Final

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Victor estava em pé em frente a janela olhando para o lado de fora. A noite já havia caído e no quintal de Joseph havia uma névoa leve mais que provavelmente viraria densa a medida que a noite fosse se passando.

   A alguns metros dele, seu avô Joseph ainda estava sentado em sua poltrona fumando um charuto. Victor não entendia bem de charutos, mas parecia ser de qualidade.

   Depois de algumas horas ouvindo as histórias que saiam da boca dele, Victor não estava só a beira da janela a pensar, estava a beira a insanidade.

   — Você é maluco. — disse Victor olhando de forma rude  para seu avô. O velho devolveu o olhar com uma dose de deboche.

   — A realidade é muito mais extensa do que você imagina, meu neto. Vai muito além do seu conceito pessoal.

   — Mas oque você está dizendo não tem nenhum sentido. Como pode saber de coisas que aconteceram a tanto tempo?

   O velho apagou o charuto no cinzeiro e soprou a fumaça para o alto.

   — Eu estava lá. — disse por fim — Eu lembro de todos eles, como eu falei. Lembro da dor de cada um na hora de suas mortes. Sebak, Sophia, Nathan, Benjamin, Natasha e Hector. Sinto o cheiro da carne queimada deles.

   — Queimada?

   — Todos estão queimando no inferno. Eternamente. E logo será eu.

   Aquilo para Victor era com certeza sinal de demencia.  Talvez o afastamento social que Joseph se submeteu nos últimos anos tenha influenciado em toda aquela loucura. Era uma resposta viável, com certeza. Mas de que aquilo lhe serviria?

   Victor voltou para sua cadeira e disse:

   — Não acredito em você e não acho que tenha noção do que está falando. Talvez você tenha mesmo ficado louco, morando aqui. E agora seu cérebro está criando uma solução para o que aconteceu, para que você não sofra com a realidade de que matou minha avó porque é um assassino.

   Joseph, como sempre, não se abalou com as palavras de Victor. Se inclinou para a frente, na poltrona de modo que aproximasse o rosto do dele.

Então disse, quase em um sussurro.

   — Acha que eu não sofro? Eu matei a Sisse, porque a presenteei com um anel. Um anel que deveria simbolizar nossos trinta e cinco anos de casados, mas que nele, continha uma única e amaldiçoada pedra branca.

   Ele voltou a se encostar na cadeira.

   — Então a história se repetiu com vocês?

   — Sim.

   — Como aconteceu?

   O velho olhou para o lado e viu que não havia mais charutos. Ver seu avô fumar era a única coisa naquele velho que lhe fazia lembrar do avô de sua infância.

   — Poderia pegar mais um? Minhas costas doem a cada movimento.

   Victor foi até a estante e pegou outro charuto o entregando a Joseph que acendeu e soprou para cima. Isso o fez relaxar os ombros.  Ele sentou-se na cadeira e esperou as palavras do velho.

    — Aconteceu na véspera de  seu aniversário de 10 anos. Eu e Sisse estávamos indo para a sua casa. Viajamos ao meio dia, e passamos a tarde na estrada. Deus, como Sisse estava empolgada com a viajem. Nós não víamos você a quase um ano. Por ironia do destino, a véspera do seu aniversario, era nosso aniversário de casamento. Uma coisa que você tem que saber sobre sua avó Sisse, é que embora ela me amasse, dava mais importância a seu aniversário que ao nosso. Ela sempre esquecia. Quando a noite caiu, nos hospedamos em uma pousada. Chegaríamos na sua casa pela manha. Mas a manhã nunca chegou para ela.

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2020 ⏰

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