— Vai logo Sophia, acorda! — Minha mãe insistia em me acordar cedo em final de semana, mesmo sabendo que eu adoro dormir até mais tarde.
— Mãe, só mais cinco minutos. — Resmunguei e cobri minha cabeça com o lençol que durmo sempre.
Aqui no Rio quase sempre está um calor que o capeta ficaria com inveja, mas como não gosto de dormir sem me cobrir com nada, sempre tenho meu lençol dos minions comigo na cama.
— Esses seus cinco minutos se transformam em uma hora fácil, então levanta essa bunda linda que herdou de mim e vai pegar as correspondências lá embaixo.
Morávamos em um prédio e as correspondências sempre ficavam em uma sala perto da recepção. Minha mãe e eu dividíamos os dias em que cada uma pegava as cartas.
Respirei fundo e me dei por vencida. Se eu era teimosa, minha mãe era mais ainda — outra herança — e não iria desistir tão fácil de me fazer levantar da cama.
Eu não ligo em acordar cedo, não estou falando que gosto, mas quando é necessário acordo fácil de manhã. Mas em um sábado não é nada necessário acordar cedo, quem em sã consciência faz isso? Se a pessoa trabalha sábado eu entendo, mas minha mãe, por exemplo, levanta cedo sábado para simplesmente sentar a bunda no sofá e assistir filmes. Cada sábado ela escolhe um punhado, no final de semana anterior foram todos os filmes da saga O Senhor dos Anéis.
Levantei da cama e fui pentear meu cabelo em frente ao espelho do guarda roupa. Nosso apartamento não era muito grande, dois quartos, um banheiro, a cozinha e sala eram separadas por um balcão. Meu quarto era o menor, a minha cama de solteiro e o guarda roupa ocupavam quase o quarto todo, mas ainda cabia a cama da Lexie — minha cachorrinha que tem o nome em homenagem a Lexie Grey personagem da série Grey's Anatomy — e também uma mesa minúscula a qual eu uso para desenhar. As paredes do meu quarto são brancas, mas mal dá para enxergar pelo tanto de papel colados nelas. Não simples papéis, a maioria são esboços que faço de roupas. Como se não bastassem os desenhos, tenho fotos coladas em todos os cantos. São meus dois hobbys favoritos, moda e fotografia.
Mês passado me inscrevi num curso de três semanas em Londres, um curso de moda e fotografia na cidade mais maravilhosa que existe. Eles estavam oferecendo poucas bolsas e mesmo com meu pessimismo falando mais alto, acabei me inscrevendo. Mas, aparentemente não consegui, os resultados saíram semana passada e no site estava escrito apenas que os novos alunos receberiam e-mail e correspondência. Eu não recebi nenhum dos dois.
Nesse curso, o objetivo é fazer uma análise de imagem e desenvolvimento de estilo, analisar aspectos relacionados às características do corpo e entender e complementar os traços físicos de cada indivíduo, também teremos que elaborar looks. Além disso, saber como manusear diferentes máquinas fotográficas, ângulos, luzes e poses para a fotografia perfeita.
Além do curso, o aluno que ganhasse a bolsa e que não residisse em Londres "ganharia" uma moradia pelo tempo do curso, porém, iria precisar trabalhar para retribuir. Pelo que li, os trabalhos seriam de babá, garçonete, passear com cachorros e outros. Eu ia preferir muito mais ter que lidar com cachorros do que com crianças ou clientes. Mas infelizmente não dá para escolher.
— Você é mais lenta que a tartaruga que a gente tinha, desce logo pegar as correspondências. — Minha mãe voltou para o meu quarto e me encontrou ainda de pijama e penteando meu cabelo.
Não sei porque a urgência de ir pegar as correspondências, se deixasse para pegar onze e cinquenta e nove da noite elas ainda estariam lá. Se deixasse para pegar no dia seguinte, também. Mas minha mãe é a doida das correspondências, deve ser porque é assim que recebe notícias de sua melhor amiga que vive viajando e sempre manda um cartão postal de onde está com um relato sobre as aventuras dela.
