Eu nunca senti nada

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Sou orgulhosa demais para acreditar que uma mulher fossa capaz de me amar: seria supor que ela sabe quem sou eu. Também não acreditava que poderia amar alguém novamente: pressuporia que eu achasse um mulher da minha condição. O amor é um sentimento inenarrável, que rompe todas as barreiras e limite, invade pensamentos e impulsiona emoções, gera paz e euforia, alimenta sonhos e ilusões...

Encontrar a luz no fim do túnel, o oxigênio no fundo das profundezas, a paz na escuridão... me parecia "amor". Por muito tempo priorizei outros sonhos, outras pessoas e outras questões. Mas o amor agora vivenciado todos os dias, me inspirava a priorizar a mim, priorizar a "nós". Eu nunca saberia onde os caminhos do amor, da insanidade por essa sensação me levariam... mas aonde quer que estivesse, aquela linda mulher morena, de cabelos medianos e sorriso perfeito, estaria comigo.

Por muitos anos da minha vida, eu pensei em desistir. E se me perguntassem o que me faltava, eu saberia: Amor.

Eu negaria até a morte...

Mas aí chegou aquele corpo escultural no meu escritório, com aquele jeito feminino, tímido e contagioso... eu podia ver e senti-la, ela me deixava confusa, mas eu segui. Bastou uma taça de vinho, ela chegou mais perto e eu não evitei. Eu estava presa... entre a parede, entre seu corpo e completamente em suas mãos. Eu me sentia nua, apenas por seu olhar carinhoso, eu senti o ar faltar apenas com um toque leve. O amor nasceu em mim... e eu não evitei. Em segredo ou em público... eu sou completamente dela, somente dela. Eu sou sua mulher...

A cama que eu constava chegar e me jogar, chorar em desespero... ou ocupar com um corpo qualquer, que me saciasse. Estava ocupada. Pelo corpo que foi capaz de fazer o que nenhum outro fez...

Quando não era na minha, bastava beber ou ligar... eu acabava no seu colchão. Larissa era minha perdição...

-Ohana: Bebendo ás 8:00 da manhã, Bárbara. - sorriu fraco.

-Bárbara: Se eu não bebesse, não te ligaria. - disse baixo, levantando o olhar, marejado e vermelho. - Se eu ficar sóbria, todos sabem que eu to mal..

Ohana assentiu, fechando a porta e entrando no escritório da loira.

-Ohana: É culpa do desespero.. - ela confirmou baixo.

-Bárbara: Também é culpa desse copo com whisky e gelo. - disse séria, movendo o dedo em volta do copo, com o olhar baixo. - Então era ela. - sorriu triste e frustrada.

-Ohana: Era, e ainda é. - afirmou.

Bárbara assentiu enxugando uma lágrima.

-Bárbara: Eu pensei que chegaríamos em algum lugar. - disse com um sorriso triste nos lábios. - To com vontade, saudade, de te ouvir te sentir, e depois te ver batendo a porta...

Ohana ouvia em silêncio.

-Bárbara: E agora o que eu faço? - perguntou sorrindo. - Eu to me afogando no álcool pra matar a vontade de te tocar. Para... pensa, olha pra mim e volta...

-Ohana: Eu não posso. Não consigo, e não quero. - disse compreensiva.

-Bárbara: Você nunca nos deu uma iniciativa, nunca me deu uma chance. - disse séria. - Foi o meu único pedido...

-Ohana: Eu nunca senti nada, Bárbara...

-Bárbara: O que ela fez, que eu não fiz? - questionou incrédula, se levantando. - O que eu fiz pra te deixar escapar entre meus dedos? Eu quase morro, implorando pra você ficar... - disse chorando, mas com a voz firme. - Então é isso?

-Ohana: É isso. - disse firme, mas triste por deixar Bárbara mal. Nunca tiveram nada sério, mas Bárbara lhe fazia bem, mesmo com o jeito marrento.

-Bárbara: Eu estraguei tudo. - disse sorrindo e levando as próprias mãos ao rosto, tentando se conter. - Me deixa tentar mais uma vez, Ohana?

-Ohana: Eu não quero, Bárbara.

-Bárbara: É que só de imaginar você... - disse com a voz embargada. - Eu pensei que ela fosse apenas mais uma no nosso caminho. - sorriu baixo. - Mas nem existe "nosso caminho".

Ohana assentiu.

