Esperança.
De fato, essa é uma palavra forte e poderosa, transmite o que chamamos de mudanças, nos indaga a ainda acreditar.
Era esse o pensamento de Katherine, até aquele momento.
— Princesa Katherine, vamos rápido, apresse-se, estão todos esperando — disse uma das servas enquanto arrumava a longa saia de sua vestimenta cheia de camadas pesadas de tecido. O vestido caia em renda por seus ombros, indo de encontro ao tecido bege, ressaltando a sua pele que clamava há muito pelo sol. — Andemos! — e, ao sair, cobriu-a com a longa capa branca que varria o chão à medida que andava.
A cada passo dado, seus sapatos ecoavam pelos corredores. Guardas a seguiam de perto, e suas criadas, logo atrás. Ao parar em frente a grande porta do salão, todos que lhe acompanhavam pararam, e a porta se abriu. A princesa adentrou o imenso salão de baile, onde todos os presentes abriam espaço para que passasse, indo de encontro ao meio do salão. O trono feito da pedra mais bem lapidada parecia brilhar diante de seus olhos.
O salão estava completamente iluminado, o vidro dos lustres espelhava a luz por todo o lugar. Ao final, os quatro tronos que deveriam pertencer a ela, seu pai, sua mãe e seu irmão, e por um momento a tristeza se fez presente em seus olhos, mas não poderia se permitir que aquele sentimento lhe invadisse. Não ali.
Em breve se sentaria ao trono, em breve seria a rainha de Newchestein, em breve tiraria seu povo da miséria em que estavam, afinal, o reino que ansiava por melhorias estava em caos e insatisfação com sua recente gestão. Katherine mudaria isso, era ela a quem clamavam, ela a quem chamavam de esperança.
— Katherine! Que honra a sua presença — a voz, já de idade, ecoava pelo salão por todos os ouvidos dos nobres, que os acompanhavam com atenção, prontos para qualquer fofoca que pudessem se beneficiar ou espalhar. Todos, trajados com elegantíssimas roupas de gala com suas bebidas em mãos.
— O prazer é meu, duque Person — ela curvou-se levemente, sua mão direita segurando o vestido. Sua boca formou-se uma linha e então um sorriso. O duque era gentil e sempre fora, desde que era criança e Katherine o admirava. Era o primo e braço direito de seu pai, quando vivo, e lhe apoiou ao enfrentar o luto de perder os pais e seu irmão mais velho.
O duque estendeu-lhe a mão já calejada dos tantos anos vividos e a jovem tocou-a gentilmente, segurando-a. Então todos afastaram-se do centro do salão. Person era como um pai quando precisava. Estendendo os braços, as colunas devidamente retas, a valsa tocou e então, dançaram, e ela sentia-se a salvo. Sabia que aquele homem lhe ajudaria após assumir a coroa, e que iria ensinar-lhe tudo que deveria saber sobre governar tão bem quanto seu pai um dia governou.
O baile seguiu-se perfeitamente, todos se juntaram ao meio do salão e dançaram, juntamente com a princesa e o duque. Katherine finalmente sentia-se feliz.
Na manhã seguinte, Miriam, dama real da princesa, abria as cortinas. O sol invadia radiante conforme o quarto se clareava. Katherine espreguiçou-se rolando na cama e puxando as cobertas para cobrir-se, resmungando palavras incapazes de serem decifradas.
— Vamos Kathe, acorde! — disse Miriam. Katherine apenas remexeu-se embaixo das cobertas.
Kathe fora o apelido que Katherine ganhou de Miriam ainda quando criança, muito no início de sua amizade, independente do título. Talvez seja por isso que a Princesa a escolheu como dama real, porque diferente de todos os cargos, aquele era o que poderia estar com ela. Isso as faziam se sentir mais próximas uma da outra. Sempre a chamava pelo apelido quando a sós. Aquilo entre elas era amizade, era intimidade.
Katherine gostava do apelido e eram poucos aqueles que realmente o podiam usar.
Miriam deu quatro passos pesados da janela para o lado da cama puxando a coberta que cobria o corpo da jovem.
— Acorde! — repetiu, agora em tom sério. A princesa encolheu-se segurando os joelhos e amaldiçoando o vento que entrava balançando as cortinas e invadindo o quarto de aparência medieval, seu corpo enrijeceu e os pelos arrepiaram-se.
— Que horas são? — a voz sonolenta estava rouca, havia cumprimentado diversos nobres, alguns cuja existência era desconhecida pela princesa, além de tentar causar uma boa impressão para o Conselho, rígido o bastante para lhe causar calafrios por todo o corpo.
Katherine agia com extremo receio quando se tratava do grupo de conselheiros composto de duques — a maior parte já de idade avançada — que reclamavam de quase tudo e pouco lhes agradavam. Mas precisava deles até a coroação. A princesa então suspirou.
— Vamos princesa, já são quase dez horas. Lucy trouxe seu café da manhã, coma rápido e apresse-se para a reunião. Sabe que precisa estar presente em todas elas, sem exceção — Miriam sinalizou para que a serva trouxesse a bandeja de café. Katherine sentou-se apoiando a bandeja em seu colo. — Separei também sua roupa, está em seu quarto de vestir. Esperarei na sala, então seja rápida.
A princesa bocejou enquanto a porta se fechava atrás de Miriam. Sua barriga roncou enquanto encarou a comida em seu colo, abocanhando-a logo em seguida. Não demorou muito para os pratos se encontrarem vazio. Ela piscou, ainda acordando se preparando para levantar.
Estaria de volta aos afazeres reais em alguns minutos. Precisava construir seu nome entre aqueles homens e aquelas eram oportunidades perfeitas. A reunião do Conselho.
Eu sou capaz! — pensou.
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Quote do capítulo I
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Palácio de Pedra
Ficção HistóricaEm um império onde a coroa é apenas incerteza, e quem a assume corre sérios riscos, você se arriscaria a assumir o trono? Katherine talvez seja capaz.