Capítulo 1

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24 de outubro.

Rafa tentava em vão ler. Prender sua atenção em algo, mas estava quase impossível. Suas mãos suavam. Seu pé batia freneticamente no chão. Rafa olhou mais uma vez para o objeto em suas mãos, para tentar em vão desviar o seu eterno pavor de voar. As páginas de seu livro já estavam desgastadas. Seu exemplar, de modo brochura continha várias páginas soltas. E ao folhear - ló uma das páginas se desprendeu e aterrissou no corredor do avião. E Rafa com toda sua elegância recolheu a folha do chão e a acomodou junto com as outras.

—Eu já lhe disse para jogar esse livro fora e utilizar o que eu lhe dei mês passado. É a mesma coisa. Só muda a edição. – Rafa escutou uma voz vinda depois de duas cadeiras de seu assento, e não conseguiu conter um sorriso. Era incrível, como depois de anos, ela ainda conseguia se arrepiar ao escutar a voz de sua esposa.

—Gi, meu amor. Eu já lhe expliquei mil vezes que muitas coisas podem mudar, nas edições dos livros. Vou ler esse depois leio o que você me deu. – Rafa falou sorrindo da expressão incrédula do rosto de sua esposa, que mesmo sem saber, conseguia transmitir a calma que ela precisava no momento. – Esse livro pode me trazer muitas emoções.

—Eu acho que a única coisa no momento que ele está transmitindo é doença. – Gizelly falou sorrindo e voltou sua atenção para um relatório seu notebook.

Rafa resolveu ignorar o comentário de sua esposa. E tentou retornar para sua leitura. Mas, quando já estava conseguindo terminar o terceiro parágrafo, é interrompida novamente.

—Ei Rafa. – Gizelly falou por trás de seus óculos de grau. – Você ligou o alarme da casa, quando a gente saiu?!

—Liguei. Foi a última coisa que eu fiz. –Rafa terminou de falar e voltou sua atenção para livro. Mas menos de 30 segundo depois Gizelly lhe interrompe de novo.

—Não, Rafa. Eu fui a última sair. E eu tenho certeza que não liguei. – Gizelly falou com um olhar pensativo. Tentando em vão se lembrar.

—Não amor. Eu fui a última a sair e eu tenho certeza que liguei o alarme. – Rafa falou convincente e Gizelly lhe olhou com ceticismo. – Eu juro.

—Tem certeza?! –Gizelly lhe perguntou ainda sem acreditar.

—Tenho. – Rafa respondeu sorrindo e depois retornou sua atenção para o livro, mas, outra vez foi interrompida.

—Não, não. Eu fui a última a sair. Eu voltei para pegar meu notebook. – Gizelly falou de modo teimoso atraindo à atenção de Jack que estava distraído colorindo um desenho, sentado entre as duas mulheres. – Então isso quer dizer o alarme não foi ligado. Eu não o liguei.

—Então isso significa que vamos voltar para casa e encontrar um bando de hippies fedorentos dormindo na nossa cama. – Rafa falou dando os ombros, rendida à teimosia de Gizelly.

—Como quando nos conhecemos?! – Gizelly perguntou sorrindo e contagiando Rafa com seu sorriso. Mas, esse encanto foi quebrado. Pois uma turbulência forte atingiu o avião, fazendo com que toda a apreensão de Rafa voltasse.

—Calma amor, é só uma turbulência. – Gizelly falou tentando tranquilizar a esposa.

Desligue os aparelhos eletrônicos. Coloquem a mesa no lugar e coloquem o cinto. Vamos aterrissar em breve.

Rafa colocou seu cinto. Ajudou Jack a recolher a mesa e observou sua esposa guardar seus objetos eletrônicos, quando uma pessoinha parou ao seu lado.

—Mamãe Rafa. – Uma Sophia chorosa com os olhos amedrontados encaram olhos idênticos aos seus.

—O que você está fazendo aqui meu amor?! – Rafa perguntou olhando para sua filha. – A gente já vai pousar.

O IMPOSSÍVEL (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora