Outra Oportunidade

20 7 4
                                    

O bip incessante estava irritando meu sonho, meu sonho onde eu estava saindo daquela luta, daquele pesadelo.
Forcei meus olhos abrirem e estava claro de mais no quarto.

- Filha! - ouvi minha mãe gritar e senti o peso em meu estômago.
- Cuidado amor, vai machuca-la. - era meu pai a reeprendendo por seu afogamento maternal.

Ainda não conseguia focalizar as imagens, a dor na minha garganta me faria gritar se isso fosse possível. Entrei em desespero quando senti novamente em volta do meu pescoço algo apertado.
Eu havia dormido enquanto estava sendo estrangulada? Precisava tirar aquilo do meu pescoço, não queria morrer!

- Alguém! Chame um médico! - o bip não parava, estava aumentando, meu olhos viram minha mãe tentando segurar meu rosto e os meus braços ao mesmo tempo, desnorteada, meu pai correu pela porta.
- Calma, calma, filha, já acabou, estou aqui! - suas mãos seguravam as minhas e sentia as lágrimas geladas escaparem pelo meu rosto.
- Oh minha filha, quão corajosa você é! - ela estava chorando enquanto limpava as lágrimas do meu rosto.

Meu pai entrou ansioso pela porta e atrás dele uma médica vestida de branco.

- Olá! Mariane, eu sou Teresa, sua médica, você está ainda no Rio Grande do Sul, Natal, você é uma mulher muito forte, oque fez salvou a vida da pequena Luísa, ela está bem assim como você, você está aqui faz 24hr. - tentei falar mas minha garganta doeu tanto que gruni de dor. - Não! Não tente falar, suas vias respiratórias estão bem danificadas, mas você vai ficar bem. - assendi a ela - Fizemos exames em você, todos as suas fraturas já estão devidamente tratadas. Você teve um corte no braço de quarenta centímetros, uma perfuração no ombro de três centímetros. Seu dedo mindinho foi colocado no lugar e sua perna teve quatro pontos, vai precisar usar esse colar por mais alguns dias e os cacos de vidro do seu braço foram retirados.

Enquanto ela falava minha mãe chorava no peito do meu pai, meu pai me olhava com orgulho mas eu conseguia identificar sua dor por trás do orgulho.

- Você está tomando medicamentos para tratar suas dores, desidratação e infeções e vai ficar no hospital com a gente por mais um dia, só assim pode viajar e voltar para São Paulo. Tudo bem? - assendi novamente e a médica sorriu para mim calorosa.

Assim que ela saiu meus pais se aproximaram, ganhei beijos nas mãos que não estavam com agulhas e um beijo delicado na testa.
Eles ficaram me elogiando pelo ato heróico por mais algumas horas até que a enfermeira me deu outro remédio e eu acabei dormindo em menos de cinco minutos depois.
Quando acordei novamente, meus pais estavam sentados a minha esquerda, minha mãe dormia na mesa e meu pai falava baixinho com o seu irmão do outro lado, Andréa fazia carinho no rosto de Luísa que dormia agora saudavelmente.

- Oi! - Eles disseram juntos - Tudo bem? - perguntou meu pai, fazendo carinho em minha mão! Assendi com cabeça e fechei os olhos novamente por um tempo a dor no pescoço era torturante. - Ela não pode falar por duas semanas. - explicou meu pai, meu tio se levantou e ficou ao meu lado, não sabendo exatamente onde tocar mim.
- Você ser a eternamente amada por ter cuidado da nossa filha! - seus olhos cheios de lágrimas não puderam segurar a emoção, as lágrimas escaparam dos meus também é eu somente sorri. - Muito obrigada, Mariane!
- Obrigada, querida! - disse Andréa.

Fechei os olhos apenas movimentando minimamente a cabeça, não queria ser tratada como heroína, aquilo eu faria por algum um.
No dia seguinte pela manhã recebi alta e sai em uma cadeira de rodas, o susto foi eminente quando do lado de fora vários reportes queriam me ver, pessoas me aplaudindo, cobri meu rosto, certeza que estava horrível e não queria aparecer desta forma!
Com dificuldade me colocaram no carro e fomos para o hotel.

Tive que ficar no estado até a consumação da prisão deles, Luis foi internado em estado grave e precisou amputar metade da genitália, Felipe está se recuperando dos golpes na cabeça e deve mais de 30% dos ossos quebrados, Solaria a mulher já estava presa preventivamente e iria ser a primeira a depor em 18 dias.

No final, Luis pegou 30 anos, Felipe pegou 28 e Solaria pegou 19 anos.
Foi uma barbaridade, houve protestos por todo o país mas infelizmente é lei no Brasil, ninguém pode ficar mais do que 30 anos preso.
Assim que Luis foi preso, precisou ser internado em estado grave já que foi estuprado na prisão e espancado, quase não resistiu, Felipe também foi espancado mas não precisou ser internado e Solaria teve a vida retirada na cadeia feminina, por atuar a favor de um sequestro com uma menina de nove anos.

Em todos os meus dias sem falar, não conseguia gritar ao acordar dos meus pesadelos vividos, a marca roxa escura do meu pescoço foi aliviando em um mês e quando deu três meses já não existia mais mancha no pescoço, no braço tratei as feridas mas todas continham uma cicatriz, tratei a cicatriz e agora estavam menos aparentes, na perna precisei fazer terapia por alguns meses e meu dedo mindinho estava recuperado em alguns meses. A fala precisei treinar e minha voz estava diferente, ficou mais grossa que o normal.

Depois de dois meses já apresentável dei entrevistas sobre meu ato heróico e escrevi um livro sobre esse dia e então decidi que carreira seguir, iria ser assistente social, ajudar mulheres e crianças a não passarem por uma situação igual.
A mensagem que distribuí com esse dia foi, nunca deixem que subestimem você pelo seu sexo! Lute como uma mulher, acredite no seus instinto, proteja quem ama!

Eu acreditei no meu instinto protetor e saí viva!

Instinto Protetor (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora