Embaixo Do Meu Guarda-chuva | The Umbrella Academy

Quinze quem?

Na manhã de 1° de abril de 2019 tudo estava bem. — Mais ou menos. O apocalipse não aconteceu, mas a Umbrella Academy não existe mais. Sendo isso bom ou ruim, ao menos não haverá um fim do mundo a impedir. Então, antes de restabelecer sua linha do tempo, coma um donuts.

Griddy's Dongnuts, segunda - 8:15 A.M

Só havia uma única pessoa naquele lugar. Uma garota de cabelo castanho de pontas verdes-claros e olhos tão verdes quanto, com um fone pink no pescoço estava sentada ali bebericando seu capuccino com chantilly e canela ouvindo qualquer uma das diversas músicas que poderia estar ouvindo, quando apenas mais um cliente apareceu.

Ambos não se falaram. O menino que parecia ter quase a idade dela só a viu de realce por causa da estranha cor das pontas de seu cabelo. Estavam a um banco de distância.

Quando esse ajeitou a gravata em seu uniforme que ninguém jamais tinha visto, a dona daquela pequena espelunca se dirigiu a ele.

— O que o garoto vai querer? — falou tentando ser simpática.

— O garoto aqui vai querer café. Puro. — acrescentou parecendo receber o tipo de comentário todo o tempo.

Quando a mulher saiu, a menina de fones encarou a janela e sussurrou para si mesma.

— O mundo deveria ter acabado ontem. — balançou a cabeça tentando esbanjar os pensamentos para longe e tornou a terminar sua xícara.

A garçonete de rosa entregou o café ao garoto estranho, depois foi até a outra cliente. "Já terminou mocinha?"
"Sim. Poderia me dar um pirulito de Tuti-fruti, por favor?" Perguntou com a voz um pouco arrastada.

— É claro. O verde ou o roxo?

— E o verde é de Tuti-fruti por acaso?! — disse irritada com a pergunta.

"Não." Respondeu a moça.

— Então por que perguntou?! — indagou entregando dois dólares ao balcão. Mas quando viu a de rosa abrindo a boca, interrompeu. — Não responde! É uma pergunta retórica. — falou por fim e saiu do lugar com o doce na boca. Abriu seu guarda-chuva, mesmo que estivesse totalmente ensolarado. 

Em meio a isso, a xícara de café do menino ao lado estava vazia. E ele se levantara rápido para tentar ver aonde aquela garota ia. "Ei! Você não vai pagar?!" Perguntou a balconista vendo-o quase sair da loja.

— Não, imagina! Eu vim só pra roubar esse café! — ironizou.

Mas teve que dizer algo quando a mão da mulher de rosa pairou sobre o telefone. "Eu estava sendo irônico!". Mais um dólar ao caixa e o local voltou a ficar vazio.

"Como assim O mundo deveria ter acabado ontem? Como ela sabe disso? Droga! Onde ela tá?"

Aquele menino começou a andar pelas ruas procurando a garota do capuccino se perguntando isso. Mas ela tinha desaparecido da sua vista. Talvez ele não tivesse ouvido bem. Ou ela não falasse coisa com coisa. Mas talvez ela soubesse de algo. Quando menos se esperava, sentiu gotas d'água caírem em seu rosto e mais dúvidas surgiram em sua mente. "Como ela sabia que iria chover?"

- Ei, você! Sabe se uma menina de cabelo verde passou por aqui?

- Ah, sim! Ela foi naquela direção. - disse um cara loiro e alto apontando para esquerda da rua.

E o garoto correu tentando encontrá-la por aí e nada. Olhou e olhou em volta prestes a ficar tonto, e quando pensa que não...

Bang!

Esbarrou de costas em alguém.

- Ah! O menino da cafeteria... - em seu tom de voz nato de desinteresse, exclamou a mocinha com o guarda-chuva que ele procurava. Assim, o pequeno sereno que respingava virou uma chuva forte que deixaria qualquer um resfriado. Em um piscar de olhos, a garota o puxou pela gravata pra debaixo do guarda-chuva.

- Como você sabia?

- Sabia sobre o quê?

- Do apocalipse. O juízo final. Disse que deveria ter acontecido ontem.

- Own, sim... Como você sabe algo disso?

- Quer que eu abra jogo? Tudo bem. Eu e meus irmãos salvamos o mundo, por isso, nenhuma outra alma viva deveria saber que isso aconteceu. Só que você sabe, e eu sei que está viva, por que eu não vejo mortos que nem o número 4.

- Seus irmãos? Número 4? Eu tenho certeza de que você não faz parte da Sparrow Academy.

- É, eu não faço mesmo. - Cruza os braços. - Só tem duas explicações plausíveis: ou você é da Comissão ou é uma de nós. Mas estou vendo que você não tem mais de 15 anos. Quem é você?

- Sinto muito. Suas duas opções estão erradas. Você também não me parece ter mais 15 anos e diz que é um das 43 crianças do dia 1 de outubro. A Comissão provavelmente já sabe que vocês tentaram salvar o mundo, conseguiram, mas que mudaram a linha do tempo. Pra sua sorte, a Gestora morreu e ninguém de lá vai tentar matá-los. Me diz, qual é o seu super-poder?

- Teletransporte. Por quê?

- Se isso inclui todo o espaço-tempo, consegue voltar ao passado. Suponho que para estar com essa aparência você ficou preso em algum lugar da linha temporal e quando tentou voltar para o presente, errou os cálculos e por isso tem essa carinha de jovem.

- Você é mais inteligente que os meus irmãos... Sim, foi isso que aconteceu, mas agora que já sabe, por que não me conta como diabos sabe de tudo isso?

Ela fecha o guarda-chuva.

- Por que eu devo confiar em você? Vai mexer ainda mais com o tempo. - ela o encarava olho por olho.

- Se não me contar, eu posso arrancar as respostas de você. Escolha. - ameaça.

- Chega mais perto e eu quebro o seu pescoço. - o garoto se afasta devagar. - Harlan, o menino que sua irmã, número 7, salvou em 1963. Ela não retirou todos os poderes dele. E isso fez com que ele fosse o primeiro com poderes, bem antes da Sparrow Academy ou Umbrella Academy, tanto faz. Ele é meu avó.

- Merda. E foi ele que te fez ter poderes? Por que não são iguais aos dele? Não responde! Talvez a transmissão de energia tenha sido menor ou diferente... - o garoto leva as mãos ao queixo e caminha para a direção oposta, mas em seguida, se vira à ela. - Eu ia perguntar o seu nome mas... Eu não ligo.

- Ah, ok. Então se divirta tentando me achar por aí sem saber o meu nome. Tchau! - fala saindo sabendo que ele voltaria atrás.

- Droga! - sussurra. - Qual é o seu nome? - se diz vencido.

- Quinze. - continuava andando.

- Acho que já sabe meu nome, né?

- Sei! Tchau, Cinco!

***