SAVED

505 71 15
                                    

Quando a porta do helicóptero se abriu, a única coisa que conseguia-se enxergar eram vultos.

Radha parecia ter ressurgido das cinzas, como uma fénix. Toda a força que julgou não ter durante os últimos quatro meses reapareceu na velocidade em que ela correu de encontro a filha.

Shivani estava ajoelhada no chão, não conseguia ou não teve chance de se levantar antes de receber o abraço que ela mais esperou.

Ela finalmente estava vivendo o momento que contava os dias desde que chegou naquele lugar.

Ela não sabia que precisava tanto de um abraço de sua mãe.

Era o abraço mais profundo, sincero e caloroso que já sentiu na sua vida. Era o colo que ela precisava e esperou por tantos meses.

Diferente de Radha, Marcos travou assim que desceu da aeronave, seu filho precisou o alcançar e abraçar com toda força que podia. O pai do americano estava vermelho como nunca esteve antes e tinha incontaveis lágrimas no rosto.

O ritmo e a intensidade do choro de Noah e Shivani eram bem parecidos com o dia que suspeitaram que ela teria sofrido um aborto. Mas havia uma grande diferença, esse era o choro de alegria, o choro de duas crianças que acabaram de nascer, que acabaram de voltar para a vida, para seus sonhos, sua família e o mundo.

Any se viu desesperada em meio aquela cena. Enquanto os homens se abraçavam perto do helicóptero e as mulheres um pouco mais acima, o piloto tinha se distanciado para os dar privacidade e ela estava ali, entre os quatro, com os olhos explodindo de tão pesados e cheios de lágrimas e com o sentimento gritando dentro do peito "Eu acreditei, eu persisti, eu consegui".

Marcos e Noah demoraram cerca de cinco minutos para se soltarem, as indianas continuavam na mesma posição, ajoelhada no chão, abraçadas.

Any correu na direção do americano e o abraçou com força, com toda a força que tinha.

-Obrigado por nunca desistir de nós- ele disse molhando o ombro da Any com suas lágrimas

- Eu aposto que isso foi culpa sua seu idiota- ela disse entre soluços, ainda assim tentando amenizar o clima e voltar aos "velhos tempos".

-SHIVANI- Radha disse alto, como um susto. Os amigos se separaram rapidamente e se aproximaram, todos os três observavam o que tinha acontecido.

A Indiana mais velha tinha acabado de se levantar com a filha, que encarava o chão sem coragem de olhar nos olhos da mãe. Urrea já sabia o que estava por vir.

-Minha filha- ela disse mais baixo, após colocar a mão na barriga da filha. Os olhos de Marcos ficaram maiores e sua boca se abriu, a respiração de Any ficou pesada e ela se segurou no ar.

- Eu acho que vou- foi a única coisa que ela disse antes de seu corpo cair para trás. Noah invocou o Flash e conseguiu evitar a queda, abaixando com a morena desmaiada em seus braços.

-ANY- Shivani gritou deixando a mãe e o talvez futuro sogro para trás e parando em frente a garota desmaiada- Any não faz isso comigo, eu quero te abraçar a meses e você resolve desmaiar antes de fazer isso- ela sacodia os ombros da amiga sem parar, enquanto algumas lágrimas caiam.

Radha e Marcos estavam estáticos alguns passos atrás, não era possível, deveria der um engano.

A latina despertou em solavanco, se sentando em seguida e olhando diretamente para a Paliwal mais velha, ainda com os olhos arregalados.

- Por que você deu para o Noah?- ela perguntou colocando a mão na barriga da morena, em seguida percebendo o que tinha dito, em alto e bom som e de maneira espontânea, dando um tapa em sua boca logo em seguida- Desculpa- ela disse mais baixo.

Shivani abraçou a Brasileira com força, ela tinha certeza de que se estavam ali, salvos, era porque Any nunca desistiu, como ela pediu. Essa era a maior prova de amor e cumplicidade que poderia receber de sua melhor amiga. Não que ela julgasse quem tinha desistido com o tempo.

Quando as duas se soltaram, Shivani só pode fazer uma coisa.

-Desculpa- ela disse olhando para os mais velhos que aguardavam em pé e ainda em choque.

Antes que qualquer ação pudesse ser feita ou tomada, o piloto se aproximou dos cinco.

-Desculpe interromper o momento mas precisamos nos preparar para voltar com os sobreviventes. Não é seguro voar nesta rota perto do entardecer.

- Tudo bem- Radha tomou frente, enxugando as lágrimas- Peguem suas coisas, documentos e algo mais que precisem- disse para os dois.

Noah e Shivani tinham todas a roupas e pertences que trouxeram arrumados dentro da mochila. Isso nunca tinha acontecido naqueles meses, neste dia eles pareciam prever.

Eles se afastaram, entrando na cabana.

-Vamos ficar bem- ele disse enquanto carregava sozinho as coisas- Guarde na memória esta ilha, todos seus cantos, a lagoa, o mar azul, tudo que fizemos e vivemos aqui, os melhores e piores momentos. Isso é tudo que teremos deste lugar.

-E nosso filho- ela sorriu para ele, que fez o mesmo, beijando sua testa.

- Vai ficar tudo bem, eu prometo- ele repetiu mais para si mesmo do que para a morena. - Eles se abraçaram e saíram da cabana, pela última vez.

Foi nessa ilha que viveram momentos incríveis, mas também segundos de dor, saudades, medo e até mesmo pavor.

Mas a maior herança deste lugar era boa, ou melhor, incrível. Era aquele pequeno bebê no útero da Indiana, que já era tão amado e especial para seus pais.

-Também temos isso- ela pegou duas folhas que tinham acabado de cair de uma das árvores, entregando uma na mão de Urrea- para nos lembrar de todos esses momentos, desde o segundo em que pisamos aqui e eu queria arrancar seus cabelos de tanta raiva até o momento em que vamos embora, no meu caso alguns quilos mais pesada.

-O mais importante de tudo é que entramos aqui adolescentes irresponsáveis e saímos não só como sobreviventes mas como pais- eles falavam baixo e longe de onde todos podiam ouvir.

-Esperem um segundo- ele disse um pouco mais alto, dando alguns passos para dentro da mata.

-Toma- entregou uma banana na mão de Shivani.

-Como sabia que eu queria?- a morena recebeu apenas uma piscada como resposta.

- Vamos, o mundo os espera com saudades- Marcos disse os direcionando para dentro do helicóptero

-E com uma longa conversa- Radha disse extremamente preocupada mas completamente feliz.

Estavam salvos, saudáveis, felizes e com uma vida inteira para viver junto a nova vida que foram capazes de gerar.

A lagoa azul - Adaptação noavaniOnde histórias criam vida. Descubra agora