CAPÍTULO DOIS

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Cravo da Índia: "Eu o amei, mas você não percebeu."

#MeuJardimInteiro

Em 5000 a.C., os mesopotâmios cultivavam rosas às margens de um de seus principais rios, o Tigre.

Em 1850 a.C., os cretenses interessaram-se pelo lírio.

Em 600 a.C., na China, o imperador tinha mais 600 obras em sua biblioteca pessoal sobre botânica.

As flores participaram indireta e diretamente da história dos seres vivos, sendo sinônimo de emoções e sentimentos, tais como: felicidade, amizade, desejo, paixão, amor, tristeza, dor e luto.

E, apesar de eu não ter nenhuma flor em mãos, no meio de uma aula de química, no laboratório malcheiroso de ciências da escola, eu desejava ter um Cravo da Índia para poder expressar meus sentimentos ao meu melhor amigo — mesmo que, muito provavelmente, ele sequer saiba o significado do gesto.

Nossa turma de segundanistas estava sentada em duplas na sala do laboratório, e eu, é claro, estava fazendo dupla com Jimin. Cada dupla tinha uma bancada de mármore própria, na qual estavam distribuídos nossos materiais escolares para a aula e estávamos sentados em bancos de madeira altos e duros demais. Mas, ao invés de tomar notas sobre o que o professor explicava, como eu deveria, eu estava perdido em pensamentos, observando Jimin sorrateiramente.

Pela minha visão periférica, vi que ele estava com a testa franzida, fazendo pequenos vincos nela, os olhos estavam um tanto cerrados, enquanto esforçava-se para entender a matéria e escrevia com sua caligrafia perfeita em seu caderno organizado.

Meus pensamentos tomaram outra direção quando eu suspirei e passei os olhos pela sala, observando muitas duplas trabalhando com outras, formando grupos, ao contrário das instruções do professor.

Eu e Jimin fazíamos parte do grupinho de pessoas excluídas, que não se encaixavam em lugar nenhum. E, nosso grupinho, só tinha nós dois.

Nós não cantávamos; não tocávamos nenhum instrumento; não fazíamos teatro; não tínhamos religião; e não fazíamos esportes — apesar de Jimin ter pretendido tentar entrar para o time de futebol, porém, depois do incidente na casa de Namjoon, o capitão do time, rapidamente, ele desistiu.

Não éramos vistos como inteligentes — embora Jimin fosse um excelente aluno, tendo notas extraordinárias em todas as matérias —; não éramos utilizadores de substâncias ilícitas — mesmo que eu falasse constantemente sobre como eu amava as plantas verdinhas, fazendo muitas pessoas ficarem confusas —; não entendíamos bulhufas de moda; e não éramos populares.

Mas nada disso me incomodava, eu estava confortável em ser o garoto quieto, com notas medianas e que, frequentemente, passava invisível. Contudo, meu melhor amigo estava completamente insatisfeito com nossa situação.

"Nós precisamos de memórias marcantes!", ele sempre repetia para mim.

Eu já estava acostumado com as cenas de constrangimento que passávamos numa base diária. Felizmente, nós éramos tão irrelevantes para o cenário escolar, que nossos vexames não viravam motivo de chacota por muito tempo, pois logo as pessoas esqueciam quem éramos e o que tínhamos feito.

Jimin me arrastava de um lado para o outro, entrando em festas, as quais não tínhamos sido convidados, inscrevendo-nos em concursos aleatórios para ganharmos mais atenção entre outras coisas.

Falando em concursos aleatórios, isso me traz más lembranças...

Semana retrasada, ele tinha me feito entrar em um concurso de bolos da escola e, eu juro que não sei como, meu bolo em formato de gatinho tinha assumido a forma de um órgão sexual masculino.

HORTUS [myg + pjm]Onde histórias criam vida. Descubra agora