Dinha e Lana

Segundas-feiras são muito chatas.

Que troço chato esse lance de matriz. O professor não cala a boca. A Lana fica olhando pra onde o Humberto sentava toda hora. Ela me disse que era uma consulta, espero que ele esteja bem. Pensando nisso, hoje a minha mãe vai começar a terapia dela. A gente é da turma do fundão e, mesmo assim, a nossa média é quase um noventa. Essa escola não é a mais cara, mais é a melhor. É o que dizem pelo menos. Ensino rígido e tradicional, uniformes e essas coisas. É padrão das escolas japonesas. Nunca vi uma, mas os uniformes... até parece que tamo naquela série; Elite, só que sem todo aquele drama. O japonês que fundou essa escola já morreu há muito tempo e, mesmo assim, as coisas são do mesmo jeito. Podia mudar umas coisas. Que saco! Mal posso esperar para as férias da semana que vem. Eu vou ver o Vlad todos os dias, a Lana feliz com o Humberto, a minha mãe. Que sonho! Não! Agora é real, bem mais real que esse lance de matriz. Onde usa isso? Eu sento na frente da Lana e ela suspirando e eu também. O embalo da paixão. Que coisa brega chamar desse jeito, mas parece mesmo. Ela suspira e eu suspiro. Estar longe de quem agente gosta é foda. Daqui a pouco, é hora do intervalo do meio dia e depois, mais 3 aulas, e, casa. Acho que é por isso que essa escola é mais frequentada do que outras. Acho que os pais veem a quantidade como qualidade. Se bem que todos os professores aqui tem no mínimo mestrado. A minha mão fala que Doutor é quem tem doutorado e antes dela ter, ela pedia pra ser chamada de médica. Falando nisso, o Vlad também tem doutorado. Estranho eu chamar ele de doutor, mas vou dar uma zuada, só pra ver a cara dele. A Lana estendendo a mão pra pegar a borracha. A gente faz isso só pra sentir o toque uma da outra mesmo, nos momentos de carência ou aflição. Eu deslizo a minha mão pela dela quando passo a borracha. Eu amo essa sensação.

Como é bom o toque da Dinha na minha mão. Meu coração se aquece nesse dia que parece que algo me falta. Eu só penso no Humberto. Tomei no cu! Será que ele tá bem? Ele não falô qual tipo de consulta era. É mancada fica perguntando essas coisa. Aqueles cortes. Um cara tão de boa na sala, quase que invisível e guardando tanta coisa, talento, tristeza, coragem e tals. Mas tão perto de dá um fim em tudo. Ele num me falô o que sentia, mas eu senti. A Dinha ficô assim um tempão, mas a gente é tão próxima. A Dinha sempre ficava mal quando o pai dela ia internado e, mesmo assim, ela tava lá por mim e eu por ela. O Yellow me ajudou a dormir, eu sinto o cheiro do Humberto e isso me acalma. Esse professor num cala a boca! Isso é aula de Matemática ou História? Onde que usa matriz na vida, meu Deus! Devolver a borracha pra Dinha e sentir o toque dela. Como será que tá o Humberto?

Eu pensando na Alana outra vez! Que consulta chata! Quantas perguntas. Não consegui falar o que houve comigo, mas a médica desconfiou de algo, eu acho. O que a Alana vai pensar de mim se ela souber o que houve? Será que ela vai sentir nojo? Será que ela vai se afastar? Não posso falar isso pra ninguém, mas também não posso ficar me cortando pra aliviar a dor no meu coração. Ainda bem... que... ele num me passou... nenhuma doença. Eu me testei e tudo certo. Se eu tivesse alguma coisa, eu nunca ia deixar a Alana me beijar com a minha boca com gosto de sangue. Já me basta tocar ela com esse corpo impuro, violado. Eu quero me cortar pra aliviar a dor, mas eu preciso mudar o foco. Vou chegando em casa e a minha mãe me recebe com vergonha ainda da última noite. Eu tô meio sem graça. Não! Não foi minha culpa. Nada disso! Eu vou levantar a cabeça, almoçar e ir fazer os desenhos para a Alana! A mãe da Dinha disse pra mim comer melhor. Ela me disse muita coisa sobre nutrição e, eu quero ser forte! Depois do almoço, eu vou até o quarto fazer as minhas artes. Quanta gente pedindo arte, mas eu preciso focar em pagar a Alana. Ainda bem que ela gostou do quadro. Tenho tudo agora pra desenhar ela! Vou começar.

Acabou o dia de aula e lá está o Vlad. Nossa! Agora eu tô com ciúmes dessas piranha que fica olhando ele. Que raiva!

— Que saco, Dinha! Essa semana num vai acabá não?