Vida injusta.

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Desde que eu cheguei aqui em Los Angeles, minha coisa favorita ao entardecer é caminhar na praia com os pés descalços enquanto sinto a água geladinha bater em meus pés, é como se fosse uma terapia diária na qual eu não preciso pagar para receber. A casa onde eu estava morando era perto do lugar, então era um mínimo esforço para que eu conseguisse colocar as ideias no fim do dia no lugar, era relaxante, muito mesmo.

      Enquanto eu caminhava, meu olhar estava fixo no finalzinho do sol no horizonte, aquela pontinha laranja me dando tchau, ou até mesmo um "até logo", eu carregava comigo que deveríamos viver nossa vida como se aquele dia fosse o último, nunca sabemos se veremos o sol nascer no dia seguinte.

       Algo não muito usual acontece, eu sinto meus pés baterem com força em alguém, acabo por tropeçar e me segurar nas costas de um garoto que estava com a cabeça afundada em suas mãos, chorando fraquinho, fico confusa e um pouco preocupada.

       Era difícil encontrar alguém nessa praia à essa hora. Ainda mais chorando.

       - B-boa noite, tá tudo bem? Me desculpa, eu te machuquei? - Pergunto cuidadosa, e o garoto  de boné levanta seu rosto, me olhando sem graça.

       - Tudo bem, não machucou. - Ele volta à sua posição inicial, sem me dar a mínima. 

       Minha curiosidade não deixaria as coisas assim.

      - Você precisa de algo? Você tá molhando toda sua roupa assim, está frio, o que acha de ir pra casa?

      Ele podia muito bem ser um drogado e me sequestrar, mas eu sou sempre muito teimosa.

      - Eu to bem, obrigado. - Ele parecia cada vez mais sério. Me afasto um pouco e fico pra trás do garoto, um pouco receosa, mas sabendo que a qualquer momento ele iria ceder e me dizer o que estava acontecendo.

      - Na verdade...

      Arregalo os olhos, prestando atenção na voz embargada do garoto, que começa a se levantar devagar e a limpar sua calça encharcada com areia e água.

       - Não é todo dia que você encontra um garoto chorando na beira da praia, não é? Você deve estar curiosa, te devo no mínimo desculpas por ter sido grosso, não era a intenção.

       Sorrio.

      - Eu só me preocupei, apesar de não te conhecer. - Mentirosa, você só estava curiosa como sempre.

      - As vezes, coisas ruins acontecem na nossa vida e... a gente só precisa de um tempo longe de tudo pra pensar, você não acha? - Ele vem até mim, tirando seu boné e mexendo em seu cabelo, o ajeitando. Já estava de noite, eu não conseguia ver os detalhes de seu rosto.

     - Tudo bem, você não precisa me dizer, as vezes coisas difíceis realmente acontecem e a gente precisa desse tempo, por isso eu sempre venho aqui a esse horário, me acalma.

     - A vida é uma merda injusta, é isso. - Ele diz um pouco nervoso, me deixando um tanto quanto assustada.

     - Eu acho melhor eu ir.

     - Relaxa, eu não vou te sequestrar ou qualquer coisa dessas que qualquer garota da sua idade pensaria, eu só tenho 17 anos, eu to triste, e precisava de alguém pra desabafar.

     - Você tem 17? Interessante, eu tenho 16.

     - É, 17.

     - Você vai falar o motivo de chorar tanto?

     - Eu não costumo chorar, mas hoje foi preciso.

     - Você é do tipo que se faz de durão?

The Beach Boy - Au BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora