, Erica.
Ele enfiou o garfo no pato agressivamente e cortou um pedaço antes de
enfiá-lo em sua boca perfeita.
— De onde você conhece o pai dele?
Ele ergueu as sobrancelhas, sua paciência com aquele assunto claramente
acabando. Fiquei preocupada que meu dia perfeito estivesse sendo ameaçado,
mas já que tínhamos chegado a este ponto...
— Blake, você sabe todos os tipos de coisas sobre mim e eu sinto como se não soubesse nada sobre você. Me conte algo. Qualquer coisa!
Gesticulei com a mão, frustrada, para que ele soubesse o quanto esta
diferença estava ficando difícil para mim.
O maxilar dele se contraía, enquanto ele continuava comendo a entrada. Meu
apetite minguou, apesar do filé de dar água na boca à minha frente. Comida
divina como aquela jamais deveria ser desperdiçada. Cutuquei o cuscuz
temperado em torno do peixe, quando Blake começou a falar. — Quando eu tinha
15 anos, me meti em uma encrenca.
— Que tipo de encrenca?
— Coisas de hacker.
— Que tipo de coisas de hacker? — pressionei.
— Não importa.
Recostei-me na cadeira, fazendo uma ligeira careta.
— Na época, Michael, pai de Max, queria diversificar, então ele começou a
investir pesado em softwares de computador. Ele conhecia minha história e veio
me procurar. Eu estava em uma fase ruim da minha vida, mas ele me deu uma
oportunidade. Pude programar o software para bancos nos meus termos, da
maneira que precisava ser programado. Obviamente, valeu a pena para nós dois,
dobrando o tamanho do portfólio dele e me deixando em uma situação bacana,
que me permitiu fazer o que faço hoje.
— Onde é que Max entra nessa história?
— Max é alguns anos mais novo que eu. Ele viu Michael investir em mim.
Não apenas profissionalmente, mas também como mentor e amigo. Ele ficou
ressentido, e quando o software vendeu, ele soube que jamais conseguiria chegar
no meu patamar. Ele tem dor de corno com isso até hoje.
— Ah.
— Está feliz agora, chefe? — perguntou ele, apontando o garfo para mim.
Ele era meio fofo quando estava irritado e fazendo confissões.
— Bom, não estou feliz com a história em particular, mas estou feliz por você
ter me contado.
Reprisei as duas reuniões na Angelcom na minha cabeça, agora sabendo que
Max estava em competição constante com Blake, ávido por qualquer
oportunidade de superá-lo. Meu negócio estava prestes a ficar irrevogavelmente
preso a Max. Agora, eu estava com um medo bem racional de que meu contato
com Blake pudesse se tornar problemático em algum momento, mas Max não
teria sabido de nosso relacionamento se eu não tivesse contado a ele.
Quando a conta chegou, Blake entregou seu cartão ao garçom antes que eu
pudesse pegar minha bolsa. Deixei passar e pedi licença para ir ao banheiro.
Quando voltei, comecei a andar em direção a Blake, que estava esperando
perto dos elevadores. Ele estava parado com uma elegância casual, as mãos nos
bolsos, o terno repuxado em todos os lugares certos, lembrando-me daquele
corpo escultural por debaixo dele. Eu não conseguia me focar em praticamente
mais nada, enquanto passava pelo longo e elegante bar e seus clientes, mas um
rosto no meio do caminho chamou minha atenção.
Congelei, repentinamente apanhada por um pânico detonador que abafou
todo o barulho do restaurante lotado. As batidas do meu coração saíram de
controle. Uma dor gelada percorreu meu corpo, estendendo-se dos pulmões às
pontas dos dedos.
Apoiei-me na parede ao meu lado, parecendo incapaz de mover-me mais
um centímetro para frente enquanto o rosto do homem que eu reconhecia se
virava na minha direção, como se ele sentisse que eu o observava.
Vestido com um terno de alfaiataria de risca de giz, ele parecia apenas mais
um no bar, tomando uma bebida depois de um dia duro, mas eu não era boba.
