Epílogo parte 2

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Anne Shirley

Depois de tudo achei melhor voltar para Avonlea com Corey, os outros continuaram em Nova Iorque e acho que meu único objetivo era recomeçar. Bem, na verdade fizemos isso, ou estamos fazendo a 12 anos. Sim, exatamente 12 anos desde de o tiro, a ambulância, o hospital, a carta e a morte. Eu poderia jurar que sem Gilbert eu não conseguiria mas aqui estou eu, morando em uma casa boa, com Corey e duas crianças que devem estar em seus quartos aprontando alguma coisa a julgar pelo silêncio em que elas estão. Se é o que está se perguntando, eu e Corey acabamos ficando juntos e tivemos dois filhos. Sim, é estranho eu sei, mas rolou e eu não pude evitar.
Hoje é meu aniversário e consequentemente aniversário de uma grande tragédia. Eu sempre decido dar uma olhada em uma das caixas que estão no sótão, lá é onde eu guardo as coisas que o Gilbert me deu desde que nos conhecemos, menos a pulseira e o colar, - esses eu ainda uso - inclusive o caderno contando nossa história. Belly e Paul nunca sobem aqui então achei que seria um bom esconderijo.
- Mãe? - Belly para na porta olhando com curiosidade para o caderno em minhas mãos. - Que livro é? Você nunca leu esse pra gente.
- Isso não é uma história. Bem, de certa forma é, mas não uma que vocês vão querer saber. - Falo sorrindo lembrando tudo e colocando o livro em cima da caixa.
- Ah, você achou ela. - Logo Paul e Corey aparecem na porta também. - Não sabia que tinha guardado.
Corey parecia surpreso, na verdade por que eu me livrei de quase todas as coisas do Gilbert, exceto alguns moletons.
- Não conseguiria jogar fora os presentes.
- Não acha que está na hora de contar para eles? - Ele pergunta e aponta para os dois que esperavam por mais uma história (que se eu contasse teria que esconder metade dos detalhes) - Eu te ajudo a contar.
- Agora não, quem sabe mais tarde. - Me levantei dali e saí do sótão. Não era uma boa hora, muito menos uma boa história.
Todos vieram atrás de mim e voltaram as suas tarefas normais. Eu não sabia ao certo o que contar e como contar, essa história do Gilbert morto e toda essa confusão não é o tipo de coisa que se conta para uma criança ou para qualquer outra pessoa.
Me distraí com programas de TV e acabei esquecendo que era meu aniversário, decidimos não fazer nenhuma festa esse ano e nem reunião com o pessoal, era só a gente, em família. Fiquei um bom tempo pensando em como é engraçado o jeito como as coisas funcionam. Eu sempre quis isso, no começo de tudo eu não me sentia pronta mas quando eu e Gilbert nos resolvemos eu percebi o quanto eu queria ter uma família e agora eu tenho, sem ele, mas eu tenho. E me sinto feliz por isso.
  - Já se passaram tantos anos Anne, seria bom contar. - Corey vem até mim com um pedaço de bolo. - Não acha que está na hora de fazer de tudo isso a sua história, seu romance trágico?
  - Eu não sei se é uma boa ideia, afinal tem tantos detalhes que não seria bom contar.
  - Anne, esse é o mundo, não pode proteger eles pra sempre, e se você acha que não é bom contar tudo, então conte só o superficial. Não tocamos nesse assunto desde daquele dia, essa é a hora.
  - Você tem razão... vamos contar.
  - Confio em você ruiva. - Chamei as crianças para que elas se sentassem comigo e com Corey no sofá e elas estavam sorridentes, como se esperassem aquela história a muito tempo.
  - Sabemos quem é o tio Gilbert mãe, olhamos o livro uma vez e tem uma carta muito bonita dentro dele. - talvez eu deveria repreende-los por mexer nas minhas coisas, mas algo me intrigou, não havia nenhuma carta dentro do livro, a única carta (que foi a de despedida) estava em meu quarto.
  - Carta? - Pergunto ainda tentando me lembrar se eu a vi em algum lugar.
Belly se levanta e vai até o sótão trazendo com o ela o caderno e logo me entregando. Eu estava pronta para isso? Quer dizer, eu não sei nem oque esperar dessa carta ou texto, ou bilhete. Eu não sabia mais nem oque pensar.
Passei um tempo encarando aquele papel e decidi não abrir, talvez em outro momento eu pudesse ler, mas agora não era a hora certa.
  - Bem, eu acho que posso dizer que Gilbert foi o amor da minha vida. Eu me sinto estranha em falar dele - tentei forçar um sorriso para ver se amenizava aquela sensação horrível de ter um nó na minha garganta - Mas, às vezes acontece. Gilbert era um cara legal, alguém que à algum tempo atrás eu daria minha vida para tê-lo de volta.
  - Você acha que ele gostaria da gente? - Paul me pergunta e sinto meu coração acelerar ao lembrar de sua voz dizendo que um dia adoraria poder ter uma família comigo.
  - Ele adoraria vocês. - Me levantei e fui até meu quarto, logo Corey aparece se encostando no batente da porta.
  - Tudo bem? - Ele pergunta
  - Meu pai e minha morreram quando eu era jovem, eu nunca pude contar a eles sobre o meu primeiro amor, eles nunca foram alguma festa importante na minha vida, eu nunca tive uma família. Me desculpa Corey mas... Gilbert sempre foi minha família e eu não vou contar pra eles tudo isso!
  - Hey, tudo bem, talvez possamos deixar para lá. - Continuamos um tempo ali em silêncio até Paul o chamar para jogar bola e eu ficar sozinha no meu quarto.
Havia uma única coisa que eu era realmente boa, me expressar. Talvez parecesse meio idiota para aqueles de fora mas eu adorava escrever pequenas cartas, coisas que ficariam guardadas, como páginas de um diário. E lá vamos nós de novo.

Querido Gilbert:

       Belly e Paul adorariam te conhecer...

Fim.

Definitivamente ❀ ShirbetOnde histórias criam vida. Descubra agora