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-Só ando com um pouco de medo...e saudade
-Saudade do que?
-Umas versões de mim
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Sinto seus dedos gélidos, macios e frios como a neve pousar na minha mão delicadamente, roçando a ponta da unha na palma da minha mão como se quisesse se assegurar de que eu ainda estava ali. Eu levanto a cabeça para encarar seu rosto suave e você exibe o sorriso de sempre, que parece sacudir o mundo. Pelo menos o meu mundo. Esse sorriso desperta as mariposas no meu estômago, perturbando todos os cantos de lá e fazendo-o queimar; sobem pela minha garganta, me fazendo tropeçar nas próprias palavras e gaguejar; descem pelos pulmões, acelerando minha respiração; voam até meu cérebro, deixando-o completamente tonto; até finalmente alcançarem meu coração, onde o torturam dolorosamente para que ele bata cada vez mais rápido, tão rápido que você poderia escutá-lo.
Você se aproxima de mim até estar perto o suficiente para que conseguisse sussurrar em meu ouvido uma frase que escapou da minha memória e se espalhou em momentos aleatórios do subconsciente. Após alguns anos caçando-a, pegando as palavras soltas em memórias mundanas, eu consegui remontá-la por completo e a restituí à nossa melhor lembrança.
A chuva caía em volta de nós enquanto dançávamos. Você sempre tirava os sapatos para dançar, como se necessitasse estar em contato com o chão. Conectando-se com a terra aos seus pés. Deixando que a chuva conduzisse sua dança através do seu corpo divino, que fluía em resposta. Você e a chuva em perfeita harmonia. Era bonito de se ver. Em um momento, você se vira para mim, com seus olhos castanhos me olhando com carinho, brilhantes e espontâneos. Os olhos onde me perdi. Nenhum outro olho de mar ou de floresta conseguiria me prender mais que os seus, porque só os seus pareciam carregar todos os sonhos do mundo, só os seus se enchiam de um amor dourado sempre que me viam, alimentando todas as mariposas.
Você era a brisa da manhã, congelada nos instantes pálidos de todos os cotidianos que se repetiam de novo e de novo. O céu escuro como seu próprio abismo, que todas as noites orgulhosamente exibia seu pó de lua e seus enfeites de estrelas em uma vívida euforia. O labirinto convidativo de segredos incompreensíveis. A pessoa a quem entreguei meu coração e minha alma em um tropeço distraído, um erro do destino, uma obra do acaso, o mais estupendo acidente de todos os tempos. A pessoa que enchia as paredes da minha mente e que naquele momento me sussurrava as palavras que tanto lutei para lembrar.
—Dionísio estava certo, meu amor. Todos merecem dançar na chuva uma última vez. As margaridas e lagartas foram meu lar por muito tempo. Tenho que alçar voo para longe, muito longe, onde a gravidade é apenas uma ideia. As estrelas estão esperando.Foi a última vez que eu vi o castanho dos seus olhos e senti o sabor do teu beijo, pois no instante seguinte você havia desaparecido, e com você se foram a chuva, as estrelas e o meu coração.
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Fiapos
AcakFiapos de histórias inacabadas jogadas ao universo sem saberem seu final. Não necessariamente conectadas, as vezes nem eu mesma conheço-as completamente. Vêm como um turbilhão, as vezes de uma música, as vezes de uma madrugada.