Depois de alguns segundos, o rosto dele se contorceu em um sorriso, quando ele
me reconheceu.
Ele se lembrava de mim.
Após três anos espiando por cima do ombro, sem nunca saber quando eu
poderia vê-lo de novo, eu tinha começado a acreditar que nunca mais o veria.
Sem um nome, ele era um fantasma, uma lembrança tão excruciante que eu
tinha passado anos tentando me convencer de que ele nunca tinha existido. Mas
ali estava ele, um pesadelo vivo que tinha voltado para assombrar-me. Xinguei a
mim mesma quando, irracionalmente, pensei que ter conversado com a Liz
tinha, de alguma forma, o invocado de volta à vida.
Lembro-me vagamente de ter ouvido Blake chamar meu nome antes de ele
estar do meu lado, pegando no meu braço para tirar-me no transe. Ele entrou em
foco e eu tentei, em vão, mascarar o medo que me assolava.
— O que foi? — perguntou ele, seu rosto enrugado de preocupação.
— Nada.
Peguei a mão dele e o puxei em direção aos elevadores.
Após algumas tentativas de fazer-me falar no carro, Blake pareceu desistir.
Entramos no ar gelado do apartamento dele e eu fingi estar em casa, servindo-
me no barzinho na sala de estar. Enchi um copo de vidro lapidado até a boca com
gelo e uma bebida âmbar esfumaçada de uma das muitas garrafas da coleção
dele.
Afundei-me no sofá e pressionei o copo gelado contra a testa, querendo que
os pensamentos frenéticos que tinham tomado conta fosse embora. Escondê-los
onde eles não aparecessem ser meus mais ou, melhor ainda, onde eu pudesse
esquecê-los por completo. Tomei um bom gole da minha bebida para acelerar
esse desaparecimento.
Eu não deveria estar aqui, mas não conseguia ficar sozinha neste momento e
dividir alguns metros quadrados com Sid não contava. Eu precisava de uma
distração poderosa e Blake sempre tinha sido muito útil nesse sentido. Ele se
sentou na mesa de centro à minha frente, prendendo minhas pernas entre as dele.
Ele acariciou a pele sensível acima dos meus joelhos, mas meu corpo estava
amortecido, incapaz de processar até mesmo os desejos mais primitivos que
Blake inspirava em mim.
— Fale comigo, por favor — pediu Blake calmamente.
Olhei para além dele, não revelando nada. Compartilhar meu passado com
Blake parecia impossível, mas alguma coisa ganhou vida. Uma pequena parte de
mim queria demolir o muro que mantinha meu passado escondido do presente
em segurança.
— Não tenho nada pra dizer — falei, incerta quanto a como sequer começar a contar a ele, mesmo que quisesse. Eu mal podia conter a enxurrada de
emoções que estava me aterrorizando desde que deixamos o restaurante.
— Isso é mentira. Parecia que você tinha testemunhado um crime lá dentro.
— Eu estava me lembrando de um.
Arrependi-me de ter dito aquelas palavras assim que elas saíram da minha
boca. Meu corpo ficou tenso com um tipo diferente de medo. Blake jamais
olharia para mim da mesma forma.
Ele saberia que alguém tinha roubado o meu prazer dele e que, na minha
ignorância estúpida e juvenil, eu tinha deixado.
Em silêncio, ele esperou que eu continuasse. Forcei o restante da bebida goela
abaixo, esperando pelo alívio que ela prometia. Se eu contasse a Blake agora, ou
ele fugiria correndo ou talvez ficasse preocupado, apesar de eu não conseguir
imaginar por quê. Concluí que se fôssemos ter qualquer chance no futuro, ele
teria que saber.
— Éramos calouros. Saí do campus com uns amigos para um fim de semana
de festas e acabamos em uma fraternidade. O lugar estava em polvorosa.
