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O quarto de Bae Joohyun era uma mistura de rosa e branco, com um tapete de camurça no chão e pouquíssimos quadros monocromáticos na parede. Não tinha pôsteres espelhados pelas portas e nem uma televisão de cinqüenta polegadas. Era simples e básico. Tinha um abajur acima da cômoda ao lado da cama, junto de sua coleção de filmes de ficção científica e algumas medalhas adquiridas na quinta série, uma prateleira com alguns ursos de pelúcias que antes eram de Sooyoung e algumas, pouquíssimas, fotografias pregadas em um varal de fotos improvisado.

Era organizado. Muito organizado. Com o passar dos anos, Joohyun absorvera às manias da irmã de manter tudo arrumado, então tudo em seu quarto era classificado. Nem mesmo suas roupas escapavam. Todas tinham uma classificação de acordo com o uso. "Casuais", "Para sair", "De ficar em casa", "Para fazer de pano de chão", todas eram nomeadas. Não havia nada naquela ambientação que estivesse fora dos conformes.

E ela gostava daquilo. Gostava da sensação de viver em um ambiente extremamente higienizado e sistematizado.

A questão era que, naquele instante, tudo naquele quarto parecia lhe incomodar.

Joohyun estava sentada de pernas cruzadas na cama. Tentava à todo custo concentrar-se nas anotações feitas em seu caderno, mas, de algum modo, não conseguia contextualizar absolutamente nada do que estava lendo. Estava há minutos no mesmo parágrafo e não entendia nem mesmo o título. Era quase como se sua caligrafia, de uma hora para outra, tivesse se transformado em hebraico. Talvez polonês. Mas uma língua que ela não conseguia, de forma alguma, compreender.

E a culpa não era só do noticiário ressonando baixinho no rádio ou das lamúrias de Sooyoung pelo corredor dizendo que não queria ir para a faculdade naquele dia. Era de Kang Seulgi. A maldita capitã do time de handebol.

Para Joohyun, pensar nela era inevitável. Tão involuntário como respirar.

Desde que fôra embora não conseguiu, nem por um segundo sequer, deixar de pensar em como faria para aturá-la durante uma semana, que era o tempo médio que levariam para para concluir o projeto. Também não pôde deixar de pensar no que usaria naquele rápido.. Encontro? Não! Encontro não! Apenas uma tentativa falha de pedí-la desculpas.. E tais pensamentos pareciam consumir uma parte de seu cérebro.

Joohyun estava tão, mas tão imersa em seus próprios pensamentos, que sequer ouvira quando o primeiro estalo veio da janela. Preocupou-se tanto com os exercícios, que não dera nenhuma sequer importancia para o mundo lá fora, consequentemente, com quem lhe chamava.

Novamente, alguma coisa fez crac ao atingir sua janela. Dessa vez, Joohyun escutou. Porém, por saber que a árvore do quintal era grande o suficiente ao ponto de seus galhos encostarem na janela, não dera muito importância. Continou tentando contextualizar a caligrafia à sua frente. Mas, quando o ruído tornou-se insistente, não se assemelhando nenhum pouco com galhos, logo ela soube: tinha algo errado.

Quando Joohyun finalmente largou o caderno para dar atenção ao barulho, deparou-se com algo tão, mas tão irreal, que sequer conseguira se mover; Kang Seulgi estava na varanda de sua casa, procurando pedrinhas no chão para que pudesse jogar na janela e atraí-la.

— Oi! — Fôra o que Seulgi disse após vê-la. — A gente tem um encontro, esqueceu?

Olha, Joohyun não era cardíaca, mas de uma coisa ela tinha certeza: seu coração, à qualquer momento, iria saltar de sua caixa torácica. Ela nunca o vira bater tão depressa. Ah, não mesmo! Nem nos jogos estudantis do ensino fundamental, onde fôra obrigada a correr uma maratona inteira usando o suéter da escola e quase teve um derrame na terceira volta pelo ginásio o vira bater tão descompassado. Para dizer a verdade, ela estava à um passo de ter parada cardíorrespirátoria, e se realmente tivesse, a culpa seria inteiramente de Kang.

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