Depois de usar o banheiro, escovar os dentes e trocar o pijama por um short jeans e uma blusa de alcinha, calcei meu chinelo e fui em direção à porta.
— Quer que eu fale alguma coisa para o Rogério? — Perguntei provocando mamãe, Rogério é o porteiro do prédio que sempre dá em cima dela descaradamente e ela morre de vergonha.
— Sophia, vai logo e para de graça. Não fale nada de mim para ele. — Só de falar o nome dele ela fica com as bochechas vermelhas, é bem fofo e engraçado.
Não me lembro de ter visto minha mãe com nenhum namorado desde que o meu pai, ou doador de esperma, nos abandonou. Eu mal me lembro dele, ele foi embora quando eu tinha quatro anos e se quer saber, não faz a menor falta nem para mim e nem para ela.
Esperei o elevador chegar, porque mesmo morando no terceiro andar, escadas ou qualquer exercício físico é demais para meu corpo sedentário.
— Bom dia Sophia, como sua mãe está? — Rogério perguntou assim que apareci na recepção.
— Ela está muito bem e você? — Perguntei, mas sem parar de andar na direção da salinha das correspondências, que ficava ao lado da mesa da recepção em que ele está.
— Estou bem, manda um oi para ela. — Ele disse e eu concordei ao entrar na sala.
Procurei pela nossa caixinha, sempre esquecia onde estava. Achei o número do apartamento pintado nela e a abri com a chave que peguei antes de sair. Tinha bastante papéis, peguei todos e fechei a caixa, voltando para a recepção e dando um tchau para Rogério antes de entrar no elevador.
Apoiei minhas costas no metal gelado e comecei a olhar as correspondências, a maioria eram boletos. Um cartão postal da amiga da mamãe e MEU DEUS!
Eu não posso surtar dentro de um elevador, principalmente porque tem câmeras e Rogério chamaria o SAMU achando que eu estaria tendo uma convulsão. Só queria pular e gritar.
Estava esperando por essa carta tanto quanto como quem é fã de Harry Potter espera pela carta de Hogwarts, que não me importei em sair correndo e gritando do elevador. A senhora que mora no apartamento em frente ao nosso abriu a porta para ver o que estava acontecendo, mas nem me importei em tentar explicar. Só abri abruptamente a porta de casa entrando ainda berrando.
Minha mãe apareceu na sala correndo.
— O que aconteceu? — Perguntou assustada.
— EU VOU PARA LONDRESSSSSS. — Eu não sei se ela começou a pular comigo porque eu a abracei e a forcei a pular junto, ou se ela realmente ficou empolgada também.
Depois de ler com calma o que estava escrito na carta e ter certeza que fui escolhida para receber uma das bolsas, surtei mais um pouco.
— Certo, precisamos arrumar tudo. — Minha mãe gostava de arrumar tudo com antecedência, já eu preferia deixar tudo para a última hora.
— Mãe, só vou viajar semana que vem. — Falei preguiçosa.
— Precisamos comprar roupa de frio, acha que consegue sobreviver lá com esses pedaços de pano que você chama de roupa?
Fiz uma cara de ofendida, mas ela tinha razão. Eu mal tinha casaco e não suportaria o frio de Londres com uma simples legging e um casaquinho fino.
— Vamos ao shopping e já aproveitamos para comemos por lá. — Propus.
Minha mãe não gostava de cozinhar, então qualquer oportunidade de comer fora ela estava topando.
Ainda estou anestesiada em saber que vou conseguir realizar dois sonhos ao mesmo tempo: ir para Londres e fazer esse curso de moda e fotografia.
Espero que dê tudo certo e que depois do curso finalizado eu volte para o Brasil com uma bagagem maior sobre esses assuntos.
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O Sonho de Sophia | Saga Amores Predestinados Vol. 1 | Disponível na Amazon
RomansaSophia, uma brasileira que desde os quinze anos desejou conhecer Londres vê oportunidade perfeita surgir quando ela descobre um curso de moda e fotografia - suas duas paixões - justo na cidade da rainha. Sem pensar duas vezes mandou sua inscrição e...