Dançamos, bebemos ponche demais. Eu quase nunca bebia, então estava fora de
mim quando terminei meu copo. Me afastei do grupo. Um cara lá, ele... —
Minha voz sumiu, perdida na lembrança que eu tinha enterrado com tanto
cuidado.
Como é que eu poderia explicar como eu tinha sido ingênua de seguir um
estranho simpático para um bar que nunca encontramos, como uma criança
sendo atraída por um doce? E que estava tão embriagada que mal consegui lutar
contra ele, minhas recusas perdidas no caos da festa que pegava fogo lá dentro?
O homem que eu tinha visto esta noite era o homem que tinha roubado minha
inocência, deixandome violada e doente no quintal, onde Liz me encontrou. Anos
preservando-me para o primeiro amor ou, no mínimo do mínimo, uma noite
animada de consentimento mútuo tinham sido em vão e a vergonha tinha me
mantido calada.
— Tentei lutar contra ele — sussurrei.
Dessa vez, não consegui conter as lágrimas que escorriam livremente pelo
meu rosto. Meus membros estavam fracos e pesados, puxados para baixo pelo
meu passado e pela realidade de que perder o que quer que fosse que eu tinha
com Blake seria um baque tremendo.
O maxilar de Blake contraiu-se e ele se afastou, passando as mãos pelos
cabelos. A separação momentânea do toque dele doía fisicamente, os lugares
onde nossas peles se tocavam ansiavam pelo retorno dele como uma
confirmação de que o que eu tinha contado não iria melindrar o que ele sentia
por mim. Um enjoo brotou dentro de mim só de pensar nisso.
— Está feliz agora?
Ri fracamente em meio às minhas lágrimas, querendo que Blake
respondesse. A expressão dele estava congelada com uma emoção não
identificável. — Sou mercadoria estragada.
— Pare.
O tom autoritário na voz dele me fez parar.
— Parar com o quê?
— Você não é estragada, Erica.
Engoli seco, querendo conseguir acreditar nele.
— Estou apenas constatando o óbvio. Não faz sentido para você querer ficar
com alguém como eu de qualquer maneira. Você deveria estar namorando
socialites, modelos, não alguém como... eu.
Minha voz sumiu quando aquelas palavras saíram da minha boca.
— Não estou interessado em namorar modelos.
— Isso não faz nenhum sentido, caralho, você percebe isso? Sou um caos.
Digo, olhe pra mim.
— Eu olho. Com frequência, na verdade. Você tem me deixado louco há dias.
Mal consigo dormir à noite.
— E agora?
— Agora eu tenho você. Nada de colegas de quarto, nada de multidões, e
você está tentando inventar todo tipo de motivo para afastar-me de você. Se você
acha que isso muda alguma coisa, você está enganada.
Desviei o olhar, lutando inutilmente contra as lágrimas que insistiam em cair.
Quando ele finalmente se sentou ao meu lado e me pôs em seu colo, fui de boa
vontade, querendo senti-lo perto novamente. Eu jamais entenderia como ele
ainda me queria. Ele me abraçou forte, me aninhando em seu peito até que
minhas lágrimas secaram.
— Você é deslumbrante — disse ele.
Acomodada em seu ombro, eu balancei a cabeça.
— Como você pode dizer isso depois do que eu acabei de contar?
— Porque é verdade. Erica, uma experiência terrível não define quem você
é. Se definisse, duvido que você fosse querer ficar comigo também.
— Mas eu quero — falei.
Minha mão deslizou por cima da camisa dele para sentir seu coração batendo
em um ritmo lento e estável. Eu não sabia nada sobre o coração dele, mas algo
dentro de mim queria merecê-lo. Como seria ter o desejo e o amor dele?
Repentinamente, meus sentimentos por Blake começaram a sobrepor-se às
lembranças dolorosas que ele tinha extraído de mim momentos antes.
Ele ergueu minha mão e passou os lábios suavemente por meus dedos.
— Também quero ficar com você, gata.
Naquele momento, senti como se estivéssemos juntos e nos conhecêssemos
há muito mais tempo do que a realidade. Eu tinha mostrado a ele parte de mim e
ele ainda estava ali comigo, apesar de tudo. Pouco a pouco, ele foi me
acariciando, reclamando cada pedacinho de pele desnuda com uma ternura
silenciosa que eu nunca tinha experimentado, curando-me com suas mãos e seus
lábios. A dor e o amortecimento deram lugar ao alívio e, então, a um calor
familiar que fervia lentamente sob a superfície.
Ergui a cabeça, um apelo silencioso pelo beijo dele. De alguma forma, ele
tinha ultrapassado minhas barreiras, dominando meus sentidos com o desejo
crescente de ser possuída. O cheiro dele, seu gosto e sua fome primitiva — eu
ansiava por tudo aquilo. Os lábios dele encontraram os meus. Inseguros no
começo; depois, mais certos. Explorei as profundezas da boca dele, enroscando
minha língua na dele, ávida por ele. Ele me correspondeu com uma intensidade equivalente. Ele me virou, de modo que fiquei montada nele, pressionando nossos
corpos juntos para que ficassem alinhados. Um gemido leve escapou de meus
lábios com o contato repentino e a efervescência dos movimentos dele. Então,
ele parou, cerrando as mãos e colocando-as ao lado do corpo.
— O que foi?
— Estou receoso demais, Erica.
A cabeça dele caiu para trás, no sofá, e ele engoliu seco, mexendo seu pomo
de adão. Eu queria beijá-lo ali, mas precisava entender o que se passava na
cabeça dele antes.
— E daí?
Ele apertou os olhos e seu corpo ficou tenso sob o meu toque.
— Me toque — implorei.
Atrapalhei-me com os botões da camisa dele, incapaz de esperar mais por ter
a pele dele na minha.
Passando os dedos por seu peito, aproximei-me para sentir o gosto do pescoço
dele, saboreando seu cheiro e o sal de sua pele.
— Espere — pediu ele entre dentes cerrados.
Afastei-me, obedientemente.
— Por quê?
Meu coração se afundou e a tristeza retornou à medida que o silêncio crescia
entre nós. Depois de tudo que eu tinha compartilhado com ele esta noite, seria
tola de achar que podíamos continuar como se nada tivesse acontecido.
Analisei os olhos dele. Um vacilo de emoção passou pelo seu rosto, antes de
ele desviar os olhos. Aquilo era medo?
— Eu quero você, Blake.
Deus, como eu queria. Mexi-me, incapaz de ignorar a dor desconfortável
entre minhas coxas.
— Eu também quero você. — Ele soltou um suspiro trêmulo. — Só não
quero... apavorar você.
— Não sou uma boneca de porcelana. Prometo que você não vai me
machucar.
Ele fechou os olhos novamente, suas mãos sem se mover ao lado de nós dois,
como se ele pudesse bloquear a tentação de tocar-me daquele jeito.
Curtindo cada gominho duro do abdômen dele, deslizei meus dedos por seu
peito, seguindo os pelos macios que desapareciam sob o cós da calça. Fui abrir o
zíper, mas antes que eu pudesse libertá-lo, Blake agarrou meus pulsos, segurando-
os firme enquanto respirava ofegante.
— Quero sentir você perder o controle, Blake.
Meu corpo pulsava, meu autocontrole estava por um fio. Tudo que eu queria
era que ele me possuísse da maneira que queria, da maneira que eu precisava
que ele fizesse.
Ele me pegou pela cintura e se levantou, erguendo-me sem esforço algum.
Enrolei minhas pernas nele, enquanto ele caminhava até o quarto. O cômodo era
levemente iluminado por duas arandelas de parede, a quase escuridão envolveu-
me como o calor do corpo dele.
Ele fechou a porta atrás de nós e prensou-me contra ela com um rosnado.
Prendi a respiração quando minhas costas bateram na madeira dura da porta.
