Onde estava?

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Larissa chegou em casa por volta das 14:00, decidiu almoçar fora, não estava com cabeça para as "desculpas" do marido acompanhada de buquês de flores ou sua irrelevância com o que tivesse feito a noite. As vezes ele reagia como um todo cheio de pedidos de desculpas e promessas nunca cumpridas ou só tratava como algo normal e fingia que nada havia acontecido.

-Thiago: Onde estava? A voz soou rouca, fria e gélida. Era assustador.

-Larissa: Tive algumas reuniões demoradas na empresa e acabei tendo que almoçar fora. - deu uma desculpa esfarrapada para fugir dos questionamentos do homem. Se é que era possível.

-Thiago: Que seja. - disse com desprezo. - Estou indo viajar, volto em dois dias.

-Larissa: Não vai nem me dizer onde vai? - Questionou preocupada. Por mais que odiasse toda aquela situação, ainda amava o homem.

-Thiago: Não te devo satisfações, Larissa.

-Larissa: E eu te devo? Todas as vezes que saio tenho que dizer qualquer metro quadrado que piso, mas quando pergunto a você, tudo que recebo é ignorância e desprezo. - Disse séria enquanto jogava a bolsa sobre o sofá. - Tem muitas coisas pra resolver na empresa! Vai me deixar aqui sozinha com essa pilha de trabalhos?

-Thiago: Por que você é alguém desprezível. - Sorriu frio. -  E respondendo o resto... você sabe se cuidar. Se vira.

-Larissa: Você é ridículo! - disse com os olhos marejados enquanto via o homem sair pela porta sem ao menos lhe dar satisfações.

Aquela situação era extremamente dolorosa. O medo lhe rondava a cada segundo e sua cabeça parecia querer explodir.

Larissa tentou não se importar com nada é apenas subiu as escadas indo em direção ao banheiro do quarto principal da casa. Preparou um banho quente com uma quantidade relevante de espuma e uma garrafa de vinho tinto. Por mais que aquilo tudo fosse horrível, ter dois dias longe do embuste seria agradável.

Logo que retirou a roupa adentrou a banheira completamente despida, a água morna cobriu parcialmente seu corpo e a morena aproveitou para abrir o vinho. A taça estava ali, ao seu lado, mas já que iria beber a garrafa toda, apenas a levou aos lábios. Suas papilas gustativas deliciaram-se do sabor amargo enquanto seu corpo inebriava com o teor do álcool. Parecia uma boa saída...

Do outro lado da cidade...

Ohana ainda estava no escritório, imprimia as imagens do corpo da morena e as observava com atenção. Estudou cada detalhe dado por ela e aquela situação toda rondava sua cabeça... como uma pessoa séria tão idiota em perder uma mulher tão linda, e aparentemente incrível como aquela?! - questionava-se.

Percebeu as tatuagens delicadas na pele da morena e lhe atraiu curiosidade... por que se importar tanto com um caso como esses? Afinal era comum em sua carreira.

Algo em Larissa lhe chama atenção. Talvez a insegurança a ser preenchida, ou o sorriso fraco em busca de felicidade...

A loira colocou as fotos e o relatório dentro da pasta multifuncional e mais alguns documentos em xerox juntamente. E no fim da folha escreveu com lentidão o nome da mulher que lhe chamava tanto atenção... Larissa de Macedo Machado.

A loira guardou os documentos na gaveta e saiu do prédio.

Se motorista lhe aguardava na porta principal, ela adentrou o carro e logo percebeu fotos sendo tiradas pelos paparazzis. As vezes a fama de sua carreira lhe irritava, não tinha um momento de paz e privacidade, sempre havia site de fofoca e jornais querendo saber quais casos eu aceitava ou recusava, afinal "tudo" vindo a Ohana era algo grande.

Seus olhos ardiam e sua cabeça doía, era a primeira vez que voltava em casa após longos meses de trabalho intenso na Califórnia. Ela adentrou o apartamento e estava tudo em seu devido lugar, assim como a zeladora deixava a pedido da advogada. Ohana só utilizava os serviços da zeladora uma 2 vezes por semana, somente para manter a casa limpa, as coisas básicas eram feitas pela loira.

A loira apenas tomou um banho rápido e se jogou na cama, entregando-se a um sono intenso.

