Capítulo 3

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- Ai meu Deus... quero dizer, desculpa... Não, quero dizer, sorry... ahhhh... – não conseguia formular uma frase simples sem falar besteira. Devia estar vermelha feito um tomate de tanta vergonha que sentia. O meu rosto parecia estar mais quente a cada segundo que ele permanecia me encarando.

- Nossa!

Huh? Nossa? Será que ele entendeu minha enrolação? Será que ele falava português? Será que ele me acha uma louca?

- Você é linda!

De todas as coisas que pensei que ele fosse dizer, essa definitivamente nem passou pela minha cabeça. Eu, Isadora, linda? Será que estava numa nova versão do Punk'd e o Ashton Kutcher ia aparecer por detrás do balcão? Só podia ser brincadeira.

As pessoas na fila, alheias à nossa conversa – ou falta dela – estavam ficando impacientes. Não tinha visto que a fila tinha andado e muito menos me lembrava o que pretendia comprar. Como se estivesse saindo de um transe, o book lover pareceu perceber onde estávamos e se virou pedindo desculpas a todos enquanto me puxava para fora da loja. Desculpas em inglês, é claro.

Chegamos do lado de fora e ele começou a me olhar novamente. Se antes eu começava a me sentir desconfortável, agora eu definitivamente estava. O jeito que ele me encarava era o mesmo que ele fazia com seu livro, minutos atrás. Era um fascínio que me desconcertava. Nunca tinha visto nada parecido.

- Desculpa, book lover, mas você vai ficar me olhando assim o dia inteiro? Me dê pelo menos uma estimativa de tempo para que eu saiba quanto mais vamos ficar aqui.

- Book lover? Desculpa, mas... mas você é linda. – ele disse novamente, me encabulando mais uma vez.

- Você me disse isso lá dentro e agradeço o elogio embora não o mereça, mas você pode me dizer por quê está me olhando como se eu fosse de outro mundo?

- Me desculpe, foi realmente muito inconveniente da minha parte. Muito prazer, meu nome é Leonardo.

- Isadora. – Respondi, aceitando a mão que ele me oferecia.

- Muito prazer, Isadora. Acho seguro afirmar que você também é brasileira, certo?

- Sim. Não esperava encontrar um brasileiro por aqui tão rápido.

- Já encontrei alguns, porém não falei com eles. Apenas os ouvi conversando. Há quanto tempo você está na cidade?

- Hummm, umas 8 horas? – disse, brincando com a alça da minha mochila para disfarçar meu nervosismo. Nunca fui boa em conhecer pessoas.

- Sério? Que sorte a minha. Não era para eu vir aqui hoje, mas onde eu queria ir estava fechado para manutenção. Resolvi então dar uma volta no parque e depois tomar um café.

- Foi exatamente o que eu fiz. Não estava com vontade de procurar por um hotel logo que cheguei, então vim para esse parque que estava na minha lista de lugares para conhecer. Você está na cidade há quanto tempo?

- Hoje completam duas semanas.

- Nossa! Você já está aqui há bastante tempo então. Veio sozinho ou acompanhado?

- Não estava combinado assim, mas acabei vindo sozinho. Na verdade, antecipei minha viagem porque estava muito animado para ver a cidade. Queria conhecer cada canto, mas sabia que se viesse acompanhado não conseguiria conhecer tudo. Você veio sozinha? Parece um pouco despreparada se trouxe apenas essa mochila com você.

Engoli em seco quando ouvi suas palavras e me chutei por ter uma boca tão grande. Por que tinha que dizer a ele que vim direto do aeroporto para cá? O que eu faço se ele for um serial killer em busca da sua próxima vítima? Pior ainda, e se eu for a próxima vítima? Oh Deus, que ele prefira as morenas.

[DEGUSTAÇÃO] Um olhar como o seuOnde histórias criam vida. Descubra agora