Mordi o lábio e o apertei ainda mais, querendo tudo que ele podia me dar. As
alças finas de meu vestido caíram pelos meus ombros, um convite bem-vindo
para que ele libertasse meus seios, um de cada vez, provocando cada bico com a
língua e, depois, com os dentes. O agudo daquela sensação atravessou meu
corpo. Sussurrei o nome dele em gemidos, implorando por mais.
Ele colocou meus pés no chão e libertou-me do vestido, deixando-me nua e
desavergonhada, enquanto ele se ajoelhava à minha frente, trançando um
caminho de beijos quentes e devassos do tornozelo às dobras do meu sexo
molhado, que agora se contraía com a expectativa. Ele jogou uma perna minha
por cima de seu ombro, abrindo-me para ele. A fricção da barba por fazer na
parte interna da minha coxa quase me desmontou na mesma hora.
Passei os dedos pelos cabelos dele e apertei com mais força quando ele me
tomou em sua boca. Um fogo começou a crescer na minha barriga após apenas
alguns movimentos da língua dele. Deus, aquela boca tinha um talento único. Ele
centralizou seu foco no pequeno emaranhado de nervos que estava fazendo todo
meu corpo se contrair, chegando no limite do alívio. As lambidas dele ficaram
mais intensas e ele chupou meu clitóris com um fervor que me deixou sem
fôlego.
Minha visão turvou quando cheguei no ponto máximo, uma queda livre rumo
ao clímax estremecedor que quase me fez desabar nos braços dele.
Antes que meus joelhos pudessem ceder, Blake me pegou, meu corpo macio
e rendido contra os contornos duros do corpo dele. Ele me beijou, beijos lentos e
intensos que suprimiram os tremores do meu orgasmo recente. Minhas mãos se
espalharam pelo peito desnudo dele e removeram sua camisa, sedentas com a
chance de tocá-lo livremente, do jeito que eu queria há dias fazer. A pele dele
estava pegando fogo, totalmente esticada por cima de cada músculo contraído,
que pareciam estar se esforçando para conter-se de maneira impressionante. Eu
ansiava por tê-lo por completo.
Sem contenções. Ao natural.
— Blake, se você não me foder agora, juro que vou enlouquecer.
Os lábios dele se curvaram debaixo dos meus e ele nos levou até a cama.
Blake tirou a roupa rapidamente, seus músculos flexionando-se com cada
esforço, cada movimento uma promessa do poder que ele podia empregar.
Esperei, não muito pacientemente, enquanto ele pegava uma camisinha na calça
e a deslizava por aquela extensão admirável. Xinguei-me por nos ter feito
esperar, por nos ter privado daquele lugar onde nós dois tanto queríamos estar.
Bem quando eu esperava que ele viesse me fazer companhia, ele segurou
minhas coxas e me puxou para a beirada da cama, enrolando minhas pernas em
sua cintura e se encaixando na carne escorregadia entre minhas pernas. Os olhos
dele estavam sombrios. Sua respiração sibilou quando ele me penetrou em um
único e forte movimento, enterrando os dedos nos meus quadris.
Ofeguei com o tamanho dele, permitindo que meu corpo se acostumasse a
estar tão completamente dominado pelo dele. Fechei os olhos por um minuto
para absorver aquilo tudo, a perfeição que era senti-lo dentro de mim.
Como ele não se mexeu, eu abri os olhos. A expressão dele era tensa; a linha de seu maxilar, rígida. Ele escorregou a mão do meu quadril ao meu joelho e
retrocedeu um pouquinho.
Soltei uma leve lamúria de protesto. Travei os tornozelos e o puxei mais pra
perto, mais fundo. — É assim que eu quero você.
— Erica...
— Não quero que você se contenha. Quero você por completo, Blake.
Desesperada, curvei-me em direção a ele. A necessidade de senti-lo se
movendo dentro de mim, assolando-me, era implacável. O que quer que ele
estivesse pensando que eu não iria aguentar, era exatamente do que eu precisava.
— Por favor — implorei.
Ele soltou um suspiro trêmulo e retrocedeu lentamente. Então, penetrou-me
de novo, forte e fundo. Gritei. Minhas costas arquearam sobre a cama.