3 dias depois...

Ohana se encontrava na sala de estar enquanto juntava alguns brinquedos de nino, seu cachorro que havia bagunçado tudo enquanto brincava. O telefone ao ouvido esperando que Larissa lhe atendesse...

Ligação on:

-Ohana: Olá Larissa, gostaria de uma segunda reunião para estabelecermos devidas cláusulas.

A loira escurou a voz grossa soar pelo som metálico do celular. "Quem é Larissa! Põe no viva voz!" A baixinha logo se revoltou, como ele poderia ser tão escroto e invadir tanto a privacidade de Larissa?!

-Larissa: Ah! Oi Alicia, podemos sim marcar a reunião das novas aquisições da bolsa de valores. - disse tentando manter a voz firme, para que Thiago não desconfiasse do assunto tratado pelas duas.

-Ohana: Pode ser hoje? - olhou no relógio e avistou o horário. - Às 14:00? Certas ações da bolsa de valores devem ser adquiridas com rapidez para que possamos começar a ter lucro.

-Larissa: Sim, claro. Tudo bem! Te encontro as 14:00. - agradeceu internamente por Ohana ter seguido o diálogo.

Assim que Thiago saiu de perto, ela respirou fundo.

A voz de Thiago lhe causava medo, seus toques frio e firmes, suas falas agressivas e nojentas, seu jeito durão... tudo lhe dava medo. E talvez no meio de tudo isso... Ohana fosse sua salvação.

(...)

As 14:00 em ponto, Larissa estava no prédio, de frente para a loira que se mantinha sentada enquanto observava algo no notebook.

-Ohana: Thiago tem 3 dias úteis para receber a intimação de divórcio, podemos ter uma audiência para tentarmos resolver sem mais delongas, mas caso ele negue o acordo, entraremos em processo com o juiz. - disse séria.

-Larissa: Bom... então eu tenho três dias pra sair de casa. - sorriu triste.

-Ohana: Seria bom, por um tempo, é claro. - Disse. - Quer contar a ele, ou deixar que ele saiba pelo oficial de justiça? - questionou.

-Larissa: Acho que quero contar a ele, devido a todos os momentos bons que tivemos antes dele se tornar esse mostro devastador. - sorriu com os olhos marejados. - Mas tenho medo da reação.

-Ohana: Isso é algo a se enfrentar. Como sou sua advogada, pode me levar junto e eu garanto sua segurança. - disse calma. - Não vai nem perceber que estou lá, mas estarei, pra interferir caso algo feito por ele possa te machucar.

-Larissa: Por isso é tão renomada, seu cuidado encanta, Lefundes. - sorriu simpática.

-Ohana: Não gosto que me chamem pelo sobrenome. Somente Ohana, Larissa. - retribuiu o sorriso.

Elas ficaram por alguns segundos se encarando e Ohana desviou o olhar para a tela. Aquele olhar lhe atraia, era como se lhe desejasse... ou Ohana estava enganada?!

Ohana era lésbica assumida desde os 18 anos quando saiu de casa, sua relação com os pais era complicada. Viviam bem, mas sua mãe sempre se negava a referir-se a filha como lésbica, sempre perguntava dos "namoradinhos" ou falava sobre a ainda provável chance de abandonar essa fase. Era uma completa babaquice.

Larissa até onde sempre soube era hétero, mas o corpo, o "cuidado", o olhar calmo e a voz rouca de Ohana lhe atraia.

-Ohana: E então, aceita minha presença como além de advogada, sua segurança? - questionou sorridente, coisa que não fazia com outros clientes.

-Larissa: Logicamente sim, será um prazer. - sorriu.

-Ohana: Bom, não quero te pressionar, mas isso tem que ser feito o mais rápido possível. A entrega da intimação é imprevisível, então temos pouco tempo. Você escolhe o horário, e eu estarei lá. - disse enquanto bebia um gole da água.

-Larissa: Pode ser agora? - questionou tímida.

-Ohana: Se estiver tudo bem pra você, pode sim.

-Larissa: Então acho que podemos ir.

𝐈𝐦𝐩𝐫𝐨𝐯𝐚́𝐯𝐞𝐥 Onde histórias criam vida. Descubra agora