Lastimas

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Miriam:

Senti as lágrimas escorrerem por meu rosto enquanto meu corpo se reclamava em lastimas vividas por anos.

"Sua filha está aqui. Esperando por você."

Aquelas pequenas palavras de Ohana foram capazes de me cortarem em pedaços. Não tinha como desdizer palavras, desfazer ações. Eu estava afogada nos desastres que criei, presa na prisão que esquematizei, enforcada pela corda que ameacei enforcar. Eu precisava quebrar as correntes, ressurgir das cinzas e reconstruir-me...

Me sentia arrastada pelo chão, como uma cobra pelas beiradas implorando por proteção ou esperando a dar um ataque. Dar uma chance ou viver uma? Julgar minha filha ou entender que ela estava feliz, longe dos meus pensamentos?

Eu não estava preparada pra chegar no fim da vida, em um último suspiro e morrer com o amargo da vida que tive, respirar pesado sentindo a dor que causei. Eu precisava consertar o que tinha quebrado, encontrar esperanças onde não havia, fugir do desastre, quebrar as correntes da quais estava acorrentada a anos, enquanto me arrastava pelo chão implorando por piedade... uma piedade da qual nunca mereci.

Nunca fui a mãe presente, da qual Larissa precisou. Nunca a apoiei durante suas dores, a deixei viver um relacionamento abusivo, sem ao menos questiona-lá como se sentia.

As lágrimas escorriam por meu rosto com mais rapidez enquanto minha visão embaçava pelo choro compulsivo, minhas mãos tremiam em raiva. Em questão de segundos... havia quebrado os vasos com flores e arrebentado o espelho...

Como eu era capaz de abominar a minha própria filha por cometer "erros" dos quais eu nunca pretendi entender?! Como eu conseguia atender o telefone enquanto ela se lastimava em dor e eu apenas chorava em silêncio vendo-a implorar por uma palavra?!

A única coisa que pedi a Larissa, desde sua infância foi que nunca cometesse os mesmos erros que eu. Pois não seria capaz de dormir com a culpa...

Eu errei quando cobrei de mais... E dessa vez, eu errei novamente. Eu a julguei apenas por amar uma mulher. Um alguém que lhe proporcionou o sorriso que eu nunca havia visto, o olhar brilhante que parecia... perfeito.

Eu não podia pedir que ela deixasse-a. Ela está mais velha, não é mais a minha garotinha imatura. Preciso deixá-la ir, e viver o que tanto sonhou... mesmo que em meus ensinamentos isso não seja o que imaginei. Larissa era uma mulher formada, academicamente e emocionalmente. Não se entregaria novamente a alguém, para lhe machucar.

Minhas mãos sangravam e o sangue se espalhava por meu rosto enquanto tentava enxugar as lágrimas em vão...

Minha filha sempre me disse "Você costuma ir embora, quando as coisas ficam ruins..."

É verdade, Larissa nunca mentiu. Eu fugia, sempre fugi... o medo me corrompeu, talvez as cicatrizes que ainda existam aqui, ainda me atormentavam. Entregá-las a Larissa, não seria o certo a se fazer. Por isso eu a cobrava, guiando cada um de seus passos, mesmo que indiretamente e longe... eu não queria que ela cometesse os mesmo erros que eu... incluindo o principal...

Amar...

Amar sempre me pareceu um erro. Desde que seu pai me abandonou, quando Larissa tinha apenas 13 anos de idade. Thiago foi uma exceção, um alguém que confiei, mas arrebentei a própria cara em arrependimento. Cegamente em confiança, preferi acreditar nas palavras falsas de Larissa: "está tudo bem" ao invés de arrancar minha filha daquela maldita casa. Assim que Ohana apareceu, me incomodou, Larissa parecia se sentir confortável novamente, aberta a novas experiências...

Eu senti naquele tribunal...

E eu temia internamente deixá-la cometer o mesmo erro, amar novamente e sofrer tudo de novo, repetidamente em um ciclo vicioso. E o fato de ser uma mulher, me incomodava ainda mais.

Eu estava errada... e agora, enquanto chorava ajoelhada em um chão de hotel. Implorava apenas por uma chance...

(...)

-Ohana: Suas mãos.. - disse baixo, assim que toquei-a.

-Miriam: Tudo bem. - sorri fraco, ao fazer expressão de dor.

-Ohana: Quer algum analgésico? - questionou calma.

Apenas assenti e a loira me trouxe um copo com água e um pequeno comprimido.

-Ohana: Vou ver se está tudo bem com ela. - a loira relembrou das crises de ansiedade continuas rapidamente e subiu as escadas correndo.

(...)

-Ohana: Amor? - chamou ao bater na porta. - Posso entrar? - questionou ao não receber respostas.

-Larissa: Tudo bem... - disse em um fio de voz, rouca.

Ohana entrou vagarosamente e viu a morena, vestida em um moletom largo enquanto mantinha os olhos marejados, um pouco vermelho.

-Ohana: Me desculpa... - disse rapidamente. - Eu deveria ter vindo antes.

-Larissa: Tudo bem. Eu precisava de um tempo sozinha... - concluiu sorrindo triste.

Ohana selou seus lábios rapidamente e a morena sorriu calma.

-Ohana: Alguém quer te ver... - disse baixinho.

-Larissa: Acho que pode esperar um pouquinho. - sorriu antes de retomar os lábios da loira, abraçando sua cintura e beijando-a com carinho e lentidão.

Ohana separou o beijo, colocando os cabelos de Larissa atrás da orelha e selando beijos por seu rosto, vendo-a sorrir de lado. A loira acariciou o rosto da empresária vagarosamente...

-Ohana: Sinto muito orgulho de você e te amo muito. - disse sincera.

-Larissa: Eu te amo..

Ohana assentiu com um sorriso fraco, beijando-a novamente. Mas se separaram ao Larissa sentir uma pequena bola de pelos se esfregar em suas pernas.

-Ohana: Acho que tem mais alguém querendo seu carinho. - sorriu baixo ao ver Nino sentado sobre os pés de Larissa. A morena sorriu, encarando a loira e deixando um último selinho em seus lábios antes de pegar o animal no colo.

(...)

As duas desceram as escadas vagarosamente enquanto Larissa segurava nino nos braços...

-Larissa: Mãe? - disse rouca, ao ver a morena sentada.

𝐈𝐦𝐩𝐫𝐨𝐯𝐚́𝐯𝐞𝐥 Onde histórias criam vida. Descubra agora