O empresário e a garçonete

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Os olhos de Louise eram sempre vidrados no relógio da cafeteria quando ele passava das sete horas. Não era o tipo de mulher que era sempre ansiosa, mas todas as manhãs eram a mesma coisa.

   Quando Hector visitou a cafeteria no centro de Paris, em que ela trabalhava, pela primeira vez, um flerte silencioso começou a acontecer entre eles. Ele era um homem bem apessoado, usava um terno preto; ela logo entendeu que ele era um homem importante.

No primeiro dia, não houve nada além dos belos olhares sendo trocados. Ele voltou no dia seguinte, foi quando começaram a conversar. A personalidade dele era tudo aquilo que ela havia imaginado. Era carismático e sempre estava sorrindo, diferente dos outros homens parecidos com ele. A grande maioria eram antipáticos, pareciam estar sempre atrasados, e seguravam maletas e levavam sabe se lá deus o que.

   Mas Hector exalava algo diferente.

   Ele voltou no dia seguinte e ele a convidou para um jantar.

   Quando ela mesmos esperou, se viu em um apartamento com ele, fazendo amor.

   Ela era uma mulher simples. Vinte e nove anos. Nasceu em cresceu no interior da França, em uma fazenda, nunca havia feito faculdade, e trabalhava lá a três anos. Era incomum para ela que um homem rico como Hector quisesse chamá-lo para sair. Porem, seus momentos juntos nos jantares, nos passeios e na cama, sempre diziam outra coisa.

   Hector era um homem casado quando a conheceu. Quando ela descobriu isso, eles quase terminaram o que tinham, seja lá o que fosse. Foi naquele dia que Hector falou que a amava. Ele a abraçou, pediu desculpas pelas mentiras e prometeu de divorciar da esposa por ela. Louise não aceitou no começo, não queria ser a causa a infelicidade de alguém, mas o que sentia por Hector era grande demais.

   — Louise — disse alguém a trazendo de volta para a realidade. Era seu chefe que a olhava com os braços cruzados. — Eu não te pago para você ficar em pé olhando para o relógio.

  Ela se recompôs rapidamente.

   — Desculpa, senhor Jac.

   Ele fez uma careta de reprovação e voltou para os fundos da cafeteria. Sua amiga Sofia saiu logo em seguida rindo dela. Sofia era uma mulher de sua idade, de pele escura e com um ótimo sorriso. Trabalhava no lugar a mais tempo e sempre a confortava após uma bronca do chefe, já que ela mesma já havia se costumado bem com ele.

   — Está esperando seu príncipe encantado? — Perguntou Sofia.

   — O nome é Hector, Sofia.

   Ela deu uma risadinha. Sofia era tão bonita; segundo a lógica, ele deveria ter se apaixonado por Sofia e não por ela. Todo homem bonito que entrava colocava os olhos nela, apenas Hector havia sido diferente.

    — Vocês já resolveram aquele problema? Da... Esposa?

    — Ele prometeu se divorciar. Está no processo.

    Elas estavam limpando algumas mesas juntas. Aquele dia o estabelecimento não estava muito movimentado, mas isso não significava menos trabalho.

    — E... Aquele outro probleminha? da sua casa? — Perguntou Sofia, sem jeito para tocar no assunto.

   — Está tudo bem — Mentiu Louise.

   Acontece que o salário de uma garçonete de cafeteria não é tão grande assim. Principalmente quando seu chefe é um explorador.
 
  Louise vivia em um casa pequena e alugada sozinha com seu gato. Nos últimos meses ela havia entrado em uma situação financeira complicada. Seu aluguel estava atrasado, isso gerou uma discussão feia com os donos do imóvel que só cessou quando ela prometeu pagar tudo de uma vez no final do mês. Quando ela recebeu o seu salario semanal, começou a guardar todo para pagar o aluguel, e isso acarretou o problema da falta de comida em casa.

   Por isso sempre que ela podia, beliscava alguns pães e biscoitos na cozinha da cafeteria, para que não ficasse com fome durante o dia. Nas noites em que não saía para jantar com Hector, ela levava as sobras de comida da cozinha para ter um jantar, e os restos dos clientes ela levava para seu gato. Certa noite, na qual não sobrou nada na cozinha, ela precisou comer sobras das mesas dos clientes. Aquilo a fez chorar naquela noite, não pela comida mas pela situação.

  Ela havia explicado a situação de forma não detalhada para Hector, que lhe ofereceu dinheiro. Mas ela não aceitou. Não queria o dinheiro dele. Mas mesmo assim ele prometeu ajudar assim que o divórcio se tornasse legal.

   Quando Hector entrou no estabelecimento naquela manhã, ela sentiu seu coração acelerar. Ele foi até ela e a beijou rapidamente antes de falar.

   — Oi Lou.

   Ela sorriu e empurrou uma mecha de cabelo para atrás da orelha. Sofia saiu de fininho para a cozinha.

   — Oi, como está hoje? — Perguntou Louise.

   — Um pouco atarefado. Nem vou poder me servir aqui hoje, passei apenas para ver você.

   Ela corou e ele pareceu notar, devido a risada disfarçada que ele deu.

   — Queria te ver pois mais tempo. Você anda tão ocupado ultimamente.

   — É o divórcio. Hoje é o dia que essa situação será resolvida com o juiz.

   Louise apenas o olhou timidamente. Ainda sentia remorso de fazê-lo se separar de sua esposa. A mulher, seja ela quem fosse, com certeza era uma boa esposa e certamente rica como ele. Será que ela sabia que Hector a estava trocando por uma garçonete ?

   — Ei —disse ele, chegado próximo. — Sei como se sente em relação a isso. Mas não sinta. Eu te amo, e é você quem eu quero.

   Eles se beijaram novamente. Dessa vez um beijo mais longo. Ouviram então o chefe tossir atrás dela indicando que não queria que aquele tipo de coisa acontecesse. Isso os fez rir um pouco. Olharam para ele, a tempo de ver ele voltando a cozinha com uma cara feia em negativa.

   — Quero te ver a noite. Tenho algo para você. — disse Hector.

   — O que é?

   — Você vai saber a noite.

   — Mas...

   — Louise...

   — Tudo bem, tudo bem.

   Ele riu, beijou sua testa e saiu da cafeteria. Ela ficou em pé olhando para a porta. Como o amava, pensava ela. Se considerava sortuda por tê-lo com ela. Outro cliente entrou na lanchonete e ela foi atender. Mas ainda estava nas nuvens com a visita de Hector, assim como ficava todas as manhãs. Mas disfarçava bem na frente dos clientes e do chefe, mas não na frente de Sofia, que a olhava rindo e com uma expressão de tamanha malícia. Talvez Hector fosse mesmo seu príncipe encantado.


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