Bebado

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     Que tipo de homem eu seria, se não escutasse as palavras ditas com tanto fervor por Alexya naquela floresta

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Que tipo de homem eu seria, se não escutasse as palavras ditas com tanto fervor por Alexya naquela floresta. Sou um cara de coração destroçado, eu certamente deveria sentar mais vezes e olhar o ar lá fora, estou esquecendo do que realmente importa, deixando a raiva tomar conta das minhas decisões. Me sentei na mesma mesa que me sentei da primeira vez que estive na cafeteria, a melhor mesa pois tinha a vista mais bonita da serraria e do lago.

Meu padrasto foi preparar uma compressa de água para colocar no meu braço inchado, Alexya encontrou algumas gazes e um pouco de álcool para limpar meus ferimentos. Tudo ardia e doía, mas era reconfortantes saber que tudo ia ficar bem, que nada de ruim estava para acontecer comigo ao lado dessas duas pessoas incríveis. Ivan ligou a televisão que estava acima do balcão da cozinha, logo iniciou-se um programa infantil muito divertido, estava passando o Coiote e o papa-léguas. Era um desenho frenético, mas engraçado, eu nunca tive uma televisão, então não conhecia essa obra prima da diversão infantil.

Eu estava maravilhado, meus olhos se enchiam de alegria e meu coração palpitava. Eu estava me sentindo bem, parecia que alguma coisa tinha mudado em mim depois daquela noite na floresta, eu não sentia mais aquela vontade ardente de tirar minha vida, naquele momento eu queria desfrutar de tudo, desde uma panqueca bem preparada por Alexya, a um café forte e ruim do Ivan. Era aquilo que parecia faltar na minha vida, um lugar que eu pudesse me sentir bem. Aquela manhã foi marcada por um pouco de reclamações em relação ao álcool passado nos meus ferimentos, mas de muitas risadas e alegria, Alexya gritava comigo toda hora quando eu reclamava do ardor, ela sempre repetia "Deixa de reclamar, se não ti bato".

A cafeteria tinha que abrir em algum momento, principalmente nesse dia, pois a noite chegaria as 10:00. Ivan pediu para Alexya preparar um lugar para mim nos fundos onde eu ficaria descansando enquanto eles trabalhavam. Prepararam o sofá, me deram um edredom e algumas almofadas. Eu estava tão cansado que adormeci rapidamente, estava tudo calmo, com os olhos fechados eu escutava o som dos talheres e cadeiras sendo arrastadas, a cafeteria estava cheia. O cheiro do café e da canela que Alexya colocava no cappuccino, ficava impregnado no ar, mas não era ruim, na verdade eu adormeci mais rápido por conta disso.

Acordei um pouco mais tarde com lambidas e pulos doloridos na minha barriga, além de muito grunhido e arranhões. "Bob" falei sorrindo e afagando meu cachorro, provavelmente Alexya deve ter trazido ele até a cafeteria. Haviam ligado a Junkbox e colocaram para tocar um country calmo e leve, que trouxe um clima gostoso para aquela noite, mas não seria a música que impediria que coisas ruins acontecessem. "O senhor Luca Reis se encontra?", Eu ouvia um homem de voz grave perguntar por mim. Me levantei devagar e caminhei até a porta onde olhei pela brecha, a conversa dele com Ivan.

- Ele tá descansando - Dizia Ivan - E quem é o senhor?

- Eu sou o pai do Kevin, eu quero que você me entregue o viadinho do Luca agora! - O homem gritava.

Ele estava exaltado e com grandes sinais de embriaguez, parecia que a qualquer momento ele iria socar o meu padrasto que manteve uma postura firme. Acho que o pai do bobo Kevin não tem chances contra o Ivan, principalmente pelo porte físico dele que não passava de um magricela e meu padrasto era robusto e forte, eu não procuraria briga com ele, eu já tinha medo de suas tatuagens, imagina de um soco dele.

- Senhor por favor, se retire - Disse Alexya calmamente.

- Sai da minha frente vagabunda - O homem levantou sua mão rapidamente e desferiu um tapa no rosto da garota.

Alexya apalpou a área onde havia levado o tapa e retribuiu a ação com um soco certeiro, fazendo o homem cair sobre uma mesa e desmaiar e Ivan apenas observava de braços cruzados, como se soubesse que acabaria daquela maneira. "Vagabunda é sua mãe", disse Lexy se aproximando do bêbado caído e lhe dando um chute. Peguei Bob pela coleira e abri a porta que dava para a cozinha, acabei me deparando com Alexya colocando gelo nos punhos e Ivan jogando o bêbado para fora.

Por algum motivo eu não senti raiva ou medo daquele homem, eu senti pena por ele ser tão frágil e pensar que poderia bater na Lexy. Era engraçado, olhar para ele desacordado lá fora, depois daquele soco. Eu estava realmente admirado com a minha amiga, agora queria que ela me ensinasse a me defender daquela forma, mas quando pedi isso, ela retrucou me falando que foi apenas sorte em ter acertado o soco em cheio, ela também disse que já estava acostumada a ter que resolver situações como aquela e de as vezes acabar sendo agredida, mas quase sempre era protegida por Ivan.

Alexya se questionava muito sobre o quanto muitas mulheres eram vítimas de homens como aquele, mas não tinham meios ou alguém que as defendesse. Ivan me levou até uma mesa e pediu que eu deixasse Alexya se acalmar, enquanto isso nós iríamos conversar.

- Agora preciso saber o que você viu na floresta ontem - Dizia Ivan.

- Eu vi meu pai.

- Preciso que me prometa que não vai mais entrar lá, principalmente a noite. - Disse segurando minha mão com força.

- Nem precisava avisar, depois de ontem não entro mais lá.

Ainda calada Lexy levantou-se pegou o lixo da cozinha e foi colocar na lixeira nos fundos.

- Depois de amanhã eu e Lexy vamos fazer compras em Eskol, quer vir?

- Não sei Ivan, eu vou ter que ir de ônibus, sua moto só cabe dois.

- Você vai comigo e Lexy de ônibus.

- Não, tenho medo do que possa acontecer com ela.

Ivan me olhou profundamente, mas quando ia me falar algo, alguém entrou na cafeteria, alguém que aparentemente não agradava muito ele. Era Mirian, usando um vestido amarelo e florido, com uma câmera pendurada no pescoço e uma boina cinza na cabeça. Ela se aproximou de mim, levantou a câmera até seus olhos e disse "Sorria", antes que eu pudesse expressar tal reação ela disparou o flash, que fez minha vista embaçar, mesmo que eu esfregasse os olhos, aquele flash foi tão certeiro que deixou tudo borrado por uns minutos.

"Ficou lindo" afirmou ela sorrindo, eu apenas respondi com um sincero, "Tá doida!?", Eu havia acabado de acordar e ela faz isso. Eu queria que Bob fosse valente ou que pelo menos tivesse me salvado daquele flash.


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