Capitulo 2: Tragédia

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Tinha apenas quatro anos, era uma tarde de domingo, todos da minha família estavam muito felizes apesar da chuva fria que caia naquele novembro abatido. Meu pai sorria de um jeito extraordinário por causa da notícia de que o meu irmãozinho/irmãzinha ia nascer.

Tudo ocorria bem, mamãe sentiu algumas contrações e foi levada para o hospital. Não quero dar detalhes que me machuquem, por isso vou ser breve: mamãe, apesar de ter uma gravidez saudável, não aguentou e por conta de erro médico faleceu ao dar à luz ao meu irmão que foi batizado com o nome de Luiz Otávio (Luiz em homenagem a mamãe que se chamava Luiza e Otávio por conta do nosso avô materno que se chamava assim que morreu no fim da Ditadura Militar por fazer parte da guerrilha com o Partido Comunista).

Depois da morte de mamãe papai ficou com depressão profunda e passou a não ter condições de cuidar de mim e do irmão sozinho. Tivemos que nos mudar de Sampa (São Paulo) para Floripa (Florianópolis) onde minha avó materna Cecília ainda mora diferente dos meus avós paternos que se mudaram para São Paulo por causa da empresa deles. Fomos para lá para que a vovó pudesse cuidar de mim, de Luiz Otávio e também do Papai.

Chegando a Floripa, fomos para o sobrado da minha avó, que é uma construção enorme, uma típica casa italiana pertencida há algumas (ou até muitas) décadas ao meu tataravô que era italiano de “sangue puro” – como gostava de se chamar segundo a minha avó. Meu pai não falava, apenas olhava para mim (de acordo com a minha boa memória) com um olhar de culpa e piedade, como se sentisse o responsável pela morte de mamãe. Eu, mesmo sendo tão pequena, via que o brilho dos belos olhos esverdeados de papai havia sumido e sido preenchido por uma tristeza fosca e profunda. Seu olhar para Luiz Otavio era diferente, era de pouca raiva e ternura, de culpa e incapacidade. 

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