Assim mesmo.
Acompanhei as investidas rápidas dele, agora ferozes e destemidas, enquanto
minha boceta se contraía ao redor dele. Todo meu corpo estremeceu em um
estado aparentemente perpétuo de êxtase. Deleitei-me enquanto ele penetrava
cada vez mais fundo, atingindo um ponto sensível dentro de mim que eu jamais
soube que existia até que ele o tinha criado.
Agarrei a borda da cama, dando ainda mais alavancagem às investidas dele.
Quando eu achava que não poderia mais suportar, ele ergueu meus quadris do
colchão, levando o contato a um outro nível. Fechei as mãos em punhos em cima
dos lençóis.
— Blake, ah, meu Deus. Isso.
Gritos ininteligíveis saíam de mim à medida que eu me derretia em torno
dele, o prazer reverberando fundo dentro de mim.
Blake ficou tenso. Cada músculo do corpo dele virou pedra, sua respiração
acelerou enquanto ele gozava furiosamente.
— Erica, puta merda.
Ele jogou a cabeça para trás, os dedos deixando marcas na minha pele.
Ele congelou dentro de mim enquanto meu corpo tremia com os choques
posteriores àquele sexo louco.
Exausta do orgasmo, fiquei ali, mole e satisfeita. Após um instante, Blake
deitou-se na cama, puxando-me para perto dele. Ele me envolveu com os braços
e se aninhou no meu pescoço.
— Erica?
Resmunguei, amontoada no peito dele.
— Você está bem? — murmurou ele.
Olhei-o nos olhos, dilatados da nossa paixão, mas repletos de preocupação.
Meu coração se contorceu e eu me esforcei para encher os pulmões na
inspiração seguinte.
— Estou mais que bem. — Engoli o nó em minha garganta. — Nunca estive
com ninguém como você, Blake. Eu...
As próximas palavras sumiram. Ele encostou as pontas dos dedos nos meus
lábios e deu um beijo suave ali, roubando as palavras não ditas. Eu estava me
apaixonando por Blake, com mais intensidade e rapidez do que já tinha me
apaixonado por qualquer outra pessoa.
Ele foi beijando meu maxilar até chegar na minha boca, acalmando-me com
movimentos longos e profundos de sua língua. Apesar de carinhoso, o gesto
deixou-me pegando fogo de novo. Minhas mãos passearam pelo corpo dele,
apreciando cada curva de tirar o fôlego de sua anatomia. Eu não conseguia ter o
bastante dele, fosse olhando para ele ou dormindo com ele. O desejo de
reclamá-lo para mim me esmagava. Meus afagos se tornaram mais urgentes.
Puxei-o mais para perto e ele veio para cima, trazendo o peso de seu corpo para
cima do meu.
— Você é insaciável — murmurou ele entre beijos, prendendo meu lábio
inferior entre os dentes.
— Desculpe. Não sei o que há de errado comigo.
Curvei-me na direção dele. Quando mais ele me dava, mais eu desejava.
— Por que diabos você pediria desculpas?
— É cedo demais — falei, sentindo-o endurecer entre nós enquanto as
palavras saíam da minha boca.
— Posso aguentar a noite inteira se você conseguir.
Esticando meus braços acima de mim, ele entrelaçou nossos dedos. Ele me
manteve prisioneira, uma situação que elevava meus sentidos e deixava-me
formigando de novo da cabeça aos pés.
Estar com Blake intoxicava-me de todas as maneiras e meu vício nele se
solidificava a cada orgasmo de contorcer os dedos dos pés que ele provia. Enrolei
as pernas nele, meus braços impotentes, e o puxei para mim.
— Isso é um desafio? — provoquei, tentada a testá-lo.
— Sim — respondeu ele. Sua voz estava rouca de luxúria, enquanto seus
lábios vinham com tudo para cima de mim.

Atração Magnética 1° livro da série HackerOnde histórias criam vida. Descubra agora