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𝐓𝐑𝐀𝐃𝐈𝐓𝐈𝐎𝐍
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𝐒𝐄𝐋𝐈𝐍𝐄 𝐌𝐎𝐑𝐆𝐀𝐍

EU ESTAVA HOSPEDADA NA CASA dos Smith há dois dias, o que significava que eu também estava há dois dias sem notícias do meu pai, apenas ouvia o som do carro saindo e entrando na garagem, dois dias sem saber se Meggie está bem ou se seus pais voltaram a brigar, e dois dias sem ter que aguentar os surtos de Candace e sua voz insuportável, dessa parte eu não estava reclamando, ficar longe da minha madrasta sempre me fez muito bem.

Agora eu e os irmãos Smith estávamos caminhando até a escola, por incrível que pareça estávamos todos em silêncio, mas esse silêncio não durou nem cinco minutos antes de Sam quebrá-lo.

— Ok, precisamos falar sobre um assusto de suma importância. — Sam chamou nossa atenção. Os olhos dela se voltaram para mim, e eu o reconheci imediatamente pois havia visto ele ontem a noite. Já sabia do que se tratava. — Por favor, Seline! Eu juro que não vou chamar muita gente. — Ela disse, já formando um bico enorme.

— De novo esse assunto, Sam? — Escondi o rosto nas mãos. Ela era realmente muito insistente. — Eu agradeço, mas não precisa fazer nada. É só mais um dia como qualquer outro.

— Na verdade, não é. Deveria ser uma data especial pra você. — Philip contradisse.

O que? Ela tinha contado para ele? Ah meu Deus, um dia desses ainda mato Sam.

— Samantha! — Repreendo e ela da um sorriso amarelo, pedindo desculpas.

Ontem acabei deixando escapar para Samantha que meu aniversário estava próximo, foi apenas um milésimo de segundo em que esqueci que ela é a pessoa mais insistente e curiosa do mundo inteiro. No segundo seguinte eu me arrependi profundamente de ter aberto a boca.

— Gente, o aniversário é dela. Tudo bem se ela quiser algo mais intimista. — Lia disse, acho que estava tentando me ajudar, mas eu não queria nenhum tipo de comemoração, nem mesmo uma mais íntima.

— Pelo amor de Deus, Lia! Não estrague meu plano! — Sam revirou os olhos para a irmã. — Você não tem nenhuma tradição de aniversário, Seline? Nem um bolinho? Nada?

— Tenho. — No momento em que terminei de pronunciar a palavra vi um sorriso enorme surgir em seu rosto. — E essa tradição envolve somente uma pessoa, eu. — Com a mesma rapidez que o sorriso apareceu em seu rosto, ele se desfez.

Não costumava comemorar meu aniversário com ninguém, nem sentia vontade de comemorar. Depois do dia em que minha mãe se foi, passei a "comemorar" essa data sozinha. Na verdade, comemorar com minha mãe, a única forma que encontrei de estar mais próxima dela durante todo esse tempo. E uma vez no ano eu o fazia.
Todos os anos eu costumava ir até um prédio abandonado, localizado no final da rua em que eu morava. Não era muito alto, mas tinha uma altura considerável. Lembro de subir sete lances de escada até chegar ao teto. Eu caminhava até a ponta, sentava o mais próximo que conseguia da borda e conversava com o céu. Mais especificamente com a estrela mais brilhante que eu encontrava, e acreditava, de alguma forma, que aquela pequena estrela pudesse ser minha mãe me observando e guardando de longe. Por causa da altura a iluminação era fraca, eu só conseguia enxergar pequenos pontos de luz das janelas de prédios distantes, sem contar as estrelas e a lua.

Quando subi lá pela primeira vez, minhas intenções não eram apenas observar a cidade ou o céu, ou conversar com minha mãe. Planejava me atirar de lá e finalmente acabar com tudo. Havia pouco tempo desde o acidente e eu ainda estava muito abalada. Mas quando estava prestes a pular, o fato de estar na beira do prédio, poder cair dali facilmente, despencar e finalmente descansar para sempre, me fez sentir que estava mais próxima dela.

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⏰ Última atualização: Mar 10 ⏰

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