Chapter 1

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As pessoas sorriam enquanto abriam o champanhe, se abraçavam como se o mundo fosse uma única família gigante e bem original, a época de ano novo é sempre brilhante para todos nós, não concorda? As ruas de Nova Iorque estavam lotadas e bem iluminadas, as pessoas apontavam a lanterna de seus celulares em direção ao céu, como se fosse uma grande despedida da própria Terra. Depois de algumas semanas de Janeiro do ano de 2021, as ruas já não estavam mais daquele jeito, e as pessoas já não estavam mais tão empolgadas, e tudo estava velho novamente...já parou pra pensar como somos tão estranhos? Bom, eu não posso falar muito sobre isso, afinal me considero a garota mais esquisita da América. Me chamo Agathe...viu só? O meu nome também está longe de ser comum, mas pelo menos existe uma explicação para isso, os meus pais são noruegueses, se conheceram em Oslo e decidiram trazer uma parte da empresa deles para Nova Iorque depois de alguns anos trabalhando juntos. Com isso acabaram se apaixonando, e foi assim que aprenderam a língua inglesa anos antes de se mudarem pra cá e então me fizeram crescer com o inglês e o norueguês como as minhas duas línguas
maternas. Sim, apesar da minha história de vida ser interessante eu ainda sou a estranha, não gosto muito de interagir com as garotas do meu colégio, estou no meu último ano do High School e não possuo mais do que duas amigas que convivem comigo pelos corredores e no meu tempo livre, elas são muito importantes pra mim. Depois de um tempo o período de aulas do ano letivo teve o seu retorno, mas ainda assim todos estavam ansiosos para as férias de verão, que começariam no final de Maio, logo depois dos últimos exames que nos trariam a decisão dos nossos futuros acadêmicos dentro de alguma Universidade, e o meu sonho de me tornar uma das melhores enfermeiras do hospital de Massachussets em Boston ainda estava de pé e pronto para brilhar, apesar de viagens sempre me causarem enjoo. Eu não tinha do que reclamar na minha vida, pais administradores, casa aconchegante, duas melhores amigas que me entendiam completamente, e o domínio de dois idiomas literalmente na ponta da língua, essa era eu, essa era a Agathe, mas depois de um dia obscuro semanas antes das férias de verão, tudo mudou.

11 de Abril, 2021, 9:31pm
Uma noite de Domingo sem estrela alguma no céu, nada de vinho ou um bom filme em família, somente eu, Gwen e Martha, as minhas melhores amigas desde quando éramos do jardim de infância, as que eu já havia citado antes. Estávamos nos divertindo, dançando juntas no meu quarto e tendo uma noite estilo "Single Ladies" depois de semanas carregando o peso dos últimos exames nas costas como se fossem a nossa única fonte de vida. Meus pais estavam jantando fora, decidiram ter uma noite romântica enquanto detonávamos tudo em nossa volta, mas não de uma forma literal, caso fosse acho que eles nunca mais sairiam pra jantar novamente. Minutos depois a Gwen já estava na minha cama com seus olhos fixados nas mensagens do Luke...digamos que esse era o tipo de cara que a fazia de fantoche todo final de semana quando estava entediado:
- O que você tá fazendo? Não me diga que está digitando pra ele de volta!
Disse eu, tentando ser a psicóloga do nosso trio, e então ouvi:
- Ah, qual é, acha mesmo que eu vou cair no buraco que ele está cavando pra mim novamente?
Fiquei impressionada com o resultado das minhas pequenas terapias nada profissionais com a Gwen, e então a Martha foi a última a se pronunciar:
- Talvez você não o encontre hoje, mas os finais de semana não vão deixar de ser como armadilhas enquanto ainda estiverem conversando, Gwen!
Bom, ela pode até ter sido a última a expor sua opinião sobre o assunto, mas o que a Martha fala, tá falado.

10:47pm
A noite estava quase no fim, meus pais haviam chegado do restaurante, as meninas estavam se despedindo de mim e eu estava extremamente cansada depois de usar o piso do meu quarto como uma pista de dança. Pus roupas leves e estava pronta para deitar, depois de anos dormindo como uma prisioneira, naquela noite decidi abrir a janela que se encontrava ao lado da minha cama, onde eu podia observar a rua vazia e sentir o clima razoável da cidade. Alguns instantes depois, especificamente às onze da noite, eu me encontrei acordada, sem sono algum, mas com a possibilidade de ver a rua inteira através da janela:
- O que aconteceu? Eu pretendia dormir como uma pedra minutos atrás e agora eu estou...estou ativa!
Disse para mim mesma enquanto meus olhos insistiam em continuar observando o lado de fora de uma forma assustadoramente curiosa, como se eu estivesse esperando por algo, como se algo fosse acontecer exatamente naquela estrada. Depois de alguns minutos presa naquela espécie de transe aleatório do meu corpo, eu consegui me mover, levantei, desci as escadas e fui até a porta, estava assustada, e de alguma forma também estava curiosa com algo presente fora de casa, mas eu não fazia ideia do que poderia ser. E então com aquelas mesmas peças de roupas que eu havia vestido antes, eu abri a porta, o frio tomou conta de todos os cômodos da minha residência e o horário não parecia tão acessível para sair andando por aí, mas eu não conseguia pensar em mais nada a não ser correr até o meio da estrada, sentia que havia alguém ali, mesmo não tendo ninguém à vista. Lá estava eu, praticamente usando pijamas no meio de uma estrada úmida e vazia às onze da noite:
- Olá? Alguém? Qual é, não me faça perder a paciência, eu sei que tem alguém aí!
Gritei enquanto dava passos para entrar em um beco ainda mais escuro do que as ruas onde eu poderia avistar alguém:
- O que faz aqui?
A voz de um garoto surgiu de uma maneira tão sombria pros meus ouvidos que tudo o que eu pude dizer foi:
- Ai meu Deus, que patético, você por acaso não tem onde dormir?
Depois do meu surto psicótico e desnecessário, parei e prestei atenção em todas as palavras apáticas que tinham acabado de sair da minha boca, o respondi:
- Olha, desculpa tá? Você me assustou e eu estava aqui sozinha e...
Ele me interrompeu:
- Tudo bem, eu não estou aqui pra isso!
De primeira não consegui entender o que ele quis dizer com "não estou aqui pra isso", pro que seria então? Sequestro? Abuso? Comecei a me afastar lentamente antes de respondê-lo e disse:
- Bom...eu simplesmente senti que alguém estava por aqui, e você surgiu do nada, por qual razão está aqui?
Ele sorriu ousadamente como se estivesse prestes a me amarrar com cordas de aço, me jogar dentro de uma Range Rover e anunciar o meu sumiço pra toda a cidade, e então me respondeu:
- Eu tenho um diário antigo que preciso encontrar, e você fala norueguês, então...você é a peça perfeita!
Naquele momento eu não conseguia nem mesmo respirar fundo, se ele tinha o conhecimento de que eu falava norueguês, ele poderia estar carregando muito mais informações sobre mim, então eu disse:
- M-me desculpe mas, como você sabe disso? Eu nunca o vi na vida, qual é o seu nome?
Ele disse:
- Olha, eu posso ter te observado profundamente no seu colégio, só isso...ah, e me chamo Dominic, agora, precisamos ir, não tenho a noite toda pra joguinhos!
Ao terminar a frase, ele agarrou o meu braço direito e de alguma forma saímos daquela estrada em poucos segundos, ele me tirou de lá subitamente ao correr e dar saltos enormes pela cidade e pelos prédios enquanto me tinha em suas costas, ele não era só um garoto, ele era alguém, alguma coisa.

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