Capítulo 03

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#Alguém ler essa fanfic? 

P. O. V. Rafa

Senti minhas costas sendo imprensadas contra o vidro e em questão de segundos ele se rompeu me arremessando contra os troncos. Eu não conseguia nadar para superfície. Estava sufocando. Meu nariz ardia. Minhas vias respiratórias pareciam serem cortadas por lâminas afiadas. A água me arrastava como se eu fosse um grão de areia. Passei por corpos sofrendo da mesma agonia que eu. A água continuava a me guiar, levando – me sem qualquer resistência. Sinto algo fincando em minha perna direita, como se fosse uma adaga afiada. Tento gritar, mas a água invade minha boca. Me sufocando mais ainda. Sou jogada fortemente contra um telhado de hotel ,o impacto me leva para superfície. Inspiro tudo que eu podia no momento ,até ser mandada de novo para baixo. Mas dessa vez de forma menos agressiva. Consigo nadar para superfície novamente, e com um movimento rápido me agarro ao tronco de um coqueiro e ouço suplicas misturadas aos meus gritos, formando um coro macabro.

—Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. – Grito por ajuda. –Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. – Grito por desespero. – Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. – A força da água parecia querer separar meus braços do resto corpo.

Com minha respiração descompassada. Meus braços doendo e minha perna latejando. Seguro com toda força que podia naquele tronco.

—Ahhhhhhhhhhhhhhhh. – Já não consigo conter as lágrimas. O barulho da água era ensurdecedor. Minhas esperanças estavam se esvaindo. Meus braços não conseguia mais suportar aquela pressão, quando escuto uma voz bem conhecida e tão amedrontada quando a minha.

—MÃEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. – Escuto Rafael me chamando, mas não sei de onde vem a voz. – SOCORROOOOOOOOOOOOOOOOO. – Vejo Rafael passar por mim, sendo arrastados pelas águas.

—RAFAEEEEEEEEEEEEEEEEL. – Grito em vão, vendo seu corpo esguio ser levado pelas águas.

—Mãeeeeeeeee ME AJUDA. – Rafael grita mais uma vez, e parece que uma força tomou conta de mim. Meu instinto materno falou mais alto e eu soltei do tronco da árvore e me deixei ser arrastada pela correnteza.

Eu tentava nadar, mas era vão. Tentava ver aonde Rafael teria sido levado, mas não consegui. Então gritei.

—Rafaeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeel.

—Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee... Me ajuda ....Socorro... – Rafael gritava um pouco mais a frente.

Eu continuei a tentar nadar, as a correnteza me empurrou contra uns galhos e sentir o pedaço de madeira me perfurar abaixo das costelas me fazendo afundar. Perdi as forças. No momento eu estava apenas sendo arrastada. Consegui ir para superfície e vi Rafael agarrado a uma coisa.

—MÃEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. – Rafael gritou a me ver passar por ele.

—Aguenta firme filho. – Eu gritei enquanto era arrastada. – Segura firme. – Eu já tinha me distanciado dele, mas estava mais calma em saber que meu filho estava seguro, até escuta um grito um pouco atrás de mim.

—Mãeeeeeeeeeee. –Rafael gritou, ele tinha se soltado de seu abrigo e agora era arrastado junto comigo.

Vi um colchão lá frente, ele havia se prendido em uma arvore.

—RAFAEL. – Eu chamei porem afundei. – NADA PARA O COLCHÃO. – Disse assim que fui para superfície.

—MÃEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. – Ouvi Rafael gritar.

—Rafael o colchão. – Gritei e ele alcançou o colchão.

Eu continuava a ser arrastada, eu lutava contra a correnteza até que consegui me segurar no colchão. Porem a força da água soltou o mesmo da arvore e arrastou a gente.

—Mãe eu quero ir para casa. – Rafael gritava enquanto tentava ficar por cima do colchão.

—Segura minha mão filho. – Eu tentava a todo custo alcançar Rafael.

—Mãe me ajuda. – Rafael pedia. – Mãeee. – Rafael tentava segurar minha mão porem o esforço fez o colchão virar nos mandando para fundo. E quando eu consegui chegar à superfície, não vi mais Rafael.

—RAFAEEEEEEEEEEEEL. – Gritei, mas não obtive mais nenhuma resposta. – RAFAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEL.

Eu estava desesperada. Olhava em todas as direções possíveis, ate que vi um pouco distante dali, Rafael chegar à superfície.

—RAFAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEL. – Gritei e recebi de resposta um grito aterrorizado.

—Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee. – Rafael gritava. – Me ajudaaaaaaaa.

***

Havia vários carros sendo arrastados, vários gritos de socorro. Choro de criança pequena. Todos querendo se agarrar ao último fio de esperança, até que as águas pareceram se acalmar repentinamente e sentir meu corpo ser puxado levemente na direção contraria a correnteza. Petrifiquei-me ao ver uma segunda onda enorme se aproximar. Eu estava sem reação, tão quanto Rafael, que observava a segunda onda em transe. Eu estava a uns trinta metros de Rafael e vi que não daria pra nadar ate ele ou me segurar em algo então eu o mandei fazer a única coisa que veio em minha mente.

—Mergulha filho. MERGULHA. – Mal eu terminei de falar e vi Rafael ser coberto pela onda. E em poucos segundo era eu.

A onda veio muito forte. Arrancando de mim todas as minhas forças. Fui arrastada com muita violência. Parecia que eu me encontrava em um liquidificador enorme. Quando a onda passou por mim, não tive forças e nem coragem para erguer a cabeça. Deixei-me ser levada, boiando, até que senti parar em algo. E escutei a onda destruir ainda mais as coisas na minha frente. Fiquei parada, quietinha, até que escutei um grito não tão distante dali. Um grito amedrontado de Rafael.

—Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee. – Rafael gritou. E pela primeira vez depois da segunda onda, ergui os olhos para o céu. – Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.

Rafael nadou até a mim, nas águas um pouco mais calmas e eu apenas abri os braços, e esperei o corpo do meu filho chegar até a mim.

—Rafael, graças a Deus. – Eu Agradeci aos céus assim que sentir os braços finos de Rafael abraçar em volta do meu pescoço e suas pernas grudarem na minha cintura. Ele tremia muito e chorava. Nunca vi meu filho tão assustado. E o pior, não poderia fazer nada, eu estava tão assustada, quanto ele. Deixei-me levar pelas águas.

—Nunca mais faz isso comigo. Nunca mais faz isso comigo. Nunca mais mãe. – Rafael pedia no meu ouvido, enquanto me abraçava com mais força. – Pensei que a senhora estivesse morta. Por favor, não faz isso comigo.

—Shiiii, vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. – Eu tentava o acalmar. – Mamãe Rafa estar aqui. Então vai ficar tudo bem. – Continuei tentando lhe confortar, até que ele falou a baixinho.

—Mãe, tem uma arvore lá na frente. A senhora está vendo. – Ele apontou com um dos braços e nadamos até lá. Rafael queria subir no tronco, mas, ele estava quase cedendo, e para não repetir o que aconteceu com o colchão, lhe pedi para ficar quieto.

—Cuidado filho. Não se meche assim. Fica quieto filho, não se meche. – Terminei de falar e Rafael ficou quietinho. E se aproximou de mim.

—Eu fui corajoso, mãe. – Rafael chorava. – Eu fui um verdadeiro Kalimann - Bicalho, mas agora eu estou com medo. –Seus lábios tremiam do choro e do frio. E eu não pude fazer nada a não ser lhe abraçar.

—Shii.. – Tentei acalmar seu choro e suas angustias. – Shiiiiii. – Repeti no seu ouvido pedindo calma. – Eu também estou com medo. – Eu lhe abracei com um dos braços e chorei.

—E a mamãe Gi?!Onde ela está? – Rafael perguntou baixinho e uma angustia se fixou no meu peito. Eu não sabia responder. A minha ultima lembrança dela e dos meus outros filhos, tinham sido ela sendo engolida pelas águas.

—Eu não sei. – Eu disse com minha voz tremula. Eu morria por dentro, só em saber que meu grande amor e meus outros bebês estavam passando pelo mesmo que eu.

Fim do P. O. V. Rafa .

O IMPOSSÍVEL (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora