Capítulo 29 » Aquele com o tiro

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Gilbert Blythe

Saí depois de arrumar tudo, e tentei falar com Josie Pye porém ela não estava em casa então fiz o caminho de volta para casa, era um pouco longe e dessa vez eu decidi fazer um caminho diferente, mais comprido para pensar um pouco na vida, ou melhor, na Anne. Queria entender a escolha dela e decidir se eu a deixava ser feliz com o seu novo namorado ou se lutava por ela. Isso tem sido um grande dilema, o qual eu tenho pensado muito desde a manhã no hotel.
Roy havia sido bem babaca com ela anos atrás quando ainda morávamos em Avonlea, e então ela veio para cá, se estabeleceu e viveu até agora sem a perturbação do homem.
Quando eu estava quase chegando em quase encontrei ele conversando com um cara na casa da rua de trás da de Anne, pensei em falar com ele mas desisti. Não estava com cabeça para brigar ou ouvir ele falar merda como sempre. Mas como nada estava dando certo hoje, ele me chamou. O outro homem com quem ele estava entrou em sua casa e fechou a porta como se fugisse de algo e eu queria fazer a mesma coisa. Queria fugir de qualquer conflito que pudesse acontecer naquele momento.
Antes que eu me aproximasse muito Roy puxa uma arma e aponta para mim, automaticamente levanto as mãos e fico parado no lugar. Estático, sem mexer nenhum músculo se quer.
- Gilbert, que surpresa agradável, está feliz em me ver? Eu sei que sim não precisa me responder. - Ele vai dizendo tudo em um tom sínico que eu odiava. Porém ele estava com a arma, ou seja, ele estava em vantagem. - E a Anne, está bem?
- Roy solta a arm...
- Quem fala aqui sou eu, você vai apenas escutar.
Ah ótimo agora eu estava na mira de uma arma cujo a pessoa que segurava ela queria fazer isso a muito anos. Qual é a chance de isso dar certo? São quase inexistentes.
- Então meu amigo, você conhece a Anne, sabe o que ela sente e nem um de nós é burro para não ver o quanto ela te ama. Porém... - ele faz uma pausa e ri - Tudo tem um preço, não acha? E um amor custa bem caro.
- Qual é a moral de tudo isso?
- Anne quer ficar com você, mas às vezes querer não é poder.
Nesse momento a ruiva apareceu na porta dos fundos sem fazer nenhum barulho, se eu fosse idiota o suficiente eu teria dito o nome dela, porém achei melhor continuar quieto. Ela estava claramente assustada e quando me viu na mira da arma ela fez menção de cair, e isso teria acontecido se Corey não tivesse a segurado. Os garotos estavam juntos e ninguém ousou dizer uma só palavra ou fazer qualquer tipo de barulho que pudesse entregá-los.
Quando Anne recuperou as forças nas pernas para sustentar o peso de seu próprio corpo ela pegou celular e fez duas ligações (eu esperava muito que aquilo fosse salvar a minha vida, por que eu estava entrando em desespero). Ela deu passos silenciosos em nossa direção até Gardner se virar apontando a arma pra ela e logo depois voltando para mim.
- Roy! Olha pra mim. Você não precisa fazer isso, vamos resolver tudo... - A garota diz tentando amenizar a situação mas não acho que isso tenha acontecido.
- Claro ruiva, que nem resolvemos da última vez, quando você fugiu de Avonlea e veio parar neste inferno de cidade?
- Larga a arma por favor - Ela diz e dá mais uns três passos.
- Mais um passo e eu atiro nele, tá me ouvindo?
Sabe quando você está em uma situação arriscada e não sabe se vai sair dali? Existe uma hora que a mente é tomada por um turbilhão de memórias, lembranças que marcaram nossa vida. Como o primeiro beijo, a primeira vez que andamos de bicicleta, a nossa primeira noite com alguém especial e você também começa a pensar em como será a partir do momento em que tudo acabar. Meus amigos estavam ali assistindo toda a cena com apreensão e a pessoa que eu amava tanto quanto a mim mesmo estava a poucos metros de mim e essa foi a única vez que eu desejei que ela saísse da minha órbita. Eu nunca tive forças para ver ela se afastar e provavelmente dessa vez não seria diferente, mas era necessário que ela fosse embora e me deixasse sozinho com Roy.
- Cenourinha, por favor, volta pra casa. - Seu olhar vem em direção à mim e ela nega com a cabeça, seus olhos estavam lacrimejando e ela se negava a dar um passo para longe de tudo aquilo.
- Que lindo apelido, aproveita bem para chamá-la assim, serão as últimas vezes que ela ouvirá sua voz.
Teve dias que eu acordei aqui e NY e me perguntei quanto tudo isso duraria e como acabaria. Por mais que eu não quisesse admitir agora eu tinha uma resposta e não era a das melhores.
- Gil... - Antes que Anne terminasse de falar Roy se vira para ela com um sorriso no rosto.
- Qualquer gracinha sua, o seu tão amado Gilbert morre. Quem diria não é? Acho que você finalmente teve seu romance trágico Anne Shirley.
Ouvimos um barulho bem conhecido, a sirene de uma viatura de polícia, e logo atrás uma ambulância. Então essa eram as ligações que Anne fez? Quase agradeci a deus por isso, se não fosse o pequeno detalhe da frase 'qualquer gracinha sua, o seu tão amado Gilbert morre'. Acho que essa é uma boa hora pra dizer adeus.
Anne fez esse tempo valer a pena e pelos momentos com ela tudo tinha se tornado melhor. "Adeus Cenourinha, eu te amo muito".

Definitivamente ❀ ShirbetOnde histórias criam vida. Descubra agora