Dando uma volta e voltando pra casa

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Eu finalmente estou andado de moto com o Vlad. Colada nele e sorrindo. A tarde já ficava alaranjada no horizonte. Os meus pensamentos se afastavam da tarde meio conturbada lá no shopping. O meu corpo encostado no dele. Eu abraçada nele. A beleza da rodovia e da paisagem, nem se comparam ao que to sentindo agora. Que sentimento de ternura, de afeto e de amor. Eu e ele, somente nós dois. Eu nunca poderia imaginar isso antes. Toda a minha dor sumindo. Eu lembro do sorriso do meu pai e isso não me dói mais. Eu lembro das vezes que ele me erguia no colo, das vezes que ele brincava comigo. Acho que eu odiava a Física porque me lembrava dele. Já tá mais frio, mas perto do Vlad eu não me sinto com frio. Acho que o mundo tá ganhando cor outra vez. Sempre conversávamos, mas hoje foi especial, foi diferente. Ele não me via mesmo como uma possível namorada. Se não fosse pela tarde de ontem, talvez eu nunca estivesse nessa motona com ele. Andando calmamente nessa rodovia quase vazia. Quem pode prever as coisas que o destino nos promete? Será que vai ser sempre assim? O que me resta é esperar e viver o momento. Eu não me sinto mais tão culpada de aproveitar a vida, mesmo com o meu pai debaixo da terra, mesmo com a sina que ele "escolheu" pra ele mesmo. Eu acho que ele ia querer que eu fosse feliz. É isso que eu vou tentar fazer, pai. Tentar ser feliz. Eu só vivia, eu só esperava, eu só reagia. Eu nunca dava tudo de mim. Agora vai ser diferente. Vendo dessa maneira, eu acho que a vida é um presente. Eu to até com medo de que tudo isso despareça, mas mesmo se tudo sumisse de repente amanhã, eu estaria feliz pelo breve momento de felicidade que eu posso desfrutar hoje. Será que a Lana tá bem?

A Dinha foi passear com o mano. Será que ela tá de boa? Aqui no carro da mãe dela e a gente já entregou o Humberto no apartamento dele. Agora esse bar bar bar bla lou la iota ian, que língua é essa! É um lugar bem pequeno onde o Humberto mora. O quadro dele vai ficar exposto, que vergonha. De tudo mais caro que eu ganhei dos peguete nada se compara a isso. Eu esqueci de tirar uma foto pro Insta, muita comoção naquela hora. Espero que ele tenha gostado dos presentes, do celular e dos materiais de pintura. A Ana e o aguado tão indo na minha casa me deixar. Queria ficá mais tempo na Dinha e com o Humberto. Ainda bem que a gente mora no mesmo condomínio fechado e é perto, mas é longe do Humberto. Tanta coisa passou pela minha cabeça hoje. Quem diria que eu ia achar uma pessoa tão diferente, mas não no sentido ruim. A dor que ele sente é imensa, mas ele irradia uma energia tão boa. Ele foi o único a enfrentar aquele babaca e todo mundo olhando e filmando. Como posso eu gostá dele assim tão rápido? Olha o aguado em choque pela minha casa, nem preciso de tradutor pra isso. A Ana e ele sozinhos depois. Acho que vai esquentar.

— A casa do Vlad tem o tamanho do quarteirão? Devem ser uns 100 mil metros quadrados. Quantos seguranças!

— Essa não é a casa do Vlad, Jens. Apenas a Alana mora aqui. Ele mora dentro do condomínio, mas numa casa menor quase igual a minha.

— Achei que esse lugar fosse algum tipo de réplica turística de um castelo da Europa. Mas dentro dessas muralhas com casas é improvável.

— A família deles é muito rica. Uma das 100 mais ricas de todas as Américas, se não me engano.

— Ele e a irmã são tão simples. Eu me admiro com isso.

— Chegamos Alana!

— Ainda bem! Um pouco de Português pra variar! Obrigado pela carona, Ana. Tchau pra vocês!

— De nada, Alana. Mande lembrança para os seus pais. Apareça a hora que quiser em casa.

— Tchau Alaana.

Até que eles são um casal bonitinho. Os seguranças me dão boa noite e eu entro no carro que leva até a entrada da minha casa. Esse lugar é...tão...vazio. Eu me sinto tão só. Quantas pessoas queriam morar aqui e eu reclamando. Quantas pessoas nas ruas sem um teto. Mesmo assim, eu odeio esse lugar, mas hoje o Yellow vai me fazer companhia. Come será que tá o Humberto?

Dinha e LanaOnde histórias criam vida. Descubra agora