O Soldado e o Fugitivo

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Adam havia viajado com seu pelotão por diversas fazendas ao norte da Alemanha, e quando chegava a cada uma delas ele sentia um aperto em seu coração, pois sabia que ele poderia vê-lo a qualquer momento, e então seria o fim.

Não queria que o pegassem, e o medo que ele sentia era enorme.

A última vez que viu Benjamin não foi a melhor das ocasiões. Naquele dia os soldados alemãs estavam fazendo uma filtragem nas casa em busca de judeus e ele havia sido um dos convocados para fazer a busca. Seu primeiro ato foi correr até a casa de Benjamin e o avisar.

Eles não se conheciam a muito tempo, na verdade. Porem, as poucas palavras que trocaram na igreja foi o suficiente para ele despertar a paixão que havia dentro de si. Era um sentimento novo e mortal. Pensar em Benjamin torturou sua mente por muitas noites. Se apaixonar por um homem parecia tão errado, quando se comparava a maneira em que foi criado, todavia, era incontrolável.

Passou muito tempo determinado a esquece-lo, mas sempre que o via, era como jogar gasolina no fogo. Foi somente quando Benjamin mostrou reciprocidade que ele cedeu a paixão ardente que queimava em seu âmago. O beijo naquela noite foi a prova definitiva de seu amor.

Como se não bastasse a dificuldade que era amar um homem em uma sociedade que não entendia tais sentimentos; Benjamin era Judeu. E quanto a caça começou as coisa se complicaram.

- Você precisa fugir. - disse Adam e quando olhava pela janela do apartamento de Benjamin. - Eles vão encontrar você.

- Mas eu não quero deixar você. - indagou Benjamin chegando segurando a lateral do seu rosto.

- Vá embora. Eu prometo que vou te encontrar.

Benjamin estava sendo caçado por ser judeu, e Adam sentia medo por ambos, pois era um soldado nazista. Não compactuava com os ideias do seu líder Adolf Hitler, mas havia sido obrigado a servir. E agora tinha que lidar com essa maré de problemas.

Foi naquela noite na cidade que eles haviam se visto pela última vez até então. Benjamin arrumou suas coisas e partiu. A última coisa que disse a Adam foi que ele estaria escondido em uma fazenda de uns amigos que ficava no norte. Lhe deu um beijo e sumiu pela porta dos fundos.

Haviam se passado várias semanas desde então. E agora Adam estava em uma expedição nas dezenas de fazendas ao norte caçando judeus, e com medo de que Benjamin fosse encontrado em alguma delas. Tinha que acha-lo antes de seus companheiros soldados.

Nunca entendeu o ódio por judeus de seus superiores, e já teria deixado o exército que não fosse obrigado a cumprir um regulamento. Tinha esperança que ele teria permissão para sair dentro de alguns meses, então iria procurar Benjamin sozinho e o proteger até tudo acabar.

Depois de checar quatro fazendas naquele dia, eles se dirigiram para a última naquela área. Durante o dia haviam pegado um Judeu escondido no porão de uma casa. Ele foi preso e os donos pagaram uma multa alta por esconder inimigos do Estado. Mas faltava a última do dia, e a medida que se aproximaram ele sentia medo.

Quando bateram na porta, uma mulher pouco robusta de cabelos loiros e pele queimada do sol abriu. Em seu rosto havia um sorriso falso.

- Boa noite, senhores. No que posso ajudar? - Perguntou a mulher. Adam ficou atrás de seu amigo enquanto ele tomava a palavra.

- Estamos de passagem e achei que podia nos oferecer um copo de água. - disse Klaus, amigo de Adam.

- Claro.

- Não vai nos convidar a entrar?

- Claro. Entrem.

Ele entrou depois de Klaus. A casa era modesta. Havia poucos móveis e três crianças comiam sopa em uma mesa. Todas evitando olhar para eles, mas não conseguiam esconder a curiosidade nos seus olhinhos. A mulher pegou água e os serviu. Quando terminaram, Klaus iniciou seu showzinho de sempre.

- Senhora, tem uma bela fazenda aqui.

- Essa terra é nosso tesouro. - disse a mulher, já começando a suar.

- O trabalho aqui deve ser árduo ,- disse Adam falando pela primeira vez. A mulher o olhou e sorriu calmamente.

- Acho estranho uma coisa - disse Klaus olhando um enfeite na estante e com sarcasmo - Que suas plantações estejam tão bem cultivadas lá fora.

Todas com o mesmo tamanho, como se tivesse sido plantadas e irrigadas no mesmo dia. Não seria estranho, se você tivesse marido. Mas pelo visto não tem. Me responde, como uma mulher sozinha com três filhos pequenos consegue fazer tanto trabalho sozinha?

A mulher começou a tremer e o suor desceu na lateral do seu rosto.

Klaus o olhou sorrindo.

Era óbvio para os dois; ela estava escondendo alguém. Adam também sorriu para disfarçar, mas o nervosismo também tomou conta de seu corpo.

- Eu faço o que posso - disse a mulher, enfim.

- Ou está escondendo alguém.

- Certamente não, senhor... Eu... Sou... Sozinha com meus filhos. Eles me.. me ajudam, são bons...

- Vamos olhar seu porão. Se não tem ninguém aqui certamente não encontraremos. Tudo bem?

A mulher assentiu e se juntou as crianças a mesa quase chorando. Quando Klaus se dirigiu até a porta do porão, Adam tomou a frente.

- Deixa comigo.

Klaus assentiu e ele desceu.

Sabia que tinha alguém ali. Precisava ter certeza que não era Benjamin, e se fosse precisava se certificar que ele ficaria seguro.

Quando desceu as escadas, ascendeu a luz, notou que o porão estava muito sujo de poeira por todos os lados, e umidade. Ele caminhou lentamente olhando atrás de barris e móveis velhos.

- Adam. - disse alguém atrás dele. Então ele se virou rapidamente.

- Benjamin.- Ele sussurrou ao vê-lo.

Benjamin estava diferente. Parecia mais forte e estava com barba. Também usava roupas diferentes, o que era compreensível já que começara a trabalhar no campo. Porém era a mesma voz amável de sempre. Não Perdeu tempo e o abraçou. Era muito bom vê-lo.

- Sabia que te encontraria - disse Adam com lágrimas nos olhos.

- E eu sabia que viria.

Ele pressionou seus lábios contra os do seu amado. Quando se distanciaram Benjamin falou:

- Qual o plano?

- Vou subir outra vez. Nós vamos embora, e amanhã a noite eu volto para te ver. Dessa vez sozinho.

Ele concordou e o beijou novamente Então subiu as escadas do porão novamente.

Seu amigo Klaus estava sentado a mesa junto com a mulher e as crianças tentando atacar o psicológico da mulher de alguma maneira.

- Não havia ninguém. - disse Adam.

- Tem certeza?

- Olhei cada centímetro do porão. Não tem ninguém lá embaixo. Se havia alguém antes certamente foi embora antes de chegarmos. Mas duvido, o lugar está imundo. Não acho que alguém desça lá a um bom tempo.

Klaus fez uma careta e disse:

- Pois bem. Vamos. Obrigado pela água e a conversa , senhora.

Então eles saíram da casa. Não iriam mais visitar fazendas naquele dia. Mas Adam estava satisfeito; havia encontrado Benjamin e agora poderia mantê-lo seguro. Voltaria no dia seguinte e conversaria bem mais com ele. Ele o amava demais. Não importava se isso burlasse religiões e ideologias idiotas. O amor que ele sentia por Benjamin era maior que tudo isso.

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