-Ohana: Eu não estou querendo te destruir, mas eu a amo Bárbara. - disse compreensiva. - Eu não sei o que aconteceu, mas o que eu sinto por ela, nunca senti por ninguém.

Bárbara assentiu, com os olhos marejados.

-Bárbara: Bastou eu ir na Dinamarca por dois meses e ela te jogar em uma cama? - questionou.

-Ohana: Bastou ela me olhar.

Bárbara se aproximou e olhou Ohana de cima a baixo. Ficou de frente a loira, se colocou uma mão em sua cintura e outra em sua nuca.

-Bárbara: Ohana... - disse com a voz embargada.

-Ohana: Não posso Bárbara. - disse séria.

-Bárbara: Uma última vez, por favor. Nem que seja 10 minutos de prazer, Ohana.

-Ohana: Já existiu a última vez. - sorriu triste por Bárbara. - A dois meses.

-Bárbara: Isso foi dias antes de você conhecer ela.

-Ohana: Exatamente. - disse compreensiva. - A partir do dia que dormi com ela, tudo entre nós ou qualquer outra mulher, acabou.

-Bárbara: Só mais um beijo...

Ohana negou.

-Ohana: Vem cá. - puxou a loira para um abraço e ela afundou o rosto em seu pescoço. - Sinto muito...

-Bárbara: Não quero ser insistente, eu entendo, mas dói. - disse abafado.

-Ohana: Me desculpa, por te puxar pra perto, te atrair e depois ir embora. Eu nunca fui capaz de entender os meus próprios sentimentos. Eu nutri sua carência, em busca do meu prazer... - disse baixo. - Mas eu a amo, e eu não mudaria isso por nada. - acariciou as costas da mulher. - Nunca teríamos algo saudável, eu nunca senti nada. Você me fazia e me faz bem, mas não dessa forma...

-Bárbara: Vai ser difícil superar... - disse chorosa. - O seu novo amor veio com tudo né...

-Ohana: Veio.

-Bárbara: Me transfere. - pediu sussurrando. - Qualquer lugar, Ohana. Eu não vou conseguir superar, trabalhando no mesmo prédio que você.. - concluiu chorosa, inalando o cheiro do pescoço da advogada. - Eu aguento as fotos de vocês juntas, o Brasil inteiro comentando que são um perfeito casal. Talvez eu supere o seu provável futuro casamento, mas não aqui, não tão perto... Então me transfere. De longe eu posso implorar ao tempo, que possa me curar...

-Ohana: Você escolhe o lugar, e eu peço que te transfiram pra um escritório diferente. - concluiu.

As duas ficaram abraçadas por alguns minutos, em respeito ao que "tiveram". Bárbara era uma boa pessoa, mas Ohana alimentou sua carência e isso gerou os sentimentos... Ohana nunca amou-a, mas se sentia bem perto...

-Bárbara: Fica mais um pouco? - pediu baixinho.

-Ohana: Sim.. - afirmou. - Quer mesmo ir embora?

-Bárbara: Quero. - disse em um sussurro. - Vi nos seus olhos que está feliz. E eu... sempre tentando amenizar as coisas e me arrebentando por te amar. E mesmo com todo mal que me causou, sigo te amando. Eu nunca vou conseguir admitir que esse amor por você precisa acabar, pelo menos não agora. E se é ao lado que está feliz, então que seja. Amando por um não vai adiantar... eu tenho que aceitar o não e finalmente parar de sofrer. Longe é mais fácil, não vou precisar olhar pra você e te desejar a todo segundo...

(...)

Ohana assinou os papéis que Bárbara pediu, e se despediu com um abraço demorado e um beijo na testa da mulher. E depois, deixou o prédio do qual trabalhavam...

A loira entrou na Mercedes e decidiu ir pra casa, já que Larissa não havia ido trabalhar, pois iriam no médico. Estava calma, por um ponto de vez ao que "tinha" com Bárbara, lhe deixava mais tranquila. Bárbara era uma boa pessoa, sempre foi atenciosa, mas viu coisas onde não existiam e por um tempo, Ohana até acreditou. Mas bastou ver Larissa...

E pela morena eu nunca seria capaz de possuir um coração infiel. Porque era somente aquela voz que me atraí, aquele corpo que eu desejo, aquele carinho que anseio...

𝐈𝐦𝐩𝐫𝐨𝐯𝐚́𝐯𝐞𝐥 Onde histórias criam vida. Descubra agora