Algo Como Perda

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Azula não pensa em seu irmão mais velho com frequência, mas quando o faz, passa horas refletindo. As pegadas em sua mente deixam um caminho bem conhecido em seu cérebro, um caminho que ela segue sempre que pensa em Zuko.

O caminho começa com a infância. Azula não lembra muito de nada antes de ter cerca de quatro anos de idade, mas consegue lembrar dos braços de sua mãe ou de seu irmão em volta de sua pequena estatura, embalando-a de uma forma que seu pai se recusava a fazer. Sua mãe costumava cantar para ela, ela se lembra, mas rapidamente empurra a memória para baixo. Zuko era muito tímido para cantar também, em vez disso, ele inclinava a cabeça para perto da irmã e sussurrava em suas orelhas pequenas. Azula, sendo uma criança, não tinha certeza de que tipo de coisas seu irmão sussurrava para si, mas se tranquilizava ao pensar que isso não importava, no final. Zuko era um idiota, sempre foi. Ele provavelmente sussurrava todas as palavras melosas que Azula disse a si mesma que não queria ouvir.

A próxima coisa que Azula se lembra é de seu irmão mais velho aos sete anos, ela aos cinco. Eles estavam fazendo aviões de papel no jardim. Azula agarrou Zuko no ar e jogou-o no chão, pisando nele com seus velhos sapatos pretos. Zuko, é claro, começou a chorar - ele sempre chorava quando era mais jovem. Inferno, ele não parou nem quando ficou mais velho. Sempre foi fraco desse jeito. Azula o odiava por isso. Sua mãe ficou chocada com as ações de Azula. Ela repreendeu a filha e pegou Zuko nos braços, passando os dedos finos pelos cabelos do menino enquanto o carregava. Azula assistia a cena, embaraçada e fazendo biquinho, até que seu pai se aproximou e colocou a mão em seu cabelo.

"— Não ligue para o seu irmão" ela se lembrou de Ozai dizendo em seu tom áspero de costume, olhando para ela com um brilho estranho nos olhos, "— ele e sua mãe não têm o que você e eu temos. Não os deixe fazer você pensar que isso é uma coisa ruim."

Azula se lembrava de ter sorrido para ele e seu pai a ergueu do chão da mesma forma que sua mãe fizera com Zuko.  Radiante, ela se inclinou e deu um beijo na bochecha de Ozai do jeito que costumava ver Zuko beijar sua mãe. Ozai manteve os olhos à frente e entrou na casa sem se importar.

A partir daí, Azula tenta bloquear qualquer outra memória de Zuko - mas nem mesmo ela consegue bloquear o dia em que seu irmão foi embora. O dia havia começado tão normal quanto qualquer outro, com os irmãos se levantando para ir para a escola e tomando o café da manhã que a empregada havia preparado. Como de costume, Zuko e Azula sentaram-se o mais longe possível um do outro e Azula manteve os olhos no celular, enquanto Zuko olhava concentrado para o livro que estava lendo na época - se se esforçasse, poderia se lembrar que tinha sido O Apanhador no Campo de Centeio - não que se importasse; sempre era útil obter informações sobre o inimigo, só isso. Ela e Zuko haviam se separado há muito tempo, quando sua mãe partiu, e não tinha interesse em se aproximar dele novamente.

Então, eles foram para a escola. Zuko acabara de fazer dezesseis anos e Ozai o presenteara com um carro novo para a ocasião - com a condição de que levasse Azula para a escola e a trouxesse para casa, é claro. Tanto Zuko quanto Azula odiaram, mas era melhor do que andar de ônibus, então todas as manhãs e todas as tardes passavam quinze minutos tensos fazendo o que faziam no café da manhã: olhando obstinados para suas respectivas tarefas em total silêncio. Quando chegaram à escola, Azula saltou do carro e caminhou para onde Ty Lee havia estacionado sem olhar para trás.

Depois da escola, Azula foi para a casa de Ty Lee com a desculpa de "praticar ginástica". Elas tentaram treinar, sim, mas rapidamente o treino se transformou em uma maratona de TV no chão da sala de estar, os braços de ambas em volta uma da outra e seus rostos colados.  Fora um raro momento de relaxamento na vida de Azula e ela aproveitou o tempo que pôde, dando um beijo relutante de despedida na namorada algumas horas depois, quando foi solicitada a voltar para casa para o jantar. Ela caminhou os poucos quarteirões de volta até sua casa com passos rápidos, certa de que nada poderia arruinar seu bom humor.

Good Kind Of Different • TyzulaOnde histórias criam vida. Descubra agora