Novos na cidade pt: 01

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"Dê ao homem a paz e ele lhe dará guerra"

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"Dê ao homem a paz e ele lhe dará guerra"

Minha mãe dizia que um dia as portas que nos separam do inferno seriam abertas, iniciando assim o apocalipse, um grande asteroide abriria os céus e a fumaça emanada por ele seria tóxica e traria pragas e pestes, Deus viraria as costas para nós e deixaria que os demônios fizessem uma carnificina com a nossa carne podre e pecadora. O apocalipse sempre me assustou e acho que minha mãe sempre soube disso, ela me fazia sentir medo constantemente, porém agora ela nem se quer olha no meu rosto e quando olha, está bêbada e preparada para descontar todo o seu ódio em mim, desde que nos mudamos para essa cidadezinha no interior ela mudou muito, sinto que o fardo da morte do meu pai ainda á incômoda, mas não entendo o motivo do ódio que ela desconta em mim.

Chegamos nesse interior no início do mês de agosto e estamos aqui a dois dias, acho que posso me acostumar com todo esse clima úmido e lamacento. Ouvimos falar muito dessa cidadezinha principalmente por ser tão conhecida por sua grande serraria na beira do rio, mas o nome dela é tão incomum que me fez rir muito ao lado do meu cachorrinho Bob, imagina só "Macuxi" uma cidade tão linda e bela, o mínimo que imaginaria era uma cidade escondida entre as árvores e sem nenhum sinal de telefone, porém me enganei ela é realmente linda. As pessoas daqui me causam incomodo, acho que elas me olham torto, talvez seja por eu ser uma cara nova por aqui, mas logo eu irei virar essa pagina, já me matriculei na escola da cidade e vou começar amanhã, mal vejo a hora de fazer amigos.

A cidade tem dias curtos! Olhando no relógio eu notei que ainda são 15:00 horas e já escureceu, isso é estranho. Não vejo ninguém na rua após os postes acenderem e a única criatura que ainda vejo pelas ruas asfaltadas é um morcego, que a muito tempo rodeia o porte na frente da minha casa. Bob ficou agitado e não para de latir para a porta, isso é irritante, mas entendo que ele ainda estranha a casa, até eu ainda estranho. O piso feito de madeira e a pouca iluminação dessa casa deixa tudo mais esquisito, inclusive o porão e o sótão que eu não me atrevo a entrar.

Meu pai dizia que os cachorros latiam para lugares vazios quando viam fantasmas, se isso for verdade eu espero que o fantasma que Bob esteja vendo seja o meu pai, queria que ele estivesse aqui, ele estaria tão feliz nessa casa e nessa cidade, tudo isso sempre foi o sonho dele, morar em uma cidadezinha no interior, fugir da fumaça dos carros e de toda a poluição que existe na cidade grande. Agora nós dois estaríamos tirando nossas coisas de dentro das caixas que ainda se amontoam no corredor, talvez até estivéssemos discutindo sobre esse ano ser o meu último ano na escola. Não está sendo fácil aguentar toda essa carga do fim do meu período escolar sem ele aqui, minha mãe não está presente e nem quer estar.

Me sentei na cama e comecei a fazer anotações para o dia de amanhã, acho que vai me ajudar a saber o que fazer, não quero perder tempo, vou passar no mercado e talvez eu vá ver a tão famosa serraria, sempre achei bonito a madeira sendo partida por serras, estou animado. Comecei a olhar pela janela junto a Bob, mas logo me escondi ao notar uma garota de cabelos cacheados que se aproximava da minha casa e agora começará a chamar